Questões de Honra e Lealdade - Parte 9

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— Estamos em pé de igualdade, Rokurota-san. Mas esta luta não será um empate. Faça o primeiro movimento, basta um passo para frente e eu irei aguardar o seu ataque. Primeiro você virá com cautela, mas depois de cobrir metade da distância...

Vencendo metade do caminho a passos curtos, Rokurota saltou repentinamente. Se lançou de frente para Hanshirô. Mas isso não foi tudo, sabia ser esperado por uma estocada defensiva. No momento em que veio o golpe inimigo, virou o seu corpo no último instante, saindo do caminho da lâmina do outro.

Seu próprio golpe veio em seguida.

Tendo previsto todo aquele movimento de sua vítima, o vassalo desceu a sua espada em um arco que visava os braços do traidor; estendidos e vulneráveis logo a sua frente.

Mas Hanshirô não era um um espadachim qualquer e, tanto quanto Rokurota, sabia exatamente o que estava fazendo.

Quando a ofensiva do executor ainda estava a meio caminho de seu objetivo, o traidor girou os punhos em um movimento rápido. Torceu quase todo o corpo para dar força e direção ao golpe. Então, com o fio de sua arma apontando para cima, o que era antes uma estocada, transformou-se em um golpe ascendente que mirava os pulsos do inimigo.

A situação se invertera, mas a série de golpes e contra-golpes estava longe de acabar.

Um brilho nos olhos de Hanshirô denunciou a sua manobra. E Rokurota, de braços ainda levantados e um meio a um golpe já fracassado que lhe custaria ambas as mãos, conseguiu evitar a sua desgraça. Soltando o ar em uma vigorosa expiração, o vassalo executou uma leve mudança na ângulo de sua katana.

O que era ataque se transformou em uma defesa.

As armas dos samurai não se chocaram com violência. Foi quase com leveza que elas se tocaram. Com a graça de um mestre, o executor desviou a ofensiva do oponente para a sua esquerda. Tão logo o tinir do aço ressoou pelo casebre, lançou o seu próprio contra-golpe.

O bote executado com maestria buscou buscou a garganta de Hanshirô com a ponta da espada.

Não houve morte.

Hanshirô acompanhou a velocidade da serpente de aço. Escapou da derrota com um ágil salto para a direita. Se afastou para trás em seguida.

Não quebraram o contato visual.

Rokurota ajeitou sua posição, dando pequenos passos para o lado até ficar de frente para o adversário. Quanto a Hanshirô, a primeira coisa que fez foi mudar de postura.

Ele abaixou os pulsos e relaxou os braços, sua espada já não apontava para o queixo do inimigo, mas em um ângulo obtuso, direcionava a ponta para o tornozelo do outro. Gedan-no-kamae. Uma posição defensiva, de quem pretende defletir golpes e abrir a guarda do oponente.

A mudança de postura acabou por revelar um corte à altura do peito no hitatare do traidor. Sangue escorria de um ferimento superficial.

Rokurota respondeu à visão e a postura do inimigo se colocando em uma posição de ataque. Estendeu os braços para cima e manteve a katana que causara o primeiro ferimento acima da própria cabeça numa perfeita jodan no kamae.

Não piscaram.

De respiração controlada, se avaliaram com ainda mais intensidade. Tentavam enxergar para além do visível. Sentir com a alma as possibilidades e entender qual seria o próximo movimento do inimigo. Não podiam parar, agora, já estavam em combate. Apenas quando a morte encontrasse um dos dois isso deixaria de ser verdade.

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