Capítulo 8

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Por volta das 10 horas da manhã Ricardo teve alta do hospital. Ficou comprovado que não houve nenhum tipo de trauma craniano e Laura estava mais do que aliviada. 

Carlos apareceu bem antes da 10 horas, mas manteve-se em acertar detalhes de negócios com Ricardo. Laura sentiu-se excluída. Todos esses anos ela achou que tomava conta dos negócios do seu pai e que tivera grande participação no sucesso profissional dele, mas a verdade é que Carlos era mais do que capaz de gerir as empresas e ela viu o orgulho nos olhos de seu pai. 

- Capital de giro. 

Os dois olharam espantados com a voz de Laura, seus rostos carregavam a expressão interrogativa. 

- O que vocês precisam é de capital de giro. O importante não é ganhar dinheiro com o próprio dinheiro. A arte empresarial é usar o capital de terceiros para ganhar dinheiro. Façam um bom financiamento, reinvistam o dinheiro de maneira segura e terão bons resultados. A empresa já está mais do que consolidada para dar um passo como esses. 

- É uma pena que você não queira ficar e gerir nossas empresas. 

- As empresas Brown já me ocupam o suficiente. E eu prefiro a legislação de Londres. A carga tributária do Brasil não me permitiria dormir a noite. 

- Mas você está aqui agora. Carlos, se importaria se Laura cuidasse desse negócio em meu lugar? Estou voltando para casa e preciso me cuidar, fiz uma promessa ontem. 

Ricardo piscou para Laura enquanto propositalmente fingia estar mais debilitado do que a realidade. Eles precisavam passar tempo juntos e resolverem o passado. Ricardo só queria que sua filha fosse feliz. Se sentisse que ela havia superado sua paixão por Carlos, ele mais do que feliz levaria-a ao altar. Mas não era isso que via quando Laura e Carlos estavam frente a frente. 

15 anos atrás...

Ricardo  havia ficou enfurecido quando descobriu o namoro dos jovens. 

Laura havia dito que dormiria na casa da prima como costumava fazer. Ricardo no entanto, estava desconfiado da frequência com  que a filha ficava fora de casa, Laura não ia mais a loja de materiais de construção e nem lembrava das noites de futebol na quarta-feira. Sentia que algo estava errado.

Mesmo com tanta desconfiança dentro de si, repetia para si mesmo que confiava na filha e que ela nunca havia dado motivo para que ele se preocupasse. Mas a imagem de sua mulher passou por sua mente, fixou-se em como as duas se pareciam e a superproteção falou mais alto em seu coração. 

Ricardo imaginou a filha usando drogas ou prostituindo-se, imaginou perdê-la brutalmente e ficando sozinho. A solidão o inundou, a mesma solidão que sentiu quando sua esposa morreu, a solidão que só melhorou quando ele viu o rostinho perfeito da filha. Não poderia perdê-la. Ele era seu pai e faria qualquer coisa por ela. 

Ele a seguiu discretamente andando atrás dela. A casa de Júlio era bem próxima a sua e Laura sempre caminhava até la. Mas ela desviou o caminho. Seu coração apertou infinitamente ao perceber que a filha estava mentindo para ele. 

Ricardo viu quando ela encontrou um jovem. O maior sorriso que já viu no rosto da filha. Esperou enquanto eles se abraçavam e fechou os olhos quando eles se beijaram animadamente enfrente a uma casa mais do que glamourosa. 

A casa deles era grande e bonita, mas aquela definitivamente deveria ser a casa mais bonita e mais cara do bairro.  A raiva já estava por possuí-lo, mas ninguém poderia prever a possessão que teve quando viu o pai do rapaz sair da casa e receber sua filha. 

Reconheceu imediatamente o político desaforado que tentara convencê-lo a emitir uma nota fiscal falsa em troca de propina. Ricardo odiava corrupção, era um homem muito digno e honrado, jamais permitiria sua filha metida com aquele tipo de gente. 

Ricardo saiu da esquina onde estava escondido e aproximou-se batendo palmas. 

- Muito bonito minha filha. Aposto que sua prima deve estar esperando-lhe ansiosamente ai dentro. 

- Pai... O que? Como? O senhor me seguiu?

- Com licença senhor... Eu me chamo Carlos, a circunstancia não é das melhores, mas é um prazer finalmente conhecê-lo.

Carlos reuniu toda a sua coragem para estender-lhe a mão. 

- Então agora usa seu delinquente particular para atingir-me? Eu esperava coisas ruins de você, mas você foi longe demais desta vez!


O pai de Carlos ficou a pensar por um momento até que finalmente lembrou-se de Ricardo. O restante da discussão fez com que todo o bairro acordasse e fosse presenciar. Ricardo estava furioso e utilizou todo o tipo de baixaria para desclassificar Carlos e seu pai. Carlos tentou explicar que conhecera Laura há muitos meses, mas não teve jeito. Ricardo o via como se fosse o pai e proibiu os dois de se verem ou namorarem. 

Laura chorava copiosamente ao ser arrastada de volta para casa. Conseguiu convencer seu pai de que Júlio e Sofia não sabiam de nada e como Ricardo nunca confirmava como o irmão se Laura estava ou não em sua casa, acreditou. 

Mas o jovens sempre dão um jeito de ficar juntos quando querem. Sofia e Júlio os ajudavam a se encontrarem, no shopping, na casa deles, na casa de Carlos, na escola, onde desse... 

Haviam prometido um para  outro que nada nem ninguém os separariam. 


Dias atuais..

Ricardo arrependia-se profundamente de ter julgado Carlos pelas atitudes do pai do jovem. Tinha certeza que o homem a sua frente ainda era aquele mesmo adolescente loucamente apaixonado por sua filha. Na tentativa de proteger a sua unica filha o que conseguiu foi afastá-la do amor de sua vida. Culpava-se infinitamente, culpava-se por ter perdido seu possível neto, por tê-los afastado e por ver o fundo do poço onde Carlos chegou. 

Hoje não sabia se haveria forma de remediar aquele amor, mas daria a oportunidade que eles precisavam e nem ele nem ninguém os destruiria novamente. 

- Não me importo que Laura estude as propostas. 

- Não me agrada trabalhar com você, mas meu pai precisa de folga, faço qualquer coisa por ele. 

- Oh pelo amor de Deus, vocês vão trabalhar juntos por um par de semanas. Falam como se fossem o fim do mundo! Cresçam! 

- Você continua um amor de pessoa papai. Mas com sua licença eu preciso comer alguma coisa e fazer umas ligações. 

Laura deu um beijo na testa do pai e saiu.

Ela caminhou para a lanchonete do hospital durante o café da manhã trocou mensagens como seu noivo e com sua sogra que estava lhe ajudando a escolher as cores dos convites de casamento. Ligou para sua cerimonialista e fez as reservas do hotel onde ficariam hospedados os familiares de seu noivo. Por fim havia conseguido ter uma manhã produtiva. Quando voltou ao quarto de seu pai a médica já estava dando-lhe alta. 

Carlos os levou para casa e Laura passou o caminho todo notando como os dois eram próximos, como seu pai ficava a vontade na presença dele e como riam lembrando de coisas que Laura não vivera e nem presenciara. Aquilo era mais que tortura.

O Tempo que estive aquiWhere stories live. Discover now