Ceci e Duarte - Parte II

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— Foi levar a Paola, nem gravei onde...

— Parece de plástico aquela mulher...

— Ela me trata bem, sempre foi educada comigo.

— Antes ela quase nem aparecia, foi só o portuga arrumar uma secretária, ela não sai mais daqui. Pensa que é dona do mercado... lá embaixo ela fica: "peça pra alguém recolher os carrinhos do estacionamento, ai peça ao empacotador que leve não sei o que lá no escritório, ai peça para levar um lanche para o Du, fique de olho naquele homem que entrou, olha o tipinho, no mínimo vai colocar algo no bolso, chame a atenção daquelas duas operadoras de caixa, mande conversar menos, coloque dois repositores para varrerem aquela parte do estacionamento, faça isso e aquilo".

— Ela é quase patroa...

— É nada. Eu trabalho no Empório há doze anos e posso te afirmar, ele já namorou coisa melhor. Fora que ela gosta de aparecer com um homem daquele.

— Olha Bete, ela não é ruim. É poderosa, gosta dele e depois, ele é um homem que nossa, dá calor só de olhar. Se eu fosse ela, tirando a parte de me meter na empresa, eu grudava mesmo. Ainda mais um baita gostosão igual a ele...

Sem que ambas percebessem, Duarte chegava naquele exato momento e olhou de esguelha para ambas. Era um homem sério e respeitoso, nunca havia se envolvido com funcionárias, mas teve plena consciência de que falavam dele.

Cecília nunca ficou tão sem graça em toda a sua existência. Durante a manhã e boa parte da tarde, ele pareceu meio estranho com ela, meio seco e objetivo. O que passou na cabeça da linda moleca? Será que o fato de acha-lo atraente, tornava-a menos digna de respeito?

Sim, eram coisas da cabeça dela, pois ele nada dissera e no prazo de poucos dias, tudo normalizou entre ambos. Cecília se policiou de forma dobrada, mas estava sentindo-se afastada dele e ainda achando que cometera um delito terrível ao elogiá-lo.

— Fiquei toda sem graça naquele dia, Carina. Tenho certeza que ele ouviu.

— Nem ligue, guria. Ele talvez ouviu aquela parte da conversa onde a sua ex chefe falou da tal da Paola. Porque você o chamou de gostoso?

— Porque ele é.

— Ceci... Ceci...

Ambas tinham prontas muitas decorações que faziam por encomenda, desde quartos infantis até almofadas para cama e sofá, colchas, bonecas e bichos. Carina já estava correndo atrás de uma sala em um ponto comercial onde tivessem visibilidade e que pudessem pagar. Era questão de tempo até que elas pudessem se concentrar apenas no seu projeto.

Para Cecília, aquilo pesava um pouco, pois gostava tanto de ser funcionária de Duarte e ele demonstrava ter muito carinho por ela. Cecília se pegava pensando nele quando ia para casa de ônibus e percebeu que estava gostando dele. Ia sofrer e isso era algo tão certo quando dois e dois, são "vinte e dois".

— Ô... manda um menino me trazer uma água com gás bem gelada, eu estou na sala do Du. Manda alguém passar um pano aqui em cima no escritório,  você é mulher tem que ver essas coisas.

— Paola, eu chamei a Terezinha na sexta feira e ela não veio.

— Sim, desde sexta-feira e você não foi capaz de passar um pano aqui em cima.

— Olha eu tendo tempo, passo sim, até varro, mas eu tinha muita coisa pra fazer.

— Que coisa? Antes o Alex dava conta de tudo e não era tudo tão encardido assim.

Cecília segurou a língua, porque não sabia o quanto de autoridade a namorada do patrão tinha na empresa. Martelou por dias em sua cabeça a palavra "encardido".

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