Cap. 1 - Sina Simples

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O mesmo som do despertador de ontem era o de hoje e seria o mesmo de amanhã. O garoto procurou entre os lenções o celular, quando se lembrou que estava carregando na escrivaninha ao lado da cama, pegou o aparelho e deu fim no toque, murmurou um pouco algumas palavras sem sentido e levantou como se tivesse uns 100 quilos a mais.

A água gelada do banhou desperto-o, a pasta de dente tirou o gosto de saliva vencida, o barbeador deu-lhe um rosto novo e o creme de cabelo maciou o cabelo descolorido. O café requentado e o pedaço de pão raspado no fundo do pote de manteiga arrancou-lhe a fome. Sua roupa era comum de gente comum, o cinza era sua cor, sua moda...

Pegou o necessário, trancou a casa e andou até o ponto de ônibus, o sol lento começava apagar os postes e dava lugar a velocidade da cidade, tão cedo e ponto já estava lotado, dentro do ônibus quase não dava pra se mexer, o transbordo tinhas muitas pessoas, mas ninguém realmente estava ali, todos estavam correndo, gritando, reclamando , " todos as pessoas são como uma engrenagem dentro de uma relógio, que não é visto ou valorizado por quem só liga pros ponteiros e seus 12, 3, 6 e 9", pensou Dennis e quis gritar pra todos.

Desceu do segundo ônibus e caminhou cinco quadras. Entrou em uma locadora de filmes esquecida e humilhada pelos  serviços de streaming. Foi até o caixa, conversou com o dono do local, um homem de uns 34 anos de idade, mas o tempo sambou em seu rosto de uns 55 anos. O jovem cumprimentou-o, fez alguma piada, talvez a mesma da semana passada ou retrasada e falou por alguns grandes minutos de filmes, era uma paixão compartilhada.

Dennis foi até os fundos em uma sala menor, baldes, rodos, vassouras panos estavam nas pratilheiras, pegou um espanado e foi para as seções de filmes e seu trabalho começava, até que o pó deixava o nariz vermelho, coçava ou passava água e logo voltava para o serviço.  

A manhã segui até a fome , a marmita barata tinha até carne, 60 minutos e o espanador voltou a espantar a poeira. No meio da tarde um jovem irritadiço entrou na pequena locadora, o sino em cima da porta anunciou sua presença, pulando de fúria foi até o Dennis que estava sentado em caixote de frutas e trabalhando a uma velocidade de tartaruga, o moleque cutucou o ombro do Dennis e sem pausar falou:

- Têm o filme O Guarani preciso desse filme não têm na internet vale cinco pontos esse trabalho...

Dennis se levantou do caixote, olhou fixamento nas bochechas gordas e olhos fundos do garoto, "um sedentário de uns 12 anos", pensou Dennis que andou entre as pratilheiras, parou e andou com os dedos nos filmes e retirou o filme, deu a caixa pro garoto que conferiu o produto.

- Ok! Onde pago?

Dennis apontou para o caixa atrás do garoto que pagou e desapareceu fora da loja. O sol começava enfraquecer e os postes voltou acender, despediu-se do Jovem senhor, regrediu as cinco quadras, entrou o ônibus que fedia sovaco molhado, chegou no transbordo e logo pegou outro ônibus, desta vez estava meio vazio, deu pra ir sentado. Chegou em sua casa depois de anoitecer, tomou um banho novo, comeu algo da geladeira, sentou na sala em frente da televisão, arrastou-se no sofá pro lado e pegou do chão uma caixa de papelão com vários filmes, escolheu algum qualquer e colocou o leitor de dvds, apelidado como Charlie Chaplin, que estava com o botão de play quebrado, ele usou lápis para infincar no buraco deixado pelo botão e dar play no filme. Assistiu meia hora e caiu no inconsciente.

O mesmo toque de ontem, tocou de novo hoje, banho, pão seco, ônibus, transbordo, ônibus, caminhada, pó, espanador, marmita, caixas, espiro,  caminhada, ônibus, transbordo, ônibus, filme, sono, sonhos. O mesmo toque, banho, ônibus, transbordo, pó, marmita, pó, ônibus, ônibus, filme, sonhos. O mesmo toque...

Assim prosseguia os últimos dois anos, a força dele não era mais suficiente para conquistar: sua faculdade, novas amizades ou simplesmente sair da rotina de sua vida. Sua sina não foi nada amigável.

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Sina SimplesWhere stories live. Discover now