Décimo primeiro capítulo

2.2K 135 0
                                    

Eu me encontrava confusa, perdida em um um lugar vazio e desconhecido por mim. Parecia ser um campo... Usava um vestido branco, comprido e os meus cabelos estavam contra a forte ventania. Não sabia o porquê de estar lá ou como fui parar lá, eu só sabia que... o céu estava nublado, tempestuoso, carregado de raios e trovões. Não espera, mais tenebroso que isso: estava cinzento, de uma cor quase tão escura quanto as trevas.

E no céu, as nuvens gigantes com feições ranzinzas e vozes grossas, brigavam. Eu não sabia qual era o motivo, mas sentia no ar o sentimento de posse, como se ambos quisessem a mesma coisa, e eu tinha algo haver ou então não estaria ali. Segurei o longo vestido por umas duas pontas e comecei a correr para mais perto. Precisava que eles me notassem. Quem sabe poderiam me ajudar a sair dali...

"Ela irá ficar comigo!"
"Nunca! Ela é minha."
"Você já teve a sua chance. Praticamente condenou a vida dela à tudo isso."
"Você parece ser tão protetor. Infelizmente só parece."

— Já chega!

Me intrometi. Eles pararam com a discussão e me olharam.

— O que está acontecendo? Por que estão brigando? É por minha causa?

"Sim, é por sua causa."
"Por que ela é sempre o motivo de todos os nossos conflitos?
"Verdade, né? Olha só pra ela, tão pequena e insignificante. Não devia ter tanta importância assim."

Começaram a rir de modo debochado.

— Aonde estou? Que lugar é esse? Quem são vocês?

"Nós somos tudo àquilo que há de pior."

Abriram a boca; e então uma fumaça negra saiu e veio pra cima de mim, me perseguindo. Assustada e não sabendo mais o que fazer, comecei a correr depressa.

Infelizmente o vestido não estava ajudando muito, já que acabou me fazendo cair no chão. Desesperada, passei a gritar, pedindo por socorro. Tinha uma sombra enorme atrás de mim e eu só sabia suplicar por ajuda, mas ninguém me ouvia. A última coisa que me lembro são das lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto o que me seguia me engolia por inteira.

—ABBIE, ACORDA! VOCÊ TEM AULA DAQUI A POUCO.

Ouvi a minha mãe me chamar do andar de baixo.

Acordei em um pulo, suando frio e com as mãos trêmulas. Eu estava bem, eu estava viva, eu estava em casa. Mas que sonho foi esse? Não sabia que podia ter uma imaginação tão fértil... e sombria. O estranho é que por mais absurdo e fantasioso que fosse, parecia tão real. Eu hein, que coisa louca! A razão pela qual devo ter acordada assustada é que eu nunca havia sonhado com àquilo ou algo parecido antes.

Tirei a coberta de cima do meu corpo e cocei os olhos, me levantando. Calcei os chinelos e fui em direção ao banheiro.

—Aí vai um obrigado pra quem ou o que me trouxe de volta a realidade. Obrigado.

***

—Ué, o que te deu hoje?

Estranhou ao me ver enchendo uma xícara de café.

—Nada, por que?

—Você não tem o costume de tomar café de manhã.

"É que eu tive um sonho muito esquisito que não me deixou dormir à noite, daí eu estou achando que vou precisar de café pra me manter acordada durante o dia" era o que eu queria dizer.

—Sei lá, bateu vontade.

Me sentei a sua frente na mesa.

—Eu já vou me aprontar pra ir pro trabalho. Quer carona?

—Não, valeu. Eu vou com a Clark.

—Faz tempo que não vejo vocês duas juntas. Até agora ela não apareceu pra vir te buscar. Aconteceu alguma coisa?

—Não.

Mordi um pedaço de torrada.

— Ela é uma boa garota...

— Daqui a pouco eu vejo como ela está.

— Tá bem. Bom, deixa eu ir antes que eu me atrase.

Terminou o seu copo de suco e se levantou da mesa, me dando um beijo no rosto.

—Até mais tarde.

—Até.

***

Eu já estava pronta e do lado de fora da casa. Apertei a alça da bolsa e atravessei a rua ao ver a Clark saindo de dentro de sua residência. Gritei por seu nome, mas não sei se ela ouviu, pois me ignorou totalmente.

—Ei...

Cheguei por trás dela, tocando seu ombro.

—O que foi?

Ficou do lado do próprio carro.

—Eu estava te gritando, não me escutou?

—Você não tem mesmo vergonha na cara, né? Primeiro briga comigo, depois vem pedindo carona como se nada tivesse acontecido?

—O que? Quando foi que brigamos?

—Ah, não se lembra? Deixa eu refrescar a sua memória então. Foi no dia que você simplesmente se virou pra mim e disse "não se meta na minha vida".

Colocou a chave na porta do carro.

—Espera aí... eu nunca disse isso.

A fiz se virar.

—Eu já saquei qual é a sua... Não é porque fez novos amiguinhos, que deve deixar de lado os antigos. Ah mas é claro, você tem que fazer uma graça quando está perto dos meninos. Eu não estou mais te reconhecendo.

—E eu não estou te entendendo. Que novos amigos, que meninos?

—O Scotty e o Gus, óbvio. Ou você já está se atracando com tantos outros que se esqueceu dos primeiros?

—Como é que é? Olha como fala comigo, hein.

—Mas é verdade. Eu gostava mais de quando era apenas nós duas. Agora você só sabe me deixar pra escanteio. Sempre tem tempo pra aqueles dois e vive se esquecendo de mim. Fiquei péssima com isso porque só te tinha como a minha única melhor amiga; e estudar na mesma escola, frequentar algumas aulas, te ver todos os dias da semana e ainda por cima morar na mesma rua que você não está sendo nada fácil e continuará não sendo será enquanto estivermos brigadas.

Entrou dentro do carro e se mandou.

Entrou dentro do carro e se mandou

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.
Ela & Eles (CONCLUÍDA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora