Os dias seguintes passaram rapidamente sem que o xerife descobrisse qualquer informação sobre quem enviou aquela correspondência anônima, assim como não sabia ainda em que ela seria útil na investigação, já que duvidava que o fazendeiro pudesse estar envolvido em qualquer crime.

Nada daquilo fazia sentido.

A investigação não os levara a nada, tudo o que tinha eram dois corpos e uma pequena população amedrontada, como se esperassem pelo aparecimento de mais um espantalho, onde se questionavam sobre quem seria a próxima vítima.

Ainda se falava naquelas terras sobre o fatídico dia em que Charles foi enterrado, onde todos se compadeceram do desespero da senhora Vivien e dos seus filhos.

Todos falavam ainda do demônio que estava à solta e que sequestrava pessoas de bem, os torturavam e os deixavam hasteados no milharal, assustando os pássaros e aterrorizando a todos.

Ninguém se sentia seguro, o pânico era geral.

O xerife soube por Craig que alguns de seus empregados se demitiram, aceitando trabalho nas fazendas vizinhas, enquanto os que ficaram, só o fizeram por precisarem em demasia dos seus salários, que Craig foi obrigado a aumentar para não perder ainda mais de seus homens.

Após o relato do fazendeiro, lembrando da misteriosa correspondência que recebeu, o xerife cogitou que alguém das redondezas estava tentando prejudicá-lo — além de o incriminar —, o que explicaria o fato dos corpos aparecerem nas terras de um aleijado, assim como o recebimento daquela gravação, que começava a ter certeza que foi fruto de manipulação — uma montagem! Isso fazia sentido, já que o bom fazendeiro tivera consideráveis perdas.

Agora o xerife mudava o foco da sua investigação. Deduziu que fosse briga de peixe grande, embora julgasse o alvo o mais frágil daquela região: o aleijado Craig.

Na tarde seguinte, Pierre alarmou-se ao ver o rosto do xerife empalidecer à sua frente, assumindo uma expressão de incredulidade e espanto. Deduziu que aquela ligação não só era muito importante, como portadora de uma notícia ruim.

Pierre aguardou, num misto de curiosidade e preocupação o término daquela ligação, onde há mais de vinte minutos o xerife ouvia alguém falar do outro lado da linha, se limitando a respostas monossilábicas em dadas ocasiões. Não saíra porque o xerife pediu para ele esperar, na certa não imaginava que fosse demorar tanto, e até parecia que se esquecera que seu subordinado estava ali.

O assunto era muito sério, não havia dúvidas sobre isso, não fosse assim, por que o FBI contataria sua partição?

Seria por causa do assassinato de Antonella? Ou por causa do assassinato de Charles? Por ambos? Pierre sabia que nenhuma outra ocorrência por essas terras justificaria aquela ligação.

— O que o agente do FBI disse? — indagou o assistente assim que o xerife encerrou a ligação.

— Você não vai acreditar, Pierre! — disse convicto.

— Tem a ver com as mortes no milharal? — perguntou curioso, ao que o xerife confirmou com a cabeça. — Eles te deram alguma informação?

— Na verdade... nos deram o nome do... assassino! — declarou atônito, se levantando.

— Tinham o DNA dele no sistema? — inquiriu, ao que o xerife gesticulou em negação. — Não descobriram a quem pertence o sêmen deixado no corpo dela? — insistiu.

— Não, não precisam! — respondeu andando de um lado para outro.

— Então? — perguntou confuso. — E por que o FBI se envolveu nesses casos?

— Quando Antonella passou pela autópsia, tiraram de dentro da barriga dela uma grande quantidade de palha...

— Sim?

— No meio da palha encontraram alguns... alguns pelos...

— Do assassino? — Pierre perguntou ainda mais curioso.

— Não. Examinaram os pelos e puxaram o DNA no sistema, encontraram, pertence a um cirurgião famoso que desapareceu há mais de dez anos em Sacramento.

— E em que isso nos dá o nome do assassino? — perguntou confuso.

— Não há nenhum tipo de registro de que esse cirurgião tenha vindo alguma vez para cá... Ele foi trazido!

— Não estou conseguindo acompanhar...

— Esse cirurgião foi o responsável pela cirurgia do... do senhor Craig, foi quem o operou depois do acidente. Não existe outra razão para encontrarem DNA desse homem por aqui, entende?

— Espera, está dizendo que esse fazendeiro o matou porque o culpa por ter ficado na cadeira de rodas?

— Talvez...

— Talvez?

— No prontuário do senhor Craig foi registrado que a cirurgia foi um sucesso, que não houve grandes danos...

— Mas como? Ele está entravado numa cadeira de rodas! — lembrou incrédulo.

— Meu Deus! Tudo que o Charles disse naquela gravação... agora faz sentido! Você a ouviu, Pierre?

— Sim, mas ele estava bêbado e em choque, como o senhor mesmo disse!

— Eu estava errado, Pierre! Estava errado! — falou exaltado esmurrando sua mesa. — Deus! Heloisa nunca fugiu! Jacob não a levou para lugar nenhum! Esse médico da cidade... Antonella... Charles... e só Deus sabe mais quem! Ele os matou, matou todos! — dizia cada vez mais exaltado. — Nos fez de idiota por todos esses anos, Pierre! — declarou encarando o rapaz, que também estava boquiaberto.

— O que faremos agora? — perguntou após um breve silêncio. — Vamos prendê-lo?

— Não — respondeu balançando a cabeça. — O FBI está assumindo, não podemos fazer nada até que os agentes federais cheguem aqui.

— Quando chegam?

— Segundo o agente, em dois dias no máximo!

— O que faremos até lá? — perguntou, mas o xerife não respondeu. — Senhor, o que faremos até que o FBI chegue?

— Rezar... rezar para que aquele demônio não cruze meu caminho, porque se eu o ver, eu mesmo o mato! — declarou enfurecido, ao que Pierre o encarou com ar de aprovação.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu