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Da porção de terra onde eu estou até as primeiras fileiras de bambu do outro lado, dá mais ou menos uns dois metros, mas aqueles dois metros fazem minha mente viajar, vocês sabem, o medo faz agente ver coisas e eu juro que posso ver aquele animal lá embaixo, bem no meio do caminho, como se ele raciocinasse como eu e soubesse que preciso passar por ali. A sensação é horrível! Você só vê a morte de varias maneiras, mas respirando fundo, tive a ideia de comprovar se aqueles bambus estavam firmes o bastante, afinal, se eu pulasse lá e caísse de nada adiantaria, ainda poderia estar tocando o sino do almoço, sabe-se lá para quantos convidados! A ideia consiste de forçar os bambus com a lança, para ver o quanto podem me segurar no alto e para minha surpresa, eles parecem tão firmes como uma arvore, eu nem consigo move-los de forma alguma. Depois de guardar a lança na alça, eu pulo tentando me agarrar o mais alto que posso. Nossa! Escorrega muito! Por mais que eu tente subir parece que sou puxado para baixo, fora os mosquitos que só consegui notar nesse momento me picando, só porque eu não posso fazer nada para mata-los. Me sinto lutando pela vida, tentando chegar ao topo de um pau de sebo. Inevitavelmente caí na água e mesmo após tocar os pés na porção de terra submersa, não me sinto nada seguro, me abateu imediatamente aquela sensação de perigo, tratei de nadar o mais rápido para o local onde estava antes e aquele maldito jacaré quase me pegou. Ele se ergue das águas como se quisesse mostrar quem manda no pedaço, depois sacode seu corpo de um lado para o outro movendo a sua cabeça, parece negar algo, talvez me diga que não há como escapar. Ele vem em minha direção bem lentamente, eu estou desesperado, olhando tudo ao meu redor, sinto que podem haver dezenas como ele nesse lugar maldito, nessa armadilha natural onde eu cai e provavelmente ele também. Com a minha lança na mão e o instinto de sobrevivência, a qual manteve a nossa espécie humana existindo na Terra até os dias atuais, o ataco batendo de cima para baixo na sua cabeça. Com certeza o bambu não é forte o bastante para vazar o seu couro, então me foco em bater nele apenas para assusta-lo. Com muita sorte consigo acertar em um de seus olhos, rapidamente ele vira-se para trás e desaparece nas profundezas daquela água suja. Eu sei que tenho pouco tempo, eu tenho que aproveitar enquanto seu olho ainda está doendo, então tiro minha calça jeans e a rasgo bem onde era o feixe do zíper, pensei que nem ia conseguir, mas tirei forças de algum lugar para isso e depois rasguei as duas pernas bem na costura, formando quatro pedaços longos. Amarrei dois pedaços e fiz uma espécie de cinturão, mas não amarrei a outra ponta, eu apenas enrolei na cintura e os outros dois pedaços eu os amarrei de lado, na alça improvisada, assim como minhas botas e meias. Respirei fundo bem lentamente, e lá vou eu, tentar pela segunda vez subir nos bambus que estão a poucos metros de distancia. Desta vez eu consegui me segurar, cruzei firme as minhas pernas em um dos nódulos dele, assim consegui ficar parado por tempo o bastante para fechar o nó do cinturão improvisado envolta do bambu, com isso bastava eu fazer peso levemente para trás e a pressão na calça, praticamente não deixava meu corpo escorregar mais. Dessa forma consegui subir nódulo por nódulo, até uma parte onde ele começou a se envergar lentamente, aquele era o limite que eu podia subir com segurança. Os mosquitos não davam trégua, cada tapa que eu conseguia dar eram dezenas e dezenas mortos na minha mão. Resolvi descer um pouco e com auxílio dos outros dois pedaços de jeans, mais o celular que amarrei na ponta, lacei outro bambu, o trazendo mais próximo possível de mim e após me arrumar bem para não deixar cair nada, me lancei nele e assim fiz por diversas vezes.

Preso no Fosso - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora