EXTRA: Os dias em que revivo o passado.

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Sabe quando você está lendo, e de repente cochila e acorda dois segundos depois com o livro caído na cara? Aquele pequeno instante decidiu o meu futuro e o da mamãe. O rapaz dormiu, estava avançando num cruzamento onde eu estava passando, e eu não fui capaz de desviar porque meus reflexos estavam porcos.

E eu me arrependi de ter me permitido tomar álcool, foi o único pensamento que me atingiu antes de desmaiar."

Depois de tomar o café da manhã, arrumei minha mochila, brinquei com Damon por dois minutinhos de coçadinha - Tae que inventou essa brincadeira - e saí adiantado, satisfeito com isso. Olhei para a porta de Yoongi de relance, mas estava fechada.

Lógico.

Chamei o elevador e enquanto esperava, voltei às lembranças.

"Nós chegamos no pronto socorro. Eu acordei grogue, e estava numa maca, no meio de uma ala. Um monte de pessoas passavam por mim, mas eu não estava entendendo direito, até que aos pouquinhos comecei a lembrar de cada parte, desde eu chegando da festa alto no interior até aquela hora. Eu tinha batido o peito e fraturado as costas de leve. Era só um incômodo. Soube que minha mãe bateu a cabeça e também perdeu a criança.

Não é explicável. Não tinha palavras que descrevessem o que eu estava sentindo naquela maca, com uma dorzinha nas costas, enquanto minha mãe sofria as consequências da minha imprudência.

Eu chorei sozinho, sentindo a cada soluço minhas costas repuxando. Eu merecia aquilo, mas eu merecia mais do que aquilo. Não é irônico que nada tenha acontecido comigo? Eu só conseguia pensar na minha mãe sozinha numa sala, me odiando, sem o seu nenê que ela tanto queria.

Mas a vida não ia me deixar sair impune. O anzol foi cravado na minha pele naquele dia, e eu fui puxado muitas vezes até eu respirar novamente.

Minha mãe não conseguia se lembrar de mim. Eu fui medicado, tive a liberação para vê-la enquanto meus exames não saíam, e quando cheguei em seu quarto, ela me olhou diferente. Eu não fui odiado. Fui esquecido."

Cheguei na empresa e me troquei. Meu horário hoje era até as três da tarde. Eu só tinha que dar aulas prolongadas - até às sete, na quarta e na quinta.

Cumprimentei as pessoas com um oi geral e tentei entrar na música. Enquanto dançava, continuava a repassar mentalmente aquele dia sombrio.

"Ela me perguntou quem eu era. A dor nas costas sumiu. O arrependimento sumiu. Por pouco tempo, é claro, mas sumiu naquele instante. Eu só fiquei com uma dorzinha aguda, que irradiava dor para todos os meus órgãos, e todos eles ardiam de nervoso.

Eu achava que fosse ter um choque mental, que fosse perder a cabeça.

E eu perdi, de certa forma.

Meus cabelos castanhos tapavam meu choro, e eu não a abandonei até papai chegar, mas ele não queria me ver por enquanto, então eu fui pra casa e me preparei pra voltar pro dormitório da faculdade.

Depois de uma semana, meu pai disse que ela se lembrava de mim. Eu fui lá, mas percebi que não era sempre que ela me reconhecia. Então eu pintei o cabelo de rosa, para que ela me reconhecesse como sou hoje e esquecesse o Park Jimin do passado, o que matou o bebê dela."

Cheguei no condomínio exausto. Mental e fisicamente. Nem sei se fechei o portão do estacionamento quando entrei. O dia não rendeu hoje, eu nem lembro como foi a coreografia e se os rapazes pegaram.

Ás vezes eu sou o Jimin. Às vezes eu sou filho dela. E é um dos motivos pelos quais não volto pra lá.

Quando cheguei no meu andar, dei de cara com a minha porta e a porta do meu vizinho. O tapete preto que dei para ele continuava ali, então eu bati em seu apartamento sem pensar.

Quando percebi o que tinha feito, olhei pra baixo desesperado, esperando encontrar as roupas de dança e meu corpo pegajoso.

Mas eu tinha tomado banho antes de sair da Bighit, como eu sempre fazia.

Suspirei aliviado no mesmo momento em que Yoongi girou a chave. A porta abriu e ele estava com o cabelo preso num tufinho, roupas de basquete e os olhos semi cerrados, irritadiços.

— Yoongi-ah, você pode ir comigo num lugar por favor?

E eu não sei o que foi que o convenceu, mas ele me olhou, piscou algumas vezes, mordeu os lábios e assentiu.

Eu devia estar mesmo uma bagunça pra ele ficar com pena de mim.







N/A: Vocês gostaram de ler em primeira pessoa? Eu acho que escrevo melhor em primeira, viu?! Falem o que acharam pra eu saber se posso repetir a dose. Capítulo 16 no ar em breve! 🚴

Pantera ▫ pjm+mygWhere stories live. Discover now