—Bom, então é isso. — falei.

—É isso. — disse Naomi.

Leo terminava de carregar as últimas malas para a porta, e Larissa conversava e brincava com Mia na sala. Logo quando terminou, Leo nos chamou e nós fomos até ele.

—Estamos prontos pra partir. — Leo falou.

—Certo. — disse Larissa.

—Naomi. — chamei-a. —Esses dias foram incríveis, obrigado por tudo. De verdade.

—Sim, foram mesmo. Eu que agradeço gente. Apenas, por favor... Voltem um dia, essa casa vai ficar estranha sem vocês nela.

—Pode deixar que a gente vem. — Leo respondeu.

Assim, nós quatro nos abraçamos e nos despedimos. Mia também quis participar do momento e deu um abraço e um beijo em cada um de nós.

Entreguei as chaves na mão de Naomi e assim nós três fomos em direção ao carro, observando Naomi e Mia que estavam na porta olhando em nossa direção.

—É isso gente. Hora de voltar pro lar. — falei engatando a chave na ignição e dando partida. Acenamos e elas acenaram de volta. Logo, já estávamos na estrada, e poucas horas depois Curitiba nos dava boas vindas mais uma vez.

Todavia, meu coração pulava de alegria. Pois estes dois dias pareciam ter sido uma eternidade e agora em Curitiba... Eu sentia que esse resto de férias iriam ser incríveis.

Vim o caminho todo sorrindo enquanto Leo roncava no banco de trás e Larissa dormia no banco da frente.

Chegando, eu deixei cada um deles nas suas respectivas casas.

—Falou Pedro! — falou Leo meio grogue depois de ter que acordar para entrar em casa. —Vejo vocês amanhã, ou... Enfim, um dia desses.

—Tchau Leo. — respondi e o vi sumir pela porta. Larissa continuava dormindo.

—Sua vez Lari. — falei sozinho para mim mesmo e saí dirigindo, no "silêncio" daquele fim de tarde rumo a casa de Larissa.

Estava pensando no que faria depois dali, e a imagem de uma cama vinha a mente, mas ao mesmo tempo meu cérebro a rejeitava, já tinha dormido demais. Não entendia como os dois ainda tinham pique pra dormir.

Digo, dormir é bom, mas né...

Divagando sobre a vida, me vi pensando no anjinho de cabelos loiros que eu havia conhecido coincidentemente no dia do Natal.

Parando pra pensar direito, comecei a querer tentar entender o que exatamente tinha nos unido. O que tornou Miguel tão diferente dos demais, o que o tornou mais especial.

Ele era calado, introvertido, havia outras tantas crianças naquela casa... Tantas outras possibilidades. E justo ele.

Talvez ali naquele beco, vendo-o ser perturbado por aqueles dois idiotas algo aconteceu. Algo que nem percebi. Porém, eu não sabia o que era. Eu não entendia o que estava acontecendo, embora eu gostasse muito.

Apaixonar-se por alguém é algo inexplicável, espontâneo, repentino e natural. Apenas acontece... Mas e isso? O que era? O que levava um homem como eu a notar um garotinho como ele? Que nome se dá a isso?

Que raios é isso?

Ele não é meu irmão, nem meu sobrinho, nem meu parente.

Eu o definiria como meu mais novo e miúdo amigo. O que eu sentia? Bem...

É cedo demais pra dizer qualquer coisa, no entanto... O que eu sinto é o desejo de estar perto dele toda hora. Protegendo-o. Dando uma vida melhor pra ele, amor, carinho...

O que eu via era um garotinho indefeso — ou nem tanto — e em mim ardia a necessidade de ser sua defesa, seu porto seguro. Ser o que ele quiser, talvez. Pouco me importaria se ele me visse como um irmão mais velho, ou como um tio, ou como um simples "senhor Pedro". Eu apenas... Ah!

—Você está pensando nele não é? — Larissa fala do nada quase fazendo meu coração parar.

—Jesus! Que susto Larissa!! — falei ainda com o coração batendo a mil. —Você não tava dormindo.

—Eu tava, mas eu acordei sabe? Uma pessoa dorme e depois acorda Pedro, é a vida. Ou achou que eu tinha morrido?

—Ha ha. Hilário.

—Mas você não respondeu a minha pergunta.

—Se eu tava pensando nele? Nele quem?

—Ah Pedro, no Miguel é claro. Quem mais seria um "ele" em quem você pensaria? — retrucou.

—Tá tão na cara assim.

—Amor. Seus pensamentos estão quase gritando o nome dele e pulando pra fora. Dá pra ver só de olhar seu rosto e ver esse seu sorriso estampado aí feito um bobo. — e assim eu corei.

—Er... Bem... Sim. — foi tudo o que consegui falar.

—Você sabe que pode falar comigo sobre seja lá o que você tá pensando ou se está confuso.

—Eu sei, mas isso é... Não sei. Sinto que ninguém entende o que estou passando, pensando e sentindo. — desabafei decepcionado.

—Aí que você se engana. — Larissa falou. —Acho que antes de ir de novo até aquele abrigo você devia dar uma parada na casa do Robert.

—Robert? "O" tio Robert? — perguntei sem entender. —O que ele tem a ver com isso?

—Muita coisa Pedro. — Larissa falou como que dizendo "não é óbvio ainda?". —Ah Pedro, Pedro... Parece que eu sei o que tá acontecendo com você mais do que você mesmo. — ela falou e eu só ri.

—Por isso que eu te escolhi pra ser minha. — falei dando um selinho nela.

—Aham, sei. Me escolheu porque não tinha nenhuma outra opção que eu sei.

—Eita, como você descobr... — fui interrompido por Larissa me batendo antes que terminasse.

—Idiota. Não é pra concordar nem em brincadeira ou eu faço tua caveira. — sorri e observei-a revirar os olhos bufando ar em sua franja no olho.

—Sim, continuando... Por que eu deveria falar com Robert? — Robert era o pai de Sam. Ele foi muito importante pra mim também, acolheu-me como irmão mesmo de seu filho. Ah, e detalhe, filho adotivo. Robert adotou Sam.

—Você vai entender. Apenas me ouça e vá lá tá bom? E então depois faça o que bem entender. O tempo é o melhor conselheiro. — disse ela me beijando a bochecha e saindo do carro para pegar as malas. Havíamos chegado há uns minutos e eu nem percebera.

Depois de pegar ela apenas me olhou e mandou um beijo, depois entrou em sua casa, me deixando ali pensativo.

Com certeza eu veria Robert. Talvez não hoje, mas amanhã ou depois... Enfim, fui para casa, tomei um banho, arrumei minhas coisas e liguei para avisar Sam que havíamos chegado, mas ele estava ocupado no trabalho.

Fui deitar ainda pensando em Miguel.

E assim, sem nem lembrar de como, eu dormi.












Perfeitamente QuebradosWhere stories live. Discover now