Sacrifício

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ORFANATO

Acredita-se que os espíritos têm bastante poder quando invocados e que quem os invocasse tinha que ter certeza de expulsar a entidade no final, o que não foi o caso da Madame Credence. Ao saber quem falava com ela pelo tabuleiro ela parou de mexer imediatamente e o guardou dentro da última gaveta da sua mesa do escritório.

Ainda com o medo a flor da pele ela seguiu sua vida naquele dia, ela precisava demonstrar a maior naturalidade diante das demais crianças e freiras que trabalhavam junto dela. A normalidade não era mais uma coisa que já não existia mais para os moradores de Royals Hill.

Todos os dias desde a morte prematura de Jensey e da garota que se enforcou as coisas têm andado bem confusas. Cada vez menos casais vinham com a intuição de adotar criança alguma, crianças andavam tendo pesadelos horríveis com um cara malvado e ficavam cada vez mais quietas e apáticas.

A Madame havia marcado uma reunião com todos do orfanato para poder explicar a situação toda. Estavam todos ali, sentados na sala de recreação enquanto a mulher magra e alta caminhava de um lado para outro. Quando a última freira anunciou que todos já estavam ali ela começou seu discurso incerto.

— Boa tarde a todos vocês! — ela olhou para o rosto de cada criança com o desejo interno de poder fazer com que cada uma delas tivesse uma vida diferente — estamos aqui para falar sobre um assunto sério.

Uma menina de mais ou menos uns dez anos de idade ergueu a mão ao fundo da sala e questionou a mulher.

— É sobre o homem com pés de cabra? — a voz da menina trazia com sigo um tom de medo e apreensão — ele está bravo não está?

Aquele medo que ela já tinha deixado de lado voltou com tudo direto para o fundo da suas entranhas.

— Que homem é este Lucy? — questionou a Credence com uma vacilação na voz.

— Ele disse para mim ontem a noite — ela se ergueu e caminhou até onde a Madame estava e se virou para os demais — falou que este lugar tinha sido seu lar a um bom tempo, graças a sua família. Me contou que tudo que aconteceu até hoje aqui foi por conta disso, e isso não estava perto de acabar... ele está vindo.

Já sentiu aquele arrepiou que sobe as costas e se instala na sua nuca? Era essa a sensação que vinha da mulher apática a frente. Ela não podia acreditar que um demônio poderia estar falando direto com as crianças, era cruel.

— Esse homem tinha nome? -ela temeu ter que perguntar isso, mas era mais que necessário.

— Disse sim, seu nome é legião.

As vozes das crianças ecoaram por todos os lados, mas a Madame Credence as ignorou. Cada voz suave de uma criança que entrava pelo seus ouvidos era uma dor em seu coração.

— Silencio todos vocês — eles se calaram e ficaram a observando — faremos o seguinte, se está entidade estiver mesmo aqui e quer nos fazer mal temos que estar preparados. Chamarei um padre pela manhã e vocês rezem todas as noites antes de dormirem. Agora voltem a seus afazeres.

Assim que as crianças subiram para suas coisas ela correu até seu escritório e trancou-se lá pelo resto do dia e rezou tanto pedindo a Deus piedade pelo que iria fazer.

LIMBO

— Essa é minha parte favorita — em uma espécie de transe Legião fazia Jen observar enquanto Ira, um dos demônios dos sete pecados capitais passava a uma unha afiada nos braços de Anastácia.

Nem tudo para Jensey era fácil naquele lugar junto do demônio, enquanto ele não estava assombrando ou causando confusões a mando de Legião ele ficava ali vendo essas cenas nauseantes até Legião cansar.

A morte prega peça nas pessoas, Jen chegou a essa conclusão quando foi parar no Limbo existencial com aquele demônio particularmente irritante. Também aprendeu que demônios tem um ego muito grande. Legião deixou isso mais do que claro quando pediu a alma da Madame Credence, por que ele quereria a alma dela se ela não tinha culpa pelas coisas a família tinha feito? Simples, a situação atingiu seu ego.

Quando ele trouxe Jensey de volta para o Limbo ele sorria, mas o garoto não.

— Você não cansa disso? Eu sei, você é um demônio e blá, blá, blá...

— Eu não faço isso para apenas te torturar é também para minha diversão própria — ele sentou no chão e começou examinar as unhas.

Jensey sempre se perguntou por que ele gostava tanto de estar na forma humana. Pelo que ele entendia de demônios eram seres monstruosos e fedorentos, Legião mais parecia um super ator de série de televisão.

— Me responde uma coisa, por que você parece um humano e não como... Ira, por exemplo. Ele sim parece um demônio de verdade! — talvez existisse um pouco de deboche na pergunta, mas foi totalmente inocente. Legião não viu dessa maneira.

— Você quer mesmo saber? Lembre-se pequeno garoto, você quem pediu por isso.
Então ele se transformou em algo mais terrível e nojento que o próprio Lúcifer poderia ser.

Ele não tinha rosto, ou melhor, ele tinha algo mais parecido com um borrão que acada momento trocava de face, mostrando vários seres bizarros. Primeiro apareceu um homem com milhares de olhos e nesses olhos tinham espinhos, a outra face que apareceu tinha invés de dentes normais presas que pingavam algo verde que fedia muito.

Jensey sentiu que às vezes ele permanecer calado era a melhor coisa.

ORFANATO

Meg, Noah e Madame Credence estavam mais uma vez em frente ao tabuleiro.

— Hoje nós acabaremos com isto, será o fim de tanta dor e sofrimento para nós — disse Mag, ela estava de um modo se sentindo épica, mesmo sem saber o porquê.

Fizeram todo o procedimento da outra vez e esperaram uma resposta, o urso estava posto ao lado do tabuleiro imóvel, mas deixando uma impressão amedrontadora.

— Ele não está respondendo, talvez não seja o momento certo — disse Noah querendo mais que tudo ir embora.

— Não é isso é outra coisa — Credence pegou o ursinho e saiu de perto das crianças indo até à janela e abriu olhando para fora — como Lucy disse hoje mais cedo, isso tem que acabar do jeito que começou com minha família.

Ela apanhou o urso. Noah e Meg ficaram olhando sem entender. Então ela subiu no parapeito da janela e jogou-se em direção ao nada. Enquanto caia ela pensava na dor que a sua família causou a Anastácia, Jensey e todos os envolvidos. Ela terminaria a linhagem de sofrimento do Royal Hills.

ORPHANAGEWhere stories live. Discover now