Família Real

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   Aimeé estava confusa com tantos sentimentos invadindo sua cabeça. Medo, curiosidade, ansiedade, insegurança... Tudo isso contribuia para sua mente ficar perturbada. Depois de ser literalmente largada em um dos corredores imensos, sentou-se no chão a espera de alguma alma caridosa aparecer e guiá-la para seu destino, seja lá qual fosse ele.
 
   Depois de aproximadamente dez minutos, passos pesados começaram a ecoar no corredor indicando que alguém estava chegando. Torcia para não ser a ruiva, por que ela a intimidava de um modo bem bizarro.

   — Mal chegou aqui e já está relaxada a ponto de ficar deitada pelos corredores? — a voz de Theodore indicava que o garoto estava em pé na sua frente. Pelo menos as vozes dos gêmeos eram diferentes.

   — Eu não estou relaxada!

   — Verdade, você parece perdida.

   — Seu irmão me deixou aqui depois de falar alguma coisa sobre um baile. Eu não sabia em que porta entrar, então resolvi esperar.

   — Por que não perguntou a um dos guardas? — o garoto estendeu a mão para que Aimeé pudesse se levantar.

   — Não converso com estranhos. — ela riu.

   — Acredite, eles serão seus melhores amigos por aqui. — Theodore disse sincero e apontou para uma porta no fim do corredor. A última porta, ao lado de uma enorme janela com vista para um jardim. — Ali é seu quarto, provavelmente suas coisas já estão lá.

   — Obrigada. — Aimeé agradeceu e já ia para seu novo quarto quando se lembrou de algo. — você pode me falar o que é esse tal de baile? Eu preciso mesmo ir? Nunca fui em nenhuma festa, imagina num baile!

   Theodore começou a rir do desespero evidente da garota que a olhou de um jeito estranho.

   — É como um baile de apresentação, tudo o que você precisa usar também já deve estar em seu quarto. Qualquer dúvida pergunte a uma criada, elas te ajudarão. Se você se sentir perdida na festa, posso te fazer companhia. Também odeio essas coisas...

   Criadas? Aimeé não queria pensar na possibilidade de ter alguém como uma criada. Ela odiava o fato de algumas pessoas servirem a outras sem nenhum propósito.

   — Tudo bem, espero conseguir passar por isso. — ela sorriu e o garoto seguiu seu caminho de volta.

   Aimeé abriu a porta do quarto e a primeira coisa que sentiu foi um aroma de rosas. Ela não gostou daquele cheiro, era muito forte e fazia com que o cômodo ficasse mais impessoal.

   O quarto não se parecia em nada com o que Aimeé viveu a vida inteira. No meio do quarto tinha uma cama grande, parecia muito macia. As paredes eram em um tom claro de azul e no final do quarto tinha uma sacada que mostrava o mesmo jardim da janela do corredor.

   Aimeé abriu o grande guarda-roupa e viu suas humildes roupas dispostas em cabides elegantes demais para elas. No canto havia um vestido que a garota nunca tinha visto. Ela o tirou do cabide com muito cuidado, era tão frágil e delicado que Aimeé tinha medo até de respirar perto dele.

   O vestido era vermelho escuro, com detalhes mais claros nas mangas e na imensa saia. Talvez a mulher mais rica que Aimeé conhecia nunca tivesse usado algo assim. A garota passou a mão por todo o tecido mais uma vez, aquilo parecia ter sido feito por anjos.

   A garota colocou o vestido de volta no mesmo lugar tentando não estragar nada. Aquilo deveria custar uma vida se precisasse de conserto. Sentou-se na cama, que por sinal era mais macia do que tinha imaginado e suspirou. O que iria fazer até chegar a noite? Não conhecia muita gente no castelo e não queria sair do quarto pelo simples motivo de não saber voltar depois.

   Enquanto pensava nas possibilidades, escutou alguém dar leves batidinhas na porta do quarto. Uma mulher que apresentava ter uns 40 anos, a observava com uma expressão curiosa e divertida ao mesmo tempo.

   — Olá, senhorita Aimeé. Eu serei sua criada particular. Meu nome é Olivia! — sua voz tinha um sotaque francês que a deixava mais charmosa do que deveria. Ela lhe lembrava Janna.

   — Ah, particular?

   — Isso. A senhorita deve me acompanhar pois iremos apresentá-la para os outros criados e para a família real completa.

   Aimeé arqueou uma sobrancelha expressando sua confusão. Por que apresentá-la para todos assim? Ela nem era tão importante, apenas uma garota fruto de uma aposta.

   — Ah, sim. Vamos. — concordou com a cabeça e deixou ser guiada pela mulher simpática até uma sala enorme.

   O local parecia estar megulhado em ouro de tanto brilho que emanava. Havia muitas pessoas no centro, encarando-a como se ela fosse uma apresentação teatral. O barulho do piano no centro da sala a chamou a atenção. Theodore, ou Bastien, não sabia ainda diferenciar os dois, tocava como um anjo.

   — Oh, minha querida. Que bom te ver! — uma voz aguda chamou sua atenção.

   A mulher era extremamente bonita. Tinha traços angelicais e postura correta demais para ser alguém comum. A desconhecida misteriosa estava abraçada com o rei, então Aimeé deduziu que ela seria a rainha, certo?

   A garota não conhecia aquela mulher, mas a mulher parecia conhecê-la há muito tempo. A suposta rainha se soltou do rei e colocou a mão no ombro do gêmeo que tocava piano e logo ele parou.
   
   — Quero que saiba que será bem acolhida aqui e logo Heitor falará com você sobre tudo por aqui. — ela apontou para o homem ao lado. O mesmo que foi buscá-la na Alemanha. — Meu nome é Apolline e creio que já conhece meus filhos Theodore e Bastien..

   A mulher continuou a falar mais coisas sobre a família real e tão querida, talvez estivesse a apresentando para os outros empregados, mas Aimeé não conseguia mais prestar atenção em suas palavras. Tudo o que ela conseguia ver era um enfeite atrás de Apolline. Parecia um efeite comum, em cima de uma prateleira, a não ser pelo mesmo líquido preto que ela vira no Casarão.

   O líquido escuro escorria pela parede até quase tocar o chão. Aimeé continuava com os olhos fixos no enfeite quando se deu conta de que não havia escutado a mulher.

   — ... para isso. Tudo bem Aimeé? — a rainha terminou de falar sorridente.

   — Er.. Sim, tudo.

   — Pode voltar para seu quarto para se arrumar, e se quiser alguma coisa é só chamar Olivia. — a garota concordou e fez uma reverência desajeitada em frente o casal real. Ela pode escutar uma risada baixinha vindo do lado do piano. Com certeza era Theodore.

   Aimeé revirou os olhos ao escutar a risada dele e saiu dali sendo acompanhada por Olivia. A mulher não falava nada, as duas permaneciam em silêncio enquanto iam para o quarto. Parecia até que ela precisava de uma babá. Poderia muito bem chegar no quarto sozinha, ou não. Provavelmente iria se perder, então agradeceu mentalmente pela ajuda da mulher.

   Quando chegaram em frente ao cômodo, Olivia abriu a porta e antes de deixar a passagem livre para ela entrar disse:

   — Eu quero lhe pedir uma coisa, pequena. Se não for incômodo. — a voz da mulher era doce e suave com um toque de medo por trás.

   — Claro, diga!

   — Fique longe do Bastien. Ele será probleminha na sua cabeça futuramente, pode escrever isso. — falou como se tivesse certeza que algo de ruim iria acontecer.

   — Como a senhora sabe disso?

   — Apenas sei. Sei de muitas coisas. Ele é..

   Antes de continuar, a mulher foi interrompida por algumas tosses fracas. Era só citar o nome dele que ele aparecia, impressionante.

   — Estou perdendo alguma coisa aqui senhoritas?

   — Ah.. Ah.. Claro que não! — respondeu Aimeé rapidamente um tanto nervosa.

   — Que bom, quero que fique impecável porque você será o meu par no baile, mon amour. Venho lhe buscar em 3 horas. E quanto a você, venha comigo. — direcionou a voz para a mulher que logo estremeceu.

   Sua voz era serena e breve. Depois de falar, o garoto apenas deixou Aimeé plantada sem reação. Como assim par? Será que ele tinha escutado alguma coisa que Olivia dissera?

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⏰ Última atualização: Aug 05, 2017 ⏰

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