Parte 1 - 5

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O desprezo generalizado pelos alemães no pós guerra foi um fato. No caos da Alemanha dividida, muitos desejavam que o país fosse varrido da Europa. E daí vem a invejosa vingança que neste conto eu trato.

Do autor.

*

O polonês perguntou, empurrando o garoto alemão para uma caminhonete: ''Jak masz na imię?''.

O menino ignorou o homem e olhou para um espaço vazio no carro, ao lado de um garoto da sua idade. Sentou-se no espaço vazio. Olhou brevemente para o polonês que lhe tinha feito a pergunta.

O homem estava com uma touca ninja tapando o rosto.

Sussurrou para ele o garoto ao seu lado: ''Ele te perguntou seu nome''.

O homem fechou o bagageiro da caminhonete e entrou na parte da frente dela.

''Sei disso. Só não quis responder'', falou o garoto alemão, com seu olhar baixo e sério.

''E como a-aprendeu a falar po-polonês?'', perguntou o garoto ao seu lado, com um rosto sorridente.

''Não me lembro. Só sei''

Continuou cabisbaixo e sério ele.

''Hm... Eu sei um pouco graças a minha irmã mais velha q-que recebia aulas d-de po-polonês. E eu ficava ouvindo o que o pro-professor dizia. E qual é o se-seu nome?''

''Não me lembro."

''Hm... q-que estranho. Eu sou Heiko.'' Ele sorri. ''Já que não se lembra do-do-do que posso te chamar?''

''Espere...'' Ele parou e pensou. ''... então me chame de Zero se quiser''.

''Zero? Mas po-por quê?''

''Porque é o que sinto. É a única referência que tenho sobre mim. Não sinto nada. Não lembro de nada. Não posso e nem quero somar ou influenciar. Sou um completo 'Zero'. Um número maiúsculo que nada soma.''

''Você não se lembra d-de nada?... Nadinha mesmo?... '' O outro negou com a cabeça. "Isso é estra-tranho...''

A caminhonete tinha um teto de plástico no bagageiro, que era descoberto nas laterais e no fundo. Ela começou a andar e a tremer na pista de terra, antes do garoto alemão sério levantar o olhar e ver uma placa. Nela estava escrito: ''Szczecin, 151 km''.

''Tá curioso? Se pe-pergunta onde é o nosso destino, Zero?''

''Não.''

''Você é engraçado...'', observou abrindo mais o sorriso.''A gente vai pra Po-Po-Polônia. Não sei como seremos utilizados. Talvez pra trabalhos mais leves...''

O sorriso aberto continuou, abrindo-se mais: ''O homem disse q-que me-meus pais e minha irmã estão lá. Acho q-que foram os primeiros a serem le-levados há uns 9 meses com vários outros''.

''Por isso o sorriso. Vamos ser escravos, mas vai rever seus pais. Por isto não se importa com o trabalho forçado. Que incoerência lógica!'', deduziu rapidamente o garoto sério.

''Po-pois é. Você é engraçado e também é pe-perspicaz, Zero.'' O sorriso continuou, iniciando a pausa na conversa.

Uma chuva começou a cair naquele início de noite. Veio o som das gotas no teto do bagageiro. E quanto mais a caminhonete era acelerada, mais ela balançava.

Depois de mais uma grande balançada, o garoto alemão sério fechou abruptamente os olhos e viu uma cena em sua mente. Viu a caminhonete em que ele estava capotar após uma curva fechada.''Diga para minha família que eu os amo'', ouviu ele de Heiko, que estava caído na terra molhada da estrada.

Desbotador (COMPLETO)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang