Jonathan Berger em nada se parecia com sua esposa. Era mais jovem que Valerie, mas parecia alguns anos mais velho. Era um pouco rechonchudo e tinha a barba por fazer, e parecia alguém muito amigável — o que contrastava com a aparência desgostosa da esposa. Era calvo, com apenas alguns fios formando um anel ao redor da cabeça. Visto apenas por um breve instante, poderia se ter a impressão de que Jonathan era um homem muito legal.
É claro que, por telefone, Lawrence e Eric não poderiam ter essa impressão.
— Por que você quer falar com ele agora? — Olivier não se cansava de perguntar isso. Nos oito minutos e meio que se passaram entre o suspense feito pelo detetive e a ligação que estava sendo feita, o funcionário havia repetido estas mesmas palavras exatas cinco vezes.
— Por dois motivos — respondeu Lawrence, segurando seu celular próximo ao ouvido. — Temos que dar a ele a notícia e fazer algumas perguntas.
Jonathan ainda não havia recebido a notícia de que ficara viúvo, a não ser que "ele fosse o assassino", como supôs Knopp. Olivier assegurou-lhe que o homem nem sequer havia embarcado no Splendor.
— Entendo o primeiro motivo — respondeu —, mas o que pode ele ter a ver com a morte da esposa?
— Quando alguém sai em viagem, leva não apenas malas e bagagens, mas também seus hábitos e idiossincrasias, que não passa de uma palavra diferente para "hábitos". E quem melhor para conhecer os hábitos de alguém do que seu marido?
— A própria pessoa, talvez?
— É tarde demais para isso — disse o detetive, enquanto o irritante som de chamada se substituía por uma voz grave. Lawrence fez um sinal para Eric se calar e prestou atenção em seu telefone.
Sr. Berger havia atendido.
— Alô.
Knopp entregou seu celular ao companheiro, que reagiu com uma expressão de "o que está fazendo?" No entanto, pegou o aparelho sem protestar.
— O senhor é Jonathan Berger? — perguntou. A voz respondeu afirmativamente. — Aqui é do navio Splendor. Temos uma notícia ruim para te dar. É sobre sua esposa.
O viúvo hesitou por um momento.
— Valerie? O que tem ela?
— Peço que não se desespere, acontece que houve um imprevisto... Como eu posso dizer? Aconteceram algumas coisas, estamos cuidando disso...
Eric não sabia dar notícias tristes. Lawrence tomou o celular de sua mão e colocou em viva voz.
— Sua mulher morreu.
Ele era ainda pior que Eric.
O marinheiro olhou feio para o detetive.
— Valerie morreu? — O homem estava incrédulo. Era uma pegadinha, tinha de ser. Infelizmente, não era.
— Suspeitamos de suicídio — disse o marinheiro.
— Assassinato — opinou Lawrence.
Eles decidiram não discutir. Não com o marido da vítima ouvindo.
— Oh, não. — Jonathan respondeu. — Val nunca se suicidaria. Ela... Ela não faria isso. — Pausa. — Por favor, me digam que foi um engano.
Lawrence balançou a cabeça em negativa, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
— Não sabemos a causa nem o motivo da morte, mas, se puder responder a algumas perguntas seria de grande ajuda para nós.
Foi possível ouvir uma cadeira rangendo ao ser obrigada a suportar o peso de Jonathan. A notícia fora um choque para seu frágil coração. Law não queria ter de forçá-lo a viver isso, mas não tinha escolha.
— Qual era a profissão de Valerie?
O homem deveria estar com o rosto coberto de lágrimas, e tentando em vão enxugá-las.
— Minha esposa era... — Fungou. — Colunista de uma revista. — Fungou de novo. Por que ele estava ali respondendo àquelas perguntas? Não havia acontecido nada, Valerie estava bem, tudo era um grande mal entendido... Mas a cada pergunta suas esperanças diminuíam, e o viúvo começava a se convencer de que era, de fato, um viúvo.
— Que revista?
— Primor.
Lawrence assentiu e deu um passo para trás, deixando Eric fazer as perguntas. Ele nunca havia interrogado alguém, não sabia que perguntas deveria fazer. Decidiu optar pelo óbvio.
— Sabe se sua esposa tinha algum inimigo?
— Oh, não, creio que não — respondeu o sr. Berger, com a voz anasalada. — Muita gente não gostava dela, mas não a ponto de... — Ele optou por não completar a frase. Acreditou que tivessem entendido.
Eles haviam entendido.
— Por que Valerie decidiu fazer esta viagem?
— Ela disse que... Que ia visitar o irmão Christophe. Fazia tempo que eles planejavam essa viagem, mas só este ano comprou as passagens. Foi o que ela me falou.
Eric olhou para Lawrence, dizendo sem dizer de verdade: "Valerie tinha um irmão". O detetive assentiu, mas não fez qualquer outro movimento.
— Você conhece esse tal Christophe? — perguntou Eric ao viúvo.
Jonathan não ouviu, perdido em devaneios. Somente após duas ou três chamadas de atenção o homem voltou à realidade. Pediu para repetir a pergunta.
— Não cheguei a conhecê-lo — contou. — Bem que eu gostaria. Parece ser uma boa pessoa.
— Por que não veio junto de sua mulher?
— Tenho enjoo de barcos.
Eric estava cogitando se devia comentar que a própria Valerie Berger também deveria se sentir mal em veículos em movimento quando Lawrence apareceu por trás e sem avisar tomou o celular da mão do marinheiro.
— Sua esposa lavava suas próprias roupas?
Olivier estranhou a pergunta. O viúvo mais ainda.
— Hã... — Ele não sabia o que aquilo tinha a ver com as indagações anteriores, ou com o fato de sua mulher estar morta, mas ele decidiu não elevar a voz para um suposto detetive profissional. — Sim. Por que quer saber?
— Valerie morreu após as nove horas da noite de ontem — revelou o detetive. — Temos de voltar à investigação. Tenho um bom dia, senhor Berger.
E desligou.
Eric tentou formular frases coerentes que expressassem sua confusão, mas as únicas que conseguiu criar estavam repletas de hããns e quêês. Lawrence sorriu diante do espanto do colega.
— Você tem acesso às câmeras de segurança do navio, não tem? Por favor, diga que sim.
Olivier piscou.
— Não, mas...
— Vou ter que pedir ao capitão, então — lamentou-se o detetive. — Mas ele deve permitir sim. Parece ser um cara gente boa.
— Como você fez aquilo?
Lawrence olhou para ele.
— Ué... Pensei que estivesse óbvio.
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Tragédia no Sétimo Mar - Série Law [DEGUSTAÇÃO]
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