- Claro que não, eu vou até o final - Aline tentava disfarçar o medo, porém sem sucesso.

- Tá, vamos sentar ao redor desse tabuleiro - Camila apagou a luz e sentou no meio de Gabriel e Paula. Logo depois pegou o isqueiro e acendeu as velas, iluminando minimamente o quarto.

- Admito que meu coração deu uma acelerada agora - Gabriel fala e em seguida ri acompanhado pelas amigas.

- Bom, aqui tinham umas instruções, mas a maioria está apagada. O que sei é que não podemos deixar o espírito levar esse ponteiro para fora do tabuleiro, se não ele foge e possui um de nós - Camila explica ao grupo e coloca o ponteiro de madeira e vidro no meio do tabuleiro. Os quatro colocam o dedo indicador na beirada de madeira do ponteiro.

- Me chamo Camila, estou aqui reunida com Paula, Gabriel e Aline e gostaríamos de saber se tem alguém aqui - Camila começa o jogo e espera alguns segundo até que as chamas das velas tremem um pouco e o ponteiro começa a se mexer e para em cima da palavra "sim", em seguida volta para o meio do tabuleiro.

- Ah gente, para. Quem tá mexendo isso? - Paula olha pros amigos, não acreditando no que tinha acontecido.

- Creio eu que se mexeu sozinho - Camila fala com brilho nos olhos.

- Você que se encontra aqui com a gente, é um espírito do bem? - Gabriel pergunta, interessado por aquele jogo. Alguns segundos de espera se passaram e eles ouviram barulhos fora do quarto, logo depois o ponteiro andou até a palavra "não".

O coração dos quatro amigos acelerou e parecia que iria sair pela boca. Se o espírito realmente for do mal, eles estariam correndo perigo. Quem sabe o que eles poderiam sofre ali?

- Eu não Quero mais brincar disso - Aline tinha os olhos cheios de lágrimas, o medo tinha a consumido por completo.

- Deixa de ser frouxa - Paula olha para Aline e a provoca, a fazendo continuar.

- Você poderia nos dizer o seu nome? - Camila continuou com as perguntas. O ponteiro começou a se mexer entre as letras "C","R","I","S","T","I","A","N","O","A",L","C","A","N","T","A","R","A".

Nesse instante todos ficaram parados, parecendo estátuas, e calados. Cristiano Alcântara foi um assassino cruel que em mil oitocentos e noventa e oito, numa noite de Halloween, matou e esquartejou mais de vinte crianças ali naquela mesma casa onde eles jogavam agora. O homem não foi visto desde então. Seu nome tinha se tornado um medo para todos, há quem diga que um dia ele voltaria para buscar mais crianças.

- Gente.. - Gabriel finalmente quebrou o silêncio - esse não é o... - seus pensamentos ficavam cada vez mais embaralhados devido ao medo.

Uma menina aparentando ter nove anos de idade, loira e de olhos azuis, com roupa de bruxa apareceu do lado de Paula. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela oscilava, uma hora ela estava normal e no outro seu corpo estava repleto de ferimentos e sangue.

- Corram - todos conseguiram ouvir a voz dela em meio ao choro. No segundo seguinte ela saiu correndo pelo quarto e sumiu.

Vozes de crianças começaram a ser ouvidas, todas elas choravam, gritavam e falavam: "corram". Os quatro se levantaram e ficaram juntos, tudo aquilo os estava aterrorizando e eles não conseguiam por os pensamentos no lugar para poder pensar o que fazer.

- Acho melhor sairmos daqui - Gabriel falou e logo começou a correr em direção a porta, seguido pelas meninas, porém ao tentar abri-la percebeu que estava trancada e que eles estavam presos ali.

Sem que eles vissem um vela caiu no chão e rolou até a cortina, colocando fogo na mesma. Depois de alguns segundo eles ouviram o barulho de algo caindo e ao olharem para ver o que tinha sido, o ponteiro estava caído no chão bem longe do tabuleiro. Nesse momento todos se olharam e era perceptível o terror em seus rostos.

- Não acredito que isso está acontecendo - Aline falou se afastando, seu corpo estava tremendo.

Algo começou a bagunçar todo o quarto; a cama foi arrastada e o lençóis jogados no chão, os livros junto a papéis que estavam em cima da escrivaninha voaram pelo quarto, as portas do guarda roupa foram abertas e as roupas que estavam ali dentro foram jogadas no chão.

- Socorro, socorro! - Aline começou a bater na porta e a gritar, esperançosa de que alguém a ouviria e a ajudaria.

Camila começou a se sentir mal, seu estômago doía e a deixava enjoada. Seu corpo começava a suar e sua visão começava a ficar turva, ela enxergava tudo rodando e embaçado. Ela sentia seu corpo começar a ficar cada vez mais fraco e logo caiu desmaiada.

- Camila! - Paula foi até a menina e se abaixou - não, não. Acorda - ela balançava a amiga na tentativa de fazê-la acordar.

Camila abriu os olhos, porém eles estavam totalmente pretos e pareciam estar sem vida. A expressão de um psicopata tomava conta de seu rosto. Não era mais a mesma Camila que eles conheciam, algo tinha mudado.

- Camila? - Paula perguntou receosa.

- Ela não se encontra mais conosco - a voz de Camila estava diferente, como se fosse a mistura da voz de um homem com a voz de uma menina.

- O que você fez com ela? - Paula empurrou o corpo da amiga e saiu correndo.

- Isso não importará, logo todos vocês estarão mortos - Camila levanta como se seu corpo estivesse mais leve, quase como se pudesse voar, e corre em direção a Gabriel segurando-a pelo pescoço - vamos começar por você.

Aline e Paula correm para a janela e começam a gritar desesperadas enquanto batiam no vidro. Camila aperta com força o pescoço de Gabriel, arrancando a cabeça dele fora e espirrando sangue pelo local. Ela joga o corpo do rapaz no canto do quarto e corre em direção a Paula.

- Não, por favor! - Paula grita ao sentir uma mão puxar seus cabelos e a jogar no chão. Camila começa a rir freneticamente e começa a arranjar profundamente o corpo da amiga com as próprias unhas, fazendo-a gritar de dor.

- O gosto do seu sangue deve ser maravilhoso- Camila levou a boca até a orelha de Paula e depois de sussurrar no ouvido da menina, mordeu a orelha da mesma e a puxou com força a arrancando e fazendo com que sangue começasse a sair por ali sujando ainda mais o chão - delícia - a boca de Camila estava repleta de sangue enquanto ela mastigava aquele pedaço de pele e cartilagem.

- Por favor não me mata - Paula suplicava, o medo da morte a consumia por inteiro.

- Desculpe, seu pedido não pode ser atendido - Camila volta a rir e com a amiga ainda viva começa a arrancar os membros da mesma, fazendo-a gritar ainda mais alto de dor. Assim que terminou correu em direção à Aline, porém a menina tinha conseguido quebrar o vidro da janela e antes que Camila pudesse pegá-la, pulando para o lado de fora.

Aline bateu com a cabeça no chão e morreu na mesma hora. Uma possa de sangue começou a se formar em volta de seu corpo. Camila permaneceu parada na janela olhando o corpo de Aline já sem vida e depois de alguns minutos saiu da casa e continuou andando. A menina nunca mais foi vista e até hoje todo Halloween três crianças morrem e uma desaparece.



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