O inferno na Biblioteca.

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Amon olhou a sua volta, sorrindo diante a morte. Três guardas jaziam mortos ao seu redor, um deles tinha a adaga do meio demônio no tórax, e os outros dois tinham furos do tamanho de moedas de ouro em seus crânios.

Amon agradeceu morte-rápida em um pensamento que deixara escapar.

-Não agradeça, ainda há muito trabalho. - Dizia o goblin numa voz rasgada.

A cria do inferno assentiu levemente e apressou-se a abrir uma fechadura que se encontrava alguns metros à esquerda. Já fizera aquilo diversas vezes, afinal, era um ladrão. O mecanismo de tranca resistiu por alguns instantes, mas foi logo convencido pela valsa metálica que o ladino fazia com suas ferramentas, e caiu em seus truques como uma donzela embriagada após ouvir uma ou duas palavras bonitas de um bardo.

Com um leve estalar seco e ríspido, a porta abriu-se , revelando um enorme quarto, com todo tipo de quinquilharia arcana que a mente do mais esperto dos elfos poderia conceber.

O ladino murmurou um xingamento na língua abissal.

Morte-rápida passou de forma a fazer jus a segunda parte de seu nome, fazendo questão de lembrar-lhe que não havia tempo para contemplações. E Amon novamente assentiu .

O salão tinha três enormes pilastras esbranquiçadas dispostas igualmente em cada lado do cômodo, prostradas em fronte a uma amalgama de estante de objetos e uma biblioteca. Outro palavrão em abissal. Calculou em sua mente que haveria mais alguns minutos até que o restante da guarda chegasse, e tinha que achar um livro na maior biblioteca que já vira; Um mago havia contratado a dupla para que roubasse um exemplar importantíssimo da biblioteca de um rival. E segundo o contratante, aquele livro em era uma fonte de poderes indescritíveis.

Morte-rápida pulava entre as pilastras e Amon mal conseguia acompanhar-lhe com os seus olhos. O Goblin trajava apenas uma túnica negra esfarrapada para cobrir-lhe o corpo verde-musgo, com um formato que ia ficando cada vez mais triangular conforme descia pelo por seu corpo até parar um pouco abaixo da cintura. Seu rosto era uma mescla cicatrizes e pústulas, com seus olhos diminutos e incendiados tentando encontrar seu lugar em meio aquela bagunça, olhos quais ficavam no começo da ladeira fina, comprida e muito acidentada que era seu nariz. Em sua cabeça, poucos tufos negros de cabelo cresciam esporádicos.

E suas duas pistolas gêmeas.

A pequena criatura grotesca procurava por entre os livros de forma ávida, arremessando longe qualquer um dos exemplares que não lhe interessasse, e murmurava reclamações em goblinês.

Amon o considerava um amigo, e já tinham salvado a vida um do outro mais vezes que era capaz de ser recordar. –Fazemos uma bela dupla- o nascido do abismo deixou escapar, enquanto corria a estante mais próxima.

Então, um estalo.

E tudo ocorreu rápido demais.

Morte havia disparado um mecanismo de armadilha. Estavam tão focados em achar o livro que se esqueceram do básico de qualquer ladrão: Sempre cheque por armadilhas.

Um estrondo arremessou-os em direções oposta da sala. Amon tinha um zunido no ouvido, o mundo a sua volta perdera toda a solidez e o chão parecia lhe fugir dos pés. Viu um grupo de guardas chegando, e na frente deles, com mais ou menos 3 metros, uma enorme armadura que se demorava em cada passo que dava, como se estivesse meticulosamente calculando o onde iria pisar. E Amon Tormenta pensou que chegara a ser engraçado, mesmo em sua atual conjectura.

O ladrão observara impotente, enquanto Morte-Rápida lutava contra a onda de inimigos. Mesmo muito ferido, conseguia ser rápido o bastante para pular por cima do primeiro guarda apoiando a mão em seu ombro para alavancar-se, sacar sua pistola e cravar-lhe uma bala na cabeça, levantando uma nuvem que era uma mescla de pólvora e gotículas de sangue.

O segundo tentou para-lo com um agarrão, o globlinóide fora pegou em pleno ar, mas num esforço desesperado, conseguiu morder-lhe o nariz, arrancando um pedaço do mesmo, numa cachoeira de sangue que corria junto aos gritos do soldado.

Mas não fora o suficiente.

Morte não aguentou por muito mais tempo, conseguindo matar apenas mais um guarda com um tiro a queima roupa, e os outros o haviam cercado.

Um corte nas costas, e ele mostrou os dentes como todos os goblins faziam quando acuados.

Um corte na frente.

Dos lados.

Uma orelha se fora, deixando uma trilha de sangue grosso e verde escorrer lhe pelo pescoço.

E Amon não mais conseguiu ver o que ocorria com seu companheiro de crimes.

Então, a enorme armadura do andar engraçado voltou-se em sua direção. O tocado pelo inferno tentava se mover, mas não sentia as pernas.

-É assim que eu morro então. Disse, praguejando em abissal.

-Ainda não é a hora, você terá um papel importante em planos futuros, minha criança.

O criminoso pensou estar ficando maluco, mas a voz aumentava em sua mente de tão modo que chegava a causar-lhe espasmos. O golem metálico ergueu-o, com a enorme e gélida mão vazia de qualquer tipo de vida em seu pescoço.

-Amon Tormenta, não é hora de morrer ainda, diga que aceita, e terás poder suficiente para sair desse....pequeno....- a voz parecia medir suas palavras cautelosamente- Contratempo, pareceu deleitar-se ao dizer isto.

-A..a.. Aceito. Sussurrou Amon, sem pestanejar ,mesmo com o enorme peso que o constructo fazia sobre sua garganta.

-Ótimo, agora só precisarei de um pouco de sangue para selarmos nosso.... -Acordo. Novamente a voz pareceu divertir-se no meio de suas falas.

Não aguentava mais, então e apenas cuspiu um pouco de sangue que a força que a Armadura viva fazia contra seu pescoço lhe rendera.

A primeira goto tocou o chão. E houve fogo.

Amon Tormenta, criminoso, sangue do abismo, cria do inferno, profanação da natureza e todos os outros nomes de que já fora chamado um dia sentiu o fogo correr-lhe pelas veias e sentiu pela primeira vez o poder.

-Poder...

Sem querer deixara escapar a palavra, e pareceu gostar de com soava.

Os guardas corriam, armaduras derretiam-se e mesclavam-se a pele. Uns tentaram rolar para extinguir as chamas, inutilmente. Um se ajoelhou e brandiu em dor de forma que faria os mais poderosos paladinos da Grande Águia terem pesadelos. A biblioteca estava em chamas, e o meio demônio havia tocado o elmo de seu flagelo metálico que o mantinha cativo, e usava de fogo para derreter-lhe a cabeça, se é que assim poderia ser chamado aquele espaço vazio de aço.

Até hoje bardos destemidos entoam canções do dia em que um portal do inferno se abriu na mansão do Grande Mago Sirtuos.

Mas não havia nenhum portal do inferno, havia somente Amon tormenta, Lacaio de Baal.

Nem mesmo o servo do abismo sabe ao certo o que se sucedeu depois, lembra-se apenas de sair do meio das cinzas da biblioteca, cercado de restos ósseos de suas vitimas, com um livro de capa preta com inscrições abissal, intacto.

O livro parecia encarar-lhe, e Amon encarou-o de volta.

Dizem também que foi visto uma criatura pequena e horrenda sair rastejante dos restos do local, bradando incoerências sobre coisas inimagináveis que acabara de ver, gritava também uma palavra em goblines. Taddev! Taddev!

Algo como '"Vingança".

Mas isso, isso é so uma que bardos que ousam dizer que não tem medo de demônios contam.


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⏰ Last updated: Sep 11, 2017 ⏰

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O conto de Amon.Where stories live. Discover now