Suzi Ohana - Parte I

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Uns anos passaram e aprendi a me defender. E tem outra coisa, eu nem era tão solitário assim, tinha amigas iguais a mim, as manas que cedo aprendem a se defender e que quando se juntavam, era pior que ataque de abelhas assassinas.

Me aceito, me amo e sempre imaginei que um dia, eu teria o cara certo para mim e por mim, sem que precisasse foder com todos os caras só pra me satisfazer fisicamente.

Sim, eu me apaixonei tantas vezes que nem me prendi muito quando conheci meu maridão Valdir numa pagodeira. Eu fiquei bem atiçado, lógico, um espécime daquele é de pegar e não largar mais. Naquele carnaval flertei a noite toda com ele, que sem dúvida devia ter sacado que eu era drag e até ofereceu-me carona no final da noitada.

Fora que, notei que o "pacotão da alegria" dele era enooooorme e tudo era para mim, sua Suzi...

Os três primeiros "meisinhos" de namoro foi perfeito, coisa de contos românticos impossíveis... Mas muitos homens que se identificam como héteros tem a maior preocupação quando se descobrem bi ou até gays. A luta que travam consigo é quase uma guerra, tem muito medo envolvido e muita justificativa.

Depois daquele período inicial, o Valdizão, que chegou no namoro cheio de sede, Passou a sentir-se apavorado com o que vinha de encontro a nós como casal. Ele vivia cheio de receio e tivemos até mesmo uma separação no meio disso. Mandei ele ficar um mês longe de mim e refletir, em cima do muro não aceitaria que ele ficasse. Ou me valorizava, dando uma chance a ele mesmo, me querendo como companheiro ou cada um seguiria por um caminho diferente.

Se for só pra transar que invada outro colchão.

Ele não aguentou uma semana e veio atrás, veio de mala e cuia. Ou melhor, eu fui morar com ele. Viramos companheiros como deveria ser. Tudo bem que eu passo a impressão de ser radical, mas eu tive que aprender a me defender quando era muito novo, ele tinha quase quarenta naquela época, que aprendesse a passar por cima de algumas coisas, porque a vida nunca vai ser fácil do mesmo jeito.

Isso foi lá atrás nos seis primeiros meses, que o coloquei de castigo, e quando ele voltou, começou a caminhar certinho do meu lado. Como ele mesmo diz, a vida não é um mar de rosas, nem nunca vai ser. Cada pessoa sabe o que carrega e eu sendo afeminado e travesti, sempre suportei alguns quilos a mais em minha bagagem.

Já ouvi pessoas dizendo que ser travestir é opção. Que seja, EU sou um rapaz homossexual que se sente muito feminino e gosta de vestir-se como ela. E faço exatamente isso, porque gosto, me sinto linda e poderosa, e outra: tô cagando e andando para aqueles olhares curiosos. Cuido da minha vida dentro do meu quadrado e aconselho a cada um fazer o mesmo. Cuidar da vida alheia causa desgaste e perde-se muito tempo. O meu tempo é precioso e a vida é curta demais.

Então, depois de seis meses tudo ficou ótimo? Não. Quem disse isso?

Eu tive que "podar" as asinhas do meu gavião, onde que já se viu. Sou uma dama ciumenta e caseira, logo, o macho tem que andar na linha. Quietinha sim, boba nunca!

Tenho outra pequena memória de três anos atrás:

— Valdizão, tá proibido de parar no boteco. Quem manda sou eu, oras. — Minhas amigas diziam que se eu pegasse muito no pé, o bofe saltaria fora. — Não há necessidade de beber todos os dias e ficar torrando o dinheirinho sacrificado que é tão difícil de conseguir.

— Suzi faz uns cinco meses que não piso no boteco.

— Não interessa. Eu também não vou. Direitos iguais!

— Ai minha nega braba do Valdizão, o papai respeita essa deusa. Mas só amanhã então. No bar do Zezão vai ter torneio de sinuca, o prêmio é um leitão, já pensou se eu ganho. — O maridão entra todo faceiro dentro de casa, sexta a noite, achando que vou liberar ele pra passar um sábado inteiro no boteco. Sonha. — Vai junto, minha rainha.

— Hã??? Euzinha no boteco, tá maluco? Valdizão, aqueles seus colegas ficam bêbados e começam importunar. Ah mas, não vamos mesmo, nem junto e nem separado. Se insistir, dorme na sala hoje.

— Oh minha preta, pensa no prêmio.

— Um porco? O que a gente vai fazer com um porcão de todo tamanho?

— Oh Suzi, umas morcilhas, torresmo.

— Eu não limpo nem tainha, que dirá estripar um porco.

Bem no fim, eu cedi um pouquinho, dei uma hora só e fiquei marcando no relógio. Pensa que não funciona aqui em casa? Ah, pois então. Cinquenta e oito minutos depois, meu homem já estava descendo da CG, sorrindo porque tinha conversado com os colegas e sem beber, porque o fiz ir de moto. Se fosse de bike, ele ia beber e eu ia "fechar o tempo".

É gente, isso foi tenso na época. Sei que o bofe não podia sair um dedo na linha que eu surtava a brigava, mas é porque eu tinha muito medo que ele me largasse e morria (morro) de ciúmes. Ciúmes é meu signo e nada tira a pulguinha de trás da minha orelha quando encasqueto.

Depois, passou dois anos... 

Depois, comemoramos junto com os três anos, a compra um lote onde levantamos nossa casa juntos. Digo que é a construção da vida de um casal que se dá muito bem.

Agora já são quatro anos que nos "grudamos". Valdizão me defende e segura minha mão em público. Sempre foi, carinhoso, gostoso e safado comigo entre quatro paredes do quarto, sala, cozinha, banheiro e garagem.

Ele já teve medo, hoje aceita-se completamente como sendo marido de uma drag, marido de outro macho, embora esse macho tenha se rebatizado de Suzi. Euzinha mesmo!

Continua...

***

Mini Romances - LightWhere stories live. Discover now