Religião da Diversidade

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No decorrer do tempo, a Umbanda teve seus diferentes momentos de adesão e fala. Foi cruelmente perseguidos na época da ditadura do estado Novo, o que levou dirigentes e praticamentes a serem presos por crime de charlatanismo e curandeirismo. Muitas mães e pais de Santos foram cruelmente perseguidos, e alguns chegaram a ser presos ou mesmo tiveram seu templo atacados, como ouvi em vários depoimentos, como os de Mãe Abigail Kanabogi, Pai Pedro Miranda e Êkedje Maria Moura. Houve momentos, como nos anos 1960 e 1970, em que nossa religião explodiu, em termos de popularidade e adesão. Era noticiada nos veículos de comunicação de massa e tinha, através de seus festivais, encontros regionais e nacionais, nos quais reunia Umbandista do Brasil inteiro. Para maiores conhecimentos, recomendo o livro "Histórias da Umbanda", de Alexandre Cumino (2010), que constitui um excelente trabalho de pesquisa e conta, de forma detalhada, a história da Umbanda.
A partir do censo de 1991 (PEREIRA,2013), o IBGE incluiu a Umbanda na classificação das religiões, elaborada em parceria com o ISER (Instituto superior de Estudos da Religião). Desde então, o sacerdote de Umabanda se equiparou as autoridades das demais religiões existentes no país. Uma das mais importantes com sequências deste evento foi o fato de que o casamento na Umbanda passou a atender às exigências legais para ser validado como casamento Civil, de acordo com o estabelecido desse a constituição de 1934 no artigo 146: " O casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa [...] produzirá, todavia, os mesmos efeitos que o casamento civil [...]"
O sacerdote Umbandista também se igualou aos das demais religiões no que se refere aos direitos e deveres determinados por lei, como a contribuição previdenciária, obrigatória desde que os ministros de confissão religiosa foram equiparados aos trabalhadores autônomos (BRASIL, 1960). Os líderes Umbandistas passaram a poder obter passaporte diplomático, como  já era possível para líderes de outras religiões, dependendo da autorização do ministro das relações exteriores. O passaporte é previsto para pessoas que, conforme o artigo 6° do Decreto n° 1.983 (BRASIL, 1996), "embora não relacionadas no capuz  deste artigo, devam porta-lo em função do interesse para o país". E também passaram a usufruir do direito, garantido pelo Código Penal, desde 1941, a todos os ministros de confissão religiosa, de ficar em prisão especial antes de condenação definitiva.
Hoje a Umbanda é praticada em todos o solo nacional como religião brasileira e traz em seu bojo o diverso ruralismo da cultura local, de acordo com a região do país em que ela esteja sendo realizada. Este processo de ter uma religiosidade multicultural, ao contrário do que muitos podem crer, enriquece-nos ainda mais e prova o quanto a Umbanda é uma tradição religiosa profundamente brasileira.
   O Brasil é um país de proporções continentais. Ela guarda em seu ventre uma diversidade cultural muito grande, com tantas aldeias indígenas, negros africanos trazidos escravizados de diferentes partes da Mãe África e que igualmente foram para diferentes regiões de nosso Brasil. Seria impossível imaginar que um país assim não gerasse essa religião rica em doutrinas e não traduzisse as diferentes tradições dos conhecimento e costumes nele existentes.
Há de se pensar sobre a forma brasileira de praticar o catolicismo, com as romarias, ladainhas e procissões seguidas de festejos, folclóricos, além da cultura dos diferentes imigrantes vindos para o país. Ressaltam-se os povos ciganos, árabe, português, espanhol, francês, e muitas outras nacionalidades que se miscigenaram no nosso povo. Percebemos que o resultado dessa mistura foi a origem de muitos companheiros Exus e Pombagira que guardam, inclusive, os hábitos de vestimentas e costumes das épocas e dos locais de onde vieram. Eles se trajam, durante os rituais, com capas e cartolas. Ressalta-se, também, o conhecimento de magias, feitiços e encantarias praticados nessas culturas.
O Kardecismo tem grande influência nos rituais de Umbanda, pois o Brasil é o país de maior adesão kardecista do mundo. Portanto, a Umbanda é uma religião em que convergem diferentes culturas e tradições, fato que pode ser incompreensível para alguns, Mas que é perfeitamente harministro no plano espiritual, pois todos os saberes provém de Deus e caminham para ele.
O mais importante disso tudo é que  Deus, nosso pai celestial, nos criou individualmente. Somos diferentes. Logo, é natural que tenhamos preferências e afinidades religiosas diferentes. Cabe a cada indivíduo descobrir qual é o seu caminho religioso, quais são as suas raízes culturais e ancestrais para, desta forma, buscar a sua plenitude na tradição com que melhor se identifique. Saravá.


Escritora: Flávia Pinto

Umbanda Where stories live. Discover now