Meu cupido é um desastre

III

De repente, num piscar de olhos, Ângelo sumiu. Aquilo não era nem mais novidade para mim. Definitivamente ele gosta muito de ser um Mestre dos Magos.

E almocei tranquilamente meu tão frequente arroz, feijão, carne e purê de batata. Como isso quase todo dia mas nunca enjoo.

***

Voltei para meu quarto. Ângelo não estava lá. Dei um graças a Deus mentalmente. Depois, tomei um bom banho e troquei aquela farda que estava podre de suada por uma roupa que uso sempre em casa, que é basicamente uma blusa velha e um short.

Enquanto eu penteava meu cabelo, ouvi a ilustre voz angelical de Ângelo.

— Você vai se apaixonar é hoje.

Olhei para trás e cruzei meus braços.

— Sério que estamos tendo essa conversa de novo?

Ele assentiu com a cabeça.

— Ô seu cupido, posso ser louca por ver e poder conversar com você, mas uma coisa que não vai rolar é eu...

— Se apaixonar, todos sabemos disso – Falou revirando os olhos — Mas é inevitável controlar seus sentimentos, você sabe disso. Basicamente, eu que os controlo.

  — Na verdade você não os controla mais – Desafiei-o dando um olhar mortal — Afinal, você foi expulso do céu, e deixou de ser um cupido.

  Ângelo mordeu seus lábios com classe. Não entendo como alguém consegue morder os lábios com classe, mas ele consegue.

  — Mas eu vou continuar fazendo meu trabalho...

  — Cala a boquinha tá bom? – Pedi carinhosamente, para não dizer o contrário — E pode me deixar em paz por favor? Eu já tô de saco cheio, eu só quero me arrumar em paz.

  O galego lançou um olhar triste. Seu brilho nos olhos se apagou.

  — Tudo bem então.

  Ele sumiu em um passe de mágica. Finalmente um pouco de paz. Agora só não imaginei que ele fosse ficar tão triste assim.

  Terminei de pentear meu cabelo e me joguei na cama. Peguei meu celular e fui olhar as mensagens que eu não tinha lido. E tinha até que bastante mensagem em um grupo que estou.

Grupo dos trouxas

Renato
Gente bora sair às 3?

Bruna
Bora, agora pra onde?

Renato
Sei lá, pro cinema ou coisa do tipo. Tá passando uns filmes bem massa.

Lucas
Ah, eu topo. Agora pelo amor de Deus, só não vamos assistir aquele filme daquela boneca demoníaca.

Gih
Annabelle Lucas. Deixa de ser frouxo Luquinhas! E sim, eu topo.

Bruna
Não vai dar pra eu ir gente, eu tenho que estudar.

Renato
Bruna, a prova só é mês que vem.

Bruna
...

Gih
Outra desculpa pra não ir pro rolê Bruna? Tu é outra frouxa. É só um filme. No shopping.

Bruna
Ok, eu vou.
E quanto a Dani?

Lucas
Do jeito que ela é, quando ela responder a gente já teria ido pro cinema 7 vezes e arrudiado todo o shopping umas 4 vezes.

  E Lucas, por incrível que pareça, disse a verdade. Eu sou a pessoa que mais demora no mundo para responder. Mas aquelas mensagens eram de uns 3 minutos atrás, então respondi de boas.

Eu vou meu povo!

Lucas
Dani respondendo rápido? Onde está minha amiga? Não te reconheço tá?

Ah Lucas, vai te catar. Sim meu povinho lindo, o que vamos assistir?

  Conversamos por um tempo até todo mundo largar o celular para poder colocar uma roupa adequada para ir a um shopping. Mas Lucas, do jeito que é, com certeza vai com uma camiseta xadrez, uma bermuda florida e uma Crocs verde-limão que ele tanto ama usar. Ninguém merece essa combinação de roupas.

  — Você tem que ir bem vestida. – Ângelo falou do nada enquanto eu procurava alguma roupa para vestir.

  — Agora você quer dar palpite no que eu visto?

  — Sim, claro. Por que não? Eu sou seu cupido. E você vai num encontro. – Fez um argumento numa tentativa falha de me contradizer.

  — Não vou num encontro. Apenas vou ao cinema. Com meus amigos que tenho desde sempre.

  — Em meus 468 anos de experiência, a maioria das pessoas com quem trabalhei se apaixonaram por amigos bem próximos.

  — Como diria minha mãe: eu não sou todo mundo. – Falei entediada.

  — Você com certeza não é todo mundo, mas tem todas as chances do mundo de ser um todo mundo. – Filosofou.

  — Isso não fez sentido nenhum Ângelo. – Arqueei a sobrancelha.

  — Eu sei. Às vezes eu não tenho a menor ideia do que eu tô falando. Às vezes só são coisas aleatórias que se passam em minha cabeça. Quer dizer, eu sei o que eu tô falando, eu só não sei o que tô falando. – Tentou explicar.

  — Ângelo – Parei tudo que eu estava fazendo e olhei para ele — Só cale a boca.

  — Realmente, é o melhor que posso fazer agora. Mas eu simplesmente não consigo calar a boca eu sou meio hiperati...

  Lancei um olhar mortal para ele, que fez o cupido ficar em silêncio em questão de segundos.

  E o ambiente ficou em silêncio por bastante tempo até.