Minha boca deixa a sua para sentir o gosto de sua pele. Meus lábios beijam o maxilar, descem pelo pescoço e se demoram nele.

O sabor de sua pele me inebria, eu nunca tinha sentindo assim antes, nunca passamos de beijos na boca. Exceto ela que uma vez ou outra beijava minha bochecha mas nada a mais que isso.

Seu suspiro me causa tantas sensações boas, me deixa fora de mim.

A rua está vazia, só tem nós dois e todo o desejo que emana de nós.
Mas me afasto relutante porque aqui não é o lugar e porque não posso simplesmente levar ela pra minha casa. Se eu levasse estaria perdido, Pietra descobriria o quão quebrado eu estou e fugiria sem nem olhar pra trás.

Seu olhar se transforma do desejo e volta pra melancolia.

Pietra me investiga, toca meu rosto por inteiro, as pálpebras dos olhos, as maçãs do rosto, a boca na qual ela se demora.

Vejo quando se enfraquece, o corpo encosta na parede as mãos seguem para os cabelos como se estivesse procurando por controle. Respira fundo.

Tenho uma sensação ruim, uma que me faz querer morrer por completo.

- Não posso mais. - sua voz está esganiçada por alguma dor.

- Não pode o quê? - pergunto confuso.

- Não posso mais estar com você, não posso me afundar mais do que já estou. - seu olhar angustiado me machuca, dói fisicamente também. - Eu não quero mais estar com você, não quero continuar me enganando.

- Não me quer mais? - pergunto dando uns passos para trás.

- Quero, mas não posso.

- Não quer, se quisesse mesmo estaria em meus braços agora, não estaria inventando qualquer desculpa! - disparo magoado.

- Não é desculpa! - sua voz embarga, Pietra se endireita, respira fundo ao mesmo tempo que o senhor do acordeon sai de uma casa e se senta no banquinho como todas as noites.

Ele nos olha, parece notar nossa discussão e toca uma música lenta como da noite em que nos beijamos aqui.

Pietra ouve, olha ao redor como se tentasse encontrar a melhor saída.

- Se não é desculpa então ao menos me diz porque não pode ficar comigo. - peço com a voz mais baixa, abatida. - Apareceu alguém em sua vida?

- Apareceu você! - ela diz me surpreendendo. - Mas não posso continuar isso... sei lá o que temos. Não posso ficar assim.

- Não estou te entendo Pietra. - passo a mão na cabeça em sinal de preocupação. - Estávamos bem, só foi conversar com minha irmã que mudou assim!

- Não, você está enganado. - sua voz tem um humor forçado. - Ela apoiou a gente. Mas tem uns dias que estou farta disso, farta de não te conhecer, de não saber sobre você. Do que gosta, quem são seus amigos, o que faz durante o dia... Não quero ficar mais com você não é porque perdi a vontade, é porque não sei quem é, porque se esconde.

- Pietra...

- Decidi que pra mim já chega, não quero me envolver cada vez mais nisso. - ela indica nós dois com o olhar. - Eu já tenho tantos problemas, tantas coisas que não preciso me magoar mais ainda.

- Que problemas você pode ter? - me irrito, sinto raiva do mundo inteiro. - Não consegue se concentrar direito na vida perfeitinha que tem?

É aí que percebo o que acabo de dizer. O quão maldita são as palavras que eu digo. Cortam até minha alma, imagina o que faz com ela.

Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoWhere stories live. Discover now