Mudança de planos

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Pov Camila




Final de ano era sempre uma correria, mas era a época do ano em que eu mais tinha disposição para trabalhar.

Já havia me inscrito para receber um intercambista em casa, Lorenzo estava eufórico e eu preocupada. Dar conta de um adolescente já era difícil, imagine de dois? Deixei claro que minha preferência era por um garoto, afinal queria um companheiro para meu filho e não uma namorada. "URGH" não quero nem pensar quando essa época chegar.

O mês de dezembro passou voando e logo estávamos no natal, e como sempre foi aquela bagunça, toda a família reunida. Meus amigos e amigas estavam presentes assim como Normani, Dinah e Ally.

Normani é uma obstetra, foi ela quem realizou o meu parto e de Lauren, elas eram amigas na faculdade, melhores amigas se querem saber, mas após a ida de Lauren para o Brasil ela não manteve contato com ninguém, Ally também era amiga das duas, era pediatra e ela que sempre cuidou do meu filho até os 12 anos de idade.

- E então Mila, conseguiu se inscrever para receber o intercambista? - Ally perguntou parando ao meu lado.

- Consegui sim, mas houve um problema e o garoto que ficaria em minha casa teve que ser direcionado a uma outra casa, e eu terei que receber uma garota de 14 anos.

- Ih vai ganhar uma norinha? – Dinah veio fazendo piada.

- É disso que eu tenho medo, já estou roendo as unhas de preocupação.

- Mas você não disse que sua preferência era por um menino, achei que estivesse tudo certo.
- Sim mas a família Ray é evangélica, e tem apenas um filho e aparentemente a religião deles não permite.

- Não tenho outra escolha, não posso destruir o sonho da garota e fazer ela esperar até o próximo semestre.

- Mas Lorenzo é um bom garoto, vai saber se comportar com a garota.

- Eu já conversei muito com ele, mas ele toda hora me pergunta " Mãe será que a garota é gata? " Sei que é para me irritar, ele é igual a mãe, mas estou preocupada.

- Agora é esperar para ver como vai ser. – Dinah disse com a voz preocupada, pois depois da partida da minha filha eu não tive contato com uma garota, e terei que conviver e cuidar dela enquanto estiver sob minha responsabilidade.


POV Lauren.



O natal e ano novo passou sem muitas emoções, houve nossa festa em família, mas tudo muito calmo e tranquilo.

Olivia quis ir à praia de Copacabana ver a queima de fogos, levamos Champanhe, e brindamos lá a meia noite.

Os dias passaram muito rápido e hoje seria o dia em que eu me despediria da minha menina, claro que eu não ficaria 3 anos sem vê-la, tenho férias a tirar e destino certo quando chegar a data.

- Boa Tarde senhora Morgado, acredito que a senhora tenha sido informada das mudanças. – O responsável pela agencia falou logo após apertar minha mão.

- Que mudanças, não fui informada de nada. – Respondi já preocupada e Olivia já ficou atenta ao meu lado.

- Houve uma confusão e a família Ray não poderá receber sua filha, pois eles têm apenas um filho e não recebem meninas por conta da religião.

- Ótimo, então encontraram uma casa com uma garota para minha filha? – Perguntei animada.

- Na verdade a família que receberá sua filha também deu preferência a um menino, pois possuem apenas um filho.

- De qualquer forma vai ter um adolescente cheio de testosterona rodeando minha filha? – Perguntei contrariada.

- MÃE! – Olivia falou ao meu lado, estava vermelha.

- Ok desculpa filha, qualquer sinal já sabe né? Me liga que eu vou lá e corto fora. – Falei e pisquei para ela que ficou mais vermelha ainda.

Ficamos cerca de 40 minutos conversando com o homem, e infelizmente a hora de me despedir da minha filha chegou.

- Mãe eu vou ficar bem ok? – Ela falava pela décima vez.

- Promete que vai me ligar todo dia? – Perguntei.

- Mãe não exagera. – Ela revirou os olhos.

- Aumento o limite do cartão e vou tentar não a controlar tanto. – Fiz a proposta.

- Mãe não precisa aumentar nada, ligar é demais e muito gasto, mas prometo conversa por Skype toda noite, afinal também vou morrer de saudades. – Ela disse com os olhos marejados e se jogou em meu colo.

- Ótimo filha. - Eu disse abraçando e beijando demoradamente seu rosto.

- Te amo mãe. – Ela disse e eu dei um último beijo em sua testa.

- Também te amo minha filha. – Disse por fim e ela foi em direção ao corredor de embarque.

Então era isso, minha filha estava saindo debaixo das minhas asas onde passou tão pouco tempo, e estava seguindo seu sonho de estudar no exterior.

As coisas poderiam ter sido muito mais fáceis, passei tanto tempo enfiada no trabalho e perdi a infância de minha filha e o início da adolescência.

Tive que tomar um choque de realidade para perceber que minha filha precisava de mim, e precisava da minha presença na vida dela.

2 anos atrás

- Você não vai participar da festa de dia das mães do colégio esse ano ? - Ana amiguinha de minha filha perguntou.

- Não. - se limitou a responder.
- Mas por que? Você sempre falou em todas as festas.

- Do que adianta falar bem para as mães dos outros enquanto a minha está com a cara enfiada no trabalho e nem lembra que eu existo ? - E de trás da porta pude ver uma lágrima solitária em seu rosto.

- Isso é bom, um choque de realidade para você Lauren, ela é sua filha e sente sua falta. Encher a garota de presentes, de celular caro e todas essas coisas não é suficiente, ela tem 11 anos está entrando na adolescência e precisa de você. - Minha irmã de 19 anos falava.

La estava eu com 35 anos levando sermão da minha irmã de 19, mas eu não tinha o que questionar, ela estava certa. Eu teria que mudar isso. Minha irmã convenceu Olívia a participar da apresentação, e eu me comprometi a comparecer.

E lá estava eu na primeira fila, e nada me deixou mais feliz do que ver o sorriso deslumbrante que minha filha deu e os olhos cheios de lágrimas ao me ver ali, fiz questão de desligar o celular permanecendo apenas com o bipe ligado, pois só me chamariam ali em caso de extrema urgência.

E foi aí que eu percebi que para ela o que realmente importava era eu estar ali presente. E desde então faço questão de estar sempre junto, ajudo nos trabalhos e deveres do colégio, estou presente em todas as reuniões o que lhe rendeu alguns puxões de orelha e a satisfação dos professores.

" É eu realmente vou sentir falta do meu pedacinho do céu."

Continua...

When There's LoveWhere stories live. Discover now