Capítulo 2 - Planos noturnos

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Já estava anoitecendo quando Phillip entrou em casa. Phillipa estava sentada na escada esperando ele chegar.

‒ Ele não vai vir, não é? ‒ Phillipa deduziu assim que viu o semblante entristecido do irmão ao olhar par ela, era quase como se ele sentisse pena dela. Ele tinha usado o mesmo semblante todas as vezes que dera a ela a recusa aos seus convites.

Desde que o pai de Henry falecera ele tinha se mantido distante da família. A ultima vez que tinha conversado com ele, foi durante o velório do pai dela a seis anos atrás. E até mesmo naquele dia, ele apenas prestou suas condolências e partiu.

‒ Não, ele disse que está muito ocupado. ‒ Phillip respondeu passando as mãos nos cabelos. ‒ Mas ele ficou muito feliz por ter se lembrado dele.

‒ Entendo. ‒ Phillipa respondeu entristecida por mais uma recusa, por um breve instante ela tinha tido esperanças que ele apareceria para o dia mais importante da vida dela. Mas parecia que ela não era tão importante assim para a vida dele.

Não tendo mais nada para conversar com o irmão, Phillipa subiu as escadas para o seu quarto. Lá, acendeu algumas velas para iluminar a mesinha onde costumava escrever, pegou uma pena, tinta e papel e colocou no papel o que seu coração sentia.

Querido Henry,

Muito me entristece saber que, mais uma vez, declinas um de meus convites. Me angustia em demasiado não compreender os motivos para tamanha recusa a aceita-los. Sinto que a cada negativa que me dá meu coração se quebra um pouco mais.

Tudo que eu queria era vê-lo mais uma vez.

P.

Phillipa sentiu as lágrimas quererem brotar de seus olhos, e imediatamente dobrou a carta e guardou junto com todas as outras que tinha escrito e guardado da mesma forma. Tinha dezenas de cartas escritas para ele. Cartas de saudade, de tristeza, de ódio, de solidão e de amor. Entretanto, nunca teve coragem de enviar nenhuma.

Desde que era pequena ela cultivava um forte sentimento de admiração por seu primo. Ele era o único que a enxergava e aceitava brincar com ela. Ele a protegia das outras crianças e sempre a tratava como se ela fosse uma princesa.

Seus outros primos e primas sempre estavam puxando seus cabelos, roubando suas bonecas ou destruindo os brinquedos que tinha, por ela ser a mais nova das meninas de sua família não tinha com quem brincar. Mas desde que Henry tinha aparecido, quando ela tinha seis anos, as coisas começaram a mudar. Ele sempre estava do lado dela para tudo. E ele era o menino mais lindo e gentil que ela conhecia. Não podia se culpar se tinha se apaixonado por ele quando criança.

Phillipa se deitou na cama inconformada. Ele devia uma explicação para ela. Ela merecia saber porque ele sempre estava ocupado para ela, ela não era mais importante para ele? Precisava descobrir onde o primo trabalhava, e então iria encará-lo de frente, e só sairia de lá quando tivesse uma resposta.

Phillipa se levantou decidida. Bateu na porta do quarto do irmão quando ele não respondeu ela abriu apenas para garantir que ele não estava lá. Então desceu as escadas quase correndo e abriu a porta do escritório onde ele devia estar. Para a sua tristeza ele não estava.

‒ Maldição. ‒ Ela disse entrando no escritório. Iria esperar ele ali, ele não devia demorar.

Enquanto esperava, sem ter o que fazer, Phillipa decidiu observar as coisas do irmão. Viu alguns papeis em cima da mesa, cartas comerciais, jornais, e livros de contas. Seu irmão deixava tudo sempre organizado.

Uma gaveta entreaberta chamou sua atenção. Lá dentro tinha mais cartas e promissórias, além de contas e convites. Ela folheou sem nenhuma pretensão, quando parou em um papel de cor preta, a cor escura e diferente das outras lhe chamou a atenção. Em um lado tinha escrito em letras desenhadas em tinta vermelha Rogue's e do outro lado duas palavras em tinta branca: Anjo Vermelho.

Ela já tinha ouvido falar do Clube de Cavalheiros, mas não sabia que o irmão fazia parte dele. Era um dos clubes mais conceituados de Londres, e só se entrava nele através de uma senha.

‒ Anjo vermelho... ‒ Ela sussurrou as palavras que deviam ser a senha e sorriu. ‒ Deve ser interessante poder participar de um clube.

Outro papel negro chamou sua atenção, era novamente do clube. Mas em vez de uma senha tinha uma única frase: Sexta-feira, às 22:00hs, reunião dos sócios. Não se esqueça, Lorde.

Não seria nada de mais, apenas um convite para uma reunião de sócios que provavelmente já devia ter acontecido, já que a carta estava junto com a papelada do mês anterior. Mas algo na caligrafia, no desenho das letras, chamou sua atenção, as letras eram idênticas a de Henry.

E então ela entendeu.

Ele trabalhava para o Lorde.

E com isso acreditava que era lá que iria encontra-lo. Talvez se falasse com o Lorde, ele liberasse seu primo de uma noite de trabalho. Ela poderia pagar a ele para que assim o fizesse. Uma espécie de alforria poderia permitir que ele tivesse uma noite de folga. E então ele não poderia recusar seu convite.

Phillipa voltou animada para seu quarto.

Começou a tirar o vestido na mesma hora que sua criada entrou no seu quarto para perguntar se ela queria alguma coisa.

‒ Eloá, eu preciso que você me ajude a me vestir. ‒ Ela pediu a sua criada particular.

‒ Milady, o que está fazendo? ‒ Eloá perguntou assustada. ‒ Está tarde, a senhorita não deve sair uma hora dessas, ainda mais sozinha.

‒ Não se preocupe eu voltarei logo, ninguém irá perceber a minha saída.

‒ Não pode fazer isso, Milady, se a senhora for vista lá fora, sua reputação ficará manchada, e a Duquesa sua mãe ficará furiosa. Por favor, Milady, não faça isso. ‒ A criada implorava que Phillipa não fosse imprudente.

‒ Ninguém vai me reconhecer Eloá, eu colocarei uma capa. E está de noite. Eu vou tomar cuidado. ‒ Phillipa explicou confiante que nada aconteceria com ela naquela noite.

‒ A senhorita não pode sair sozinha, é muito perigoso. ‒ Eloá suava e estava com o rosto pálido, e Phillipa percebeu que a jovem empregada teria um sincope caso ela saísse.

‒ Tudo bem, tem razão, foi uma ideia tola. ‒ Phillipa suspirou e começou a tirar o vestido. ‒ Deixarei para resolver isso amanhã durante o dia.

Sua empregada pode enfim respirar aliviada.

‒ Obrigada Senhorita. Deixe que eu guardo isso pra senhora. ‒ Eloá guardou o vestido e as anáguas dentro do baú e apenas quando Phillipa deitou em sua cama é que ela foi saiu do quarto. Mas Eloá ainda não tinha se convencido, mais tarde iria conferir se ela ainda estava no quarto.

Assim que a criada saiu, Phillipa começou a elaborar o plano para sair de casa sem que ninguém a visse. Sabia que Eloá não tinha ficado completamente convencida que ela não iria sair naquela noite. Então esperou que as horas passassem para que a criada viesse conferir que ela estava dormindo.

Passava da meia noite quando a porta do quarto dela foi aberta e Eloá entrou para se certificar que Phillipa dormia. Quando a viu deitada e dormindo voltou para o seu quarto e finalmente se entregou ao seu próprio sono.

Enquanto ela adormecia, Phillipa fugia usando a janela de seu quarto e as trepadeiras que se agarravam à parede na lateral de sua janela. Tinha colocado a luva mais grossa que tinha, pois sabia que descer pela planta poderia danificar suas mãos, e caso sua mãe visse, iria perguntar o que tinha acontecido.

Não era a primeira vez que tinha usado a velha trepadeira para descer escondido. Antigamente fazia isso para poder chegar a cozinha sem ser vista e ir comer os biscoitos que a cozinheira deixava esfriando na janela da cozinha para o dia seguinte.

Mas fazia anos que não tinha usado a janela para sair do seu quarto. Novamente por causa de Henry que a tinha feito prometer que não ia mais fazer aquilo, depois de tê-la flagrado descendo pela trepadeira.

Ele tinha ficado tão assustado com o que poderia acontecer a ela que tinha passado a tarde lhe dando um sermão e brigando com ela. Depois a tinha feito prometer que nunca faria mais nada tão perigoso.

Ela estava quebrando a promessa que fizera a ele, mas ele tinha quebrado todas que fizera a ela, então não poderia reclamar. E era por uma boa causa. 

Como Irritar um Lorde (DEGUSTAÇÃO) Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum