Capítulo 18 - O filho de Antonya

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Com sua explosão de sentimentos, Antonya abraça seu diário e volta a biblioteca, o deixando na mesa da biblioteca:

- O que você quer saber? - Antonya se senta numa poltrona voltando totalmente o olhar a Madalena.

- Quem morou nesta casa depois das mulheres? - Madalena pergunta séria

Antonya solta um logo suspirando voltando o olhar para o chão

- Rodolfo era casado com Cecília... - Antonya começa a movimentar os dedos em movimentos repetitivos -  eram pais de Mariana e Sandra. Sandra era 10 anos mais nova que Mariana, mas as duas eram ótimas amigas para mim... - Antonya se emociona ao lembrar das falecidas amigas.

- Amigas? - Madalena questiona enquanto pega uma caixa de lenços que estava próxima da mesa.

- Sim, amigas... - a dentista enxuga algumas das lágrimas - Eu morava ao lado desta casa. Morava nesta casa que hoje está por ruínas.

- Sinto muito por sua casa. - Madalena procura por palavras amigáveis para usar nesse momento difícil que é para Antonya - Mas porque demoliram sua casa?

- Lhe contarei por partes. - Antonya abraça seu diário - Depois que eu lhe contar tudo, você me respoderá algumas perguntas?

- Ok!

- Rodolfo era estranho ... - Antonya começa - Ele herdou essa casa do pai. Na adolescência, ele e meu pai, eram bem próximos; estudavam na mesma escola. - Antonya começa a ficar inquieta - Meu pai dizia que nessa fase, ele se tornou muito mais estranho. Era violento, desrespeitoso com todos, exceto com meu pai.

- Prossiga.

- Porém, próximos de se formarem, eles brigaram por uma moça... - Antonya respira fundo.

- Que moça?

- Minha mãe, Joana. - Antonya recomeça - Eles brigaram de uma maneira horrenda, e nunca mais se falaram da mesma maneira. Recém casado, filho do dono de muitos terrenos e casas por aqui, Rodolfo saí da casa do pai próxima à entrada do condomínio e vem para esta, recém deixada pelas antigas moradoras. Na casa ao lado, meu pais moravam comigo.

Madalena fica apenas de prontidão a escutar.

- Me lembro que Rodolfo tinha uma filha de minha idade, Mariana. Nós brincávamos todos os dias. Mariana as vezes parecia triste; eu lhe perguntava o motivo e ela sempre dizia " meu pai, está conversando com eles de novo."

- "Eles" então não são coisa de agora? - Madalena pergunta

- Não, não são. - Madalena retoma a fala - Quando tínhamos 10 anos, Mariana ganhou uma irmãzinha; Sandra, parecia ter dado a alegria a ela. Porém quando fizemos 19, ela me contou algo que me deixou confusa:

" Meu pai fala que segue apenas o que foi deixado por eles nesta casa.

Antes de morarmos aqui, o grupo de mulheres praticava uma seita em que a grande festa é no dia de Lemuria, mas eles fazem a festa de uma maneira errada.

De uma maneira obscura. As vezes tenho a impressão de que meu pai continua esses preceitos.
No ritual, cada tipo de vida entregue em sacrifício, valia para um benefício diferente. Me lembro muito bem que a vida de um homem é para a juventude, para a construção de uma nova ordem, e a crianças, uma vida próspera.

Antonya, eu não quero morrer tão jovem."

- Quando ela me contou isso começou a cair aos prantos... - Antonya se emociona ao contar -  Tentei acalmá-la de todas as maneiras. Porém já faziam 2 semanas que ela não tinha saído de manhã para comprarmos o café da manhã como de costume, então decidi ir na casa ao lado averiguar. Na cozinha, encontrei uma grande poça de sangue que levava para as escadas; subindo-as encontro os corpos de Sandra, Mariana, e a mãe delas, Cecília. Todos suspensos por uma corda. Três  enforcamentos. As três estavam muito machucadas, que mesmo mortas... - Antonya dá uma pausa, pega alguns lenços e enxuga suas lágrimas novamente - pingando um sangue cor carmim sob aquele piso de madeira. Próximo ao corpo de Mariana, eu encontro uma carta que dizia:

" Estamos presas faz duas semanas, tememos que nosso fim esteja próximo. Rodolfo é o culpado por isso. "

-  Me desesperei porque sempre soube que havia algo errado com ele - Antonya respira fundo novamente - porém em algum momento, uma mão tampou fortemente minha boca. Me virei, era Rodolfo. Ele disse que se eu contasse para alguém, poderia acontecer algo ruim para mim. Ele toma a carta de minha mão e foge pelos fundos. Me lembro de sair rapidamente da casa e correr para meu quarto.

- Sinto muito... - Madalena pousa a mão sob o ombro de Antonya

- Obrigada. - Antonya olha para a janela - Anos depois, a seita continuou ativa, às escuras, mas continuou. Uns tios de Mariana me procuraram para ajudá-los à "purificar"; neguei com todas minhas forças, mas mesmo assim eles continuaram insistindo. Em um desses dias, minha mãe se pôs em minha frente e disse que não fariam nada comigo e com meu filho que estava para chegar.

- Filho? Você tem um filho? - Madalena pergunta

- Sim, lhe contarei isso em alguns instantes. - Antonya volta o olhar para o tapete - Depois disso, um tempo depois, Joana; inspiração dos meus dias, foi encontrada morta no jardim. Depois desse acontecimento, meu pai foi se tornando duro, arrogante... E eu perdi meu filho ainda no ventre. Edgar botou na cabeça que precisava tirar satisfação com a família da casa ao lado, desde então ele é o responsável por comandar a seita aqui em Paranapiacaba.

- Mas a morte da família não foi aos jornais?

- Sim, por uns dois dias apenas. Logo depois o acontecimento foi esquecido por todos, é como se o povo fingisse não ver... Como acontece até hoje. Para minha segurança, meu pai achou melhor sairmos da casa vizinha, então ele mandou demolir ela e nos mudamos para uma casa perto da entrada, onde atualmente é meu consultório. Aos 28 fiquei grávida novamente, porém 1 mês depois do nascimento de Mário, passeando com ele pelo centro de São Paulo; o levaram de mim. Desde então somos só eu e meu pai.

- Antonya me desculpe, mas qual é sua idade? - Madalena pergunta

- Quase 60.

- Então se seu filho estiver vivo, ele terá 32 anos?

- Ele está vivo!

Ligados Pelo Mal - Enclausurados - Livro 1 Where stories live. Discover now