Giorgio

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Giorgio era um padre italiano, milanês, pouco mais velho do que o Papa. Vindo de uma família muito tradicional, era uma raça que já não se usa. Decidira ser padre ainda na infância, com o apoio do seu pai, um empresário do calçado profundamente religioso e reconhecido benemérito da Igreja. Era o mais novo de três irmãos e, por isso, nem o pai nem a mãe estavam preocupados com a continuidade da família. A sua mãe, mulher muito inteligente, nunca precisou de trabalhar e, por isso, sempre foi muito próxima de qualquer um dos filhos.

O próprio Giorgio era tão próximo da mãe que desenvolveu uma sensibilidade humana e um cuidado com a organização e as coisas de casa que, naquela cidade, era muito mal interpretada. De tal modo que, quando ingressou, ainda adolescente, no seminário, se falou por toda a cidade de Milão que ele era um sinal da podridão da Igreja, porque aceitara um seminarista homossexual. Talvez por essa razão, talvez por outra qualquer, aos vinte e um anos decidiu prosseguir os seus estudos em Espanha.

Durante aqueles anos em terras castelhanas, conheceu muitos locais emblemáticos para a história da Igreja que tanto amava. De todas elas trouxe um ensinamento muito especial que o Senhor lhe concedeu. Aprendeu o sentido da peregrinação em Santiago de Compostela, vendo chegarem, aos milhares, homens e mulheres de todos os lados. Não para chegarem ao destino, não para pedirem ou agradecerem seja o que for, mas apenas para caminhar. Aprendeu o valor do silêncio, do trabalho gratuito e da contemplação da Criação em Loyola, seguindo a história e o testemunho de Santo Inácio e dos seus irmãos que o sucederam. Aprendeu o quanto é rico o diálogo entre culturas, religiões e culturas em Granada.

Foi em Salamanca que acabou por conhecer o homem que havia de se tornar Papa. Quando chegou a Espanha, já ele lá estudava. Não era um aluno muito popular. Nem entre os professores nem entre os colegas seminaristas. Sentiu, depressa, que muitos deles não acreditavam que ele completasse a sua formação. Foi, provavelmente, este o aspeto que primeiramente o fascinou. O futuro santo padre era um rapaz com um feitio muito difícil, raras vezes sorridente, sempre pronto a discutir e a argumentar. Percebeu, então, a razão das interrogações de todos os outros. Mas era, ao mesmo tempo, um excelente companheiro em todas as ocasiões. Sabia sempre o que queria e tinha sempre resposta pronta para tudo, falar com ele tornou-se muito fácil muito depressa.

Quando Giorgio foi ordenado, já em Itália, foi o único dos seus colegas a fazer questão de ir até lá para participar. Ficou lá durante duas semanas, para não perder a sua Missa Nova. Depois, com despedidas demoradas e dolorosas, viu o seu amigo partir de volta a Espanha. Ficaram anos sem se ver, apesar de terem sempre mantido o contacto próximo.

O padre Giorgio foi sempre um padre discreto, disponível para as pessoas, dotado de uma eloquência que nem sempre era bem aproveitada, nas pequenas assembleias das aldeias onde ia sendo pároco. Foi uma surpresa para todos ter sido chamado para se tornar secretário pessoal do novo Bispo de Madrid, aquando da nomeação.

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2017 ⏰

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