Capítulo 6

3 0 0
                                    


Meus olhos se abriram com dificuldade. Vi uma grande sobre eles de maneira desfocada e por um instante pensei em estar habitando um outro plano que não fosse a realidade humana.

Aos poucos fui recuperando meus sentidos e me dando conta de onde estava. Acordei dentro de um quarto de hospital com a minha mãe desesperada ao meu lado fazendo inúmeras perguntas. Estava tão nervosa quanto eu naquela maca com a sensação de ter apagado uma parte da história em minha mente. Seu estado enérgico quase me provocou um segundo mal súbito por não conseguir compreender o que de fato estava acontecendo se a minutos atrás eu estava no estacionamento do meu trabalho em uma briga ferrada e do nada desperto nesse ambiente peculiar a morte. Preocupei-me imediatamente se a essa altura ela estaria sabendo de todo o fato ocorrido, se por ventura ela tinha noção do fim do casamento e entrei em pânico. O que acabou me aliviando foi que ela não parava de me perguntar do porque a Rebeca não atendia aos seus telefonemas e aquilo me aliviou. Se minha ex-mulher não a atendia não teria como saber do ocorrido, a não ser que...a não ser que ele...

- Felipe?! Como está o Felipe? – perguntei quase saltando da maca, temendo que a força do meu ódio pudesse ter ido longe demais levando-o ao óbito.

- Eduardo, meu filho, o que aconteceu? Estou ligando há horas em seu apartamento e no celular da Rebeca e ninguém me atende. A secretária do seu trabalho ligou para meu restaurante eu fiquei sem chão! O que você fez? Quem é aquele homem? – perguntou minha mãe aflita se aproximando do meu corpo quase que imóvel na maca.

- O rapaz que estava estirado no chão com você está bem, fique tranquilo. – disse a enfermeira que entrava no quarto com uma expressão de poucos amigos carregando uma prancheta na mão e verificando se faltava muito para o soro terminar de invadir as minhas veias. - Ele ficará em observação por alguns dias.

- Alguns dias? Mas porque tantos dias assim, no plural? – perguntei assustado.

- Bem, ele sofreu uma forte lesão próxima a cabeça, é necessário ficar em observação e repetir alguns exames de ressonância, mas o pior já passou. Agora, mantenha calma ou terei que seda-lo novamente. E você mãe – disse ela voltando seu olhar para a Dona Adália de maneira séria - Deixe-o a sós, ele precisa descansar. Logo receberá alta e terão tempo suficiente para colocar o papo em dia.

Apesar de todos os pesares fiquei mais aliviado por dois motivos: primeiro por ninguém ter encontrado a Rebeca e segundo que o tatuado, apesar de tudo, estava vivo e assim eu não corria o risco de ser preso.

Antes que eu pudesse voltar para o meu apartamento tive que relatar na delegacia sobre o fato ocorrido e responder por lesão corporal. Nada mais animador do que sair de um hospital com sua mãe fazendo várias perguntas e você ter que ir em uma delegacia, e escoltado por uma viatura só para ter certeza de que seu caminho não seria desviado. Já tinha tudo planejado em minha cabeça, e o que contei para minha mãe no percurso foi o mesmo que relatei na justiça.

Obviamente que não mencionei o real motivo, apenas omiti os fatos e camuflei dizendo que descobri a traição da minha mulher, que agora era ex, com um colega de trabalho. Era só mais um depoimento de um maluco tomado por ódio e ciúmes, nada que uma multa salgada não resolvesse e colocasse um ponto final naquela história.

Creio que o grandão tatuado acabaria concordando com o relato, apesar dele ser gay e ficar todo esse tempo demonstrando tamanha atração pela minha pessoa, ele não era completamente assumido. Tinha um nome para zelar dentro da companhia aérea do avô que se mostrava ser extremamente conservador no pouco contato que acabei criando. Talvez ele tivesse um pouco mais de audácia do que eu, isso era claro, porém era tudo consumado na penumbra. Duvido que teria a coragem de relatar na frente do delegado que a agressão foi motivada por uma paixão não correspondida por um homem.

Ela, E Eu?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora