Prólogo

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Condado de Warrex, 10 anos atrás.

Ainda estava de madrugada, apesar do sono ele não conseguia dormir, estava de luto. Em parte, pelo homem que agora estava no túmulo, no jazigo da família, e em parte por si mesmo que agora perdia a única pessoa que ele considerava família. Apesar de ser um bastardo, seu pai o tinha criado com apreço, afinal ele era o único homem que o Conde de Warrex tinha conseguido gerar, para o repúdio de sua esposa.

Henry era filho de Eloise Willians, uma simples camareira que chamou a atenção de Lorde Henrique Howland, o Conde de Warrex, e em uma noite qualquer foi gerado no calor da paixão e do desejo. Quando soube que a empregada estava grávida de seu marido, Lady Violet Howland fez de tudo para que a mulher perdesse o bebê que era a prova da traição de seu marido. Mas para sua infelicidade, a empregada deu a luz a um bebê saudável que carregava todas as características físicas do pai, não dando margem para dúvidas a respeito da paternidade do conde.

O nascimento do pequeno Henry causou alegria ao Conde, e uma ira enorme na Condessa, que o ódio desde o momento que veio ao mundo, e sempre deixou isso bem evidente. E nem o nascimento de três filhas legitimas permitiu que a Condessa deixasse de odiá-lo.

E por isso ele sabia que logo teria que partir daquela casa. Com a morte de seu pai, ele não era mais bem-vindo ali.

­― Não quero que vá. ― Sua mãe pedia enquanto o ajudava a arrumar as coisas em seu pequeno quarto na ala dos empregados. ― Mas sei que não tem opção.

― Eu queria que a senhora fosse comigo, mas não sei nem sequer como vou me sustentar, e pelo menos, aqui a senhora tem comida e um teto sobre a cabeça. ― Henry abraçou a mãe. Seus olhos estavam cansados e suas mãos eram ásperas quando ela tocou seu rosto, mas ainda assim eram quentes e amorosas, e ele lhe beijou as palmas.

― Eu sei, meu querido. Mas mesmo que tivesse condições de se sustentar, eu não iria lhe dar o fardo de me sustentar também. Eu sabia que esse dia chegaria desde que a Condessa o olhou com ódio. E até me admira que ela não o tenha conseguido fazer antes. Seu pai o amava de verdade, do jeito dele, mas ainda assim o amava. Ele me deu alguns presentes, e eu consegui juntar algumas economias todos esses anos já pensando nesse momento. ― Eloise retirou de suas vestes todas as economias que conseguiu acumular nos últimos dezoito anos.

― Mãe eu não posso aceitar. A senhora pode precisar desse dinheiro. ― Henry rejeitou a ajuda.

― Não seja orgulhoso Henry, aceite. Você vai precisar mais do que eu. Leve com você e tenha cuidado. ― Sua mãe colocou o saco de moedas no bolso de seu filho e se despediu dele com um beijo. ― Para onde vai?

― Acredito que em Londres terei uma chance maior de conseguir alguma coisa. ― Ele respondeu.

― Tome cuidado, Londres é uma cidade grande e perigosa, me prometa que vai se cuidar. ― Sua mãe pediu preocupada.

― Eu prometo. ―Henry beijou sua mãe no rosto e em seguida a abraçou se despedindo. ― Voltarei para buscar a senhora quando conseguir me estabelecer. ― Ele prometeu antes de sair para sempre do lugar que já chamou de lar.

***

Londres era uma cidade hostil para homens comuns. Não era o lugar do sonho que todos comentavam, ela tinha um lado cruel onde qualquer resquício de inocência e bondade eram arrancados sem se importar que com eles uma vida fosse mandada embora.

Henry foi assaltado logo no primeiro dia em que chegou. Teve que dormir nas ruas e sobreviver ao frio e a fome, aprendeu a brigar apanhando e quando a noite caia ele pedia para a morte o livrar do sofrimento que a vida o infligia. Mas a morte fugia dele.

Ele mendigava para poder comer uma refeição qualquer, e todos os dias procurava emprego. Depois de meses sem nenhuma perspectiva ele conseguiu um trabalho temporário para carregar e descarregar navios. Ali começou a fazer amigos, e sua vida finalmente começou a mudar.

Era comum depois de um carregamento, os homens se juntarem no cais e jogarem cartas. Sempre apostando. Henry, no início, só observava. Percebia os movimentos das cartas, e contava mentalmente cada uma. Sempre tinha sido um homem inteligente. E talvez por isso não jogasse. Mas logo a insistência de seus amigos fez com que ele jogasse. E para o espanto de todos ele era muito bom no jogo.

Sempre fazia apostas baixas, nunca se arriscava e isso fazia que seus amigos rissem dele. Mas ele não se importava com o escárnio. Já tinha crescido com isso e aprendera a lidar com ele em seu silêncio.

Mas logo Henry percebeu que era muito bom no jogo. E que poderia aumentar suas economias mais rápido se aumentasse as apostas. E assim aconteceu. Mas quanto mais ele ganhava, mais inimigos fazia, e logo o primeiro o apunhalou pelas costas o chamando de ladrão e exigindo seu dinheiro de volta.

― Você está roubando! ― Exclamou Lorde Vincent. ― Seu ladrão miserável.

― Não o fiz, Milord. ― Henry se defendeu.

― Exijo meu dinheiro de volta! ― O visconde gritava enfurecido ao perder a quinta partida consecutiva. ― Seu ladrãozinho bastardo.

― Não o terá. ― Henry se levantou guardou o dinheiro e deixou o homem na mesa de jogo esbravejando e jurando vingança.

Ele devia ter dado ouvidos para as ameaças do homem. Pois elas logo se concretizaram. Algumas noites depois, ele foi atacado quando voltava para casa e, no meio das vielas de Londres, Henry foi deixado para morrer com uma faca nos flancos.

Mas o destino não o queria morto e naquela mesma noite seu primo, o Duque de Norfall, o reconheceu no homem moribundo.

E ali, nas portas da morte, sua sorte começou a mudar.

Como Irritar um Lorde (DEGUSTAÇÃO) Where stories live. Discover now