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Aquela deveria ser a terceira briga em menos de uma semana, eu tentava buscar argumentos, fatos, momentos que tivessem levado nós dois aos gritos novamente, mas sempre que parava para pensar percebia que todas as últimas brigas haviam sido culpa minha, por motivos que eu causei, que eu errei. Francisco estava ali falando e falando e tudo entrava por um ouvido e saía pelo outro, ele gesticulava bravo, irritado. E eu nem me lembrava o porquê.

– Ella, você está me ouvindo?

– Eu... eu estou tentando entender o que você está falando.

– Se você prestasse atenção no que está acontecendo, talvez você estivesse entendendo. Mas como tudo ultimamente, você não está prestando atenção, você não se importa com mais nada. Por Deus, o que está acontecendo com você?

– Não está acontecendo nada comigo, Francisco, estou apenas de cabeça cheia.

– Cabeça cheia? Se preocupando com qual a próxima festa você vai ir e largar a gente aqui?

– Você sabe que não é assim.

– É sim, e quer saber eu não me importo mais. Você não se importa mais, você simplesmente esqueceu que precisamos de você, esqueceu todas as promessas feitas, o que construímos juntos. Tudo porque agora você decidiu que viver uma vida de solteira é muito mais legal.

– Eu estou tentando.

– Não está, a única coisa que você não está fazendo é pensando na gente.

– Amor, por favor, vamos parar com isso de novo.

– Não. Não consigo mais brigar com você mais uma vez que seja necessário. Eu não aguento mais, Mariella.

– Eu vou dar um jeito, eu estou tentando eu prometo.

– Eu cansei das suas promessas, então você tá livre para ir seguir o que você tanto quer.

– Você não pode estar terminando comigo assim.

– Na verdade, quem fez isso foi você mesma.

Ele saiu me deixando ali sozinha na sala. Eu tentava lembrar o que ele estava falando antes, tentava lembrar o que tinha acontecido ontem, mas Francisco estava certo, eu não conseguia me importar. Eu apenas ouvia o que minhas amigas tinham a dizer e tudo era que a festa tal ia ser importante, que fulano estava afim de mim, porém, eu estava lá, namorando. Tudo em semanas virou um caos porque passei a desejar ser como minhas amigas da faculdade, queria ser como elas e abri mão daquilo que era realmente importante. Mas até quando eu ia levar a vidinha de solteira a sério, sem sentir falta da minha vida de boa madrasta e boa namorada?

….

Quatro semanas era o tempo que eu não falava direito com o Isco, poucas palavras apenas para saber como o Junior estava, ou quando fui buscar algumas coisas minhas que estavam na sua casa. Era tão estranho saber que ele tinha jogo e que eu não estaria ali na arquibancada com seu número nas costas gritando por cada vitória sua, que o Junior ia precisar ficar com a mãe para que ele pudesse treinar a tarde, que eu ia voltar para a casa depois da faculdade. Minha vida havia mudado bastante em pouco tempo, toda minha rotina mudou. Finais de semana se basearam a festas, ele não estava errado eu estava vivendo uma vida de solteira, mas eu sentia muito a falta da mãe postiça, da namorada que esperava para ouvir todas as reclamações, a pessoa que ganhava com cada sorriso daqueles dois. Eu estava morta de saudades, mas não podia simplesmente chegar ali e pedir para tudo voltar ao normal.

Nessas quatro semanas eu saí muito, saí para festas, shows, social com os amigos. Mas nada se comparava à minha família, a que eu construí quando aceitei Francisco e seu pequeno. E nada realmente cobria a falta que eu sentia dos dois. Cada festa, cada risada forçada para aquelas pessoas que não me conheciam se tornaram coisas sem sentido na minha vida, cada uma delas me tornaram falsas. Eu passei a mentir para mim mesma. E agora eu te respondo, quatro semanas eu já estava explodindo de ódio daquela nova vida.

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⏰ Last updated: Sep 04, 2017 ⏰

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