— Estamos em pé de igualdade, Rokurota-san. Mas esta luta não será um empate. Faça o primeiro movimento, basta um passo para frente e eu irei aguardar o seu ataque. Primeiro você virá com cautela, mas depois de cobrir metade da distância...
Vencendo metade do caminho a passos curtos, Rokurota saltou repentinamente. Se lançou de frente para Hanshirô. Mas isso não foi tudo, sabia ser esperado por uma estocada defensiva. No momento em que veio o golpe inimigo, virou o seu corpo no último instante, saindo do caminho da lâmina do outro.
Seu próprio golpe veio em seguida.
Tendo previsto todo aquele movimento de sua vítima, o vassalo desceu a sua espada em um arco que visava os braços do traidor; estendidos e vulneráveis logo a sua frente.
Mas Hanshirô não era um um espadachim qualquer e, tanto quanto Rokurota, sabia exatamente o que estava fazendo.
Quando a ofensiva do executor ainda estava a meio caminho de seu objetivo, o traidor girou os punhos em um movimento rápido. Torceu quase todo o corpo para dar força e direção ao golpe. Então, com o fio de sua arma apontando para cima, o que era antes uma estocada, transformou-se em um golpe ascendente que mirava os pulsos do inimigo.
A situação se invertera, mas a série de golpes e contra-golpes estava longe de acabar.
Um brilho nos olhos de Hanshirô denunciou a sua manobra. E Rokurota, de braços ainda levantados e um meio a um golpe já fracassado que lhe custaria ambas as mãos, conseguiu evitar a sua desgraça. Soltando o ar em uma vigorosa expiração, o vassalo executou uma leve mudança na ângulo de sua katana.
O que era ataque se transformou em uma defesa.
As armas dos samurai não se chocaram com violência. Foi quase com leveza que elas se tocaram. Com a graça de um mestre, o executor desviou a ofensiva do oponente para a sua esquerda. Tão logo o tinir do aço ressoou pelo casebre, lançou o seu próprio contra-golpe.
O bote executado com maestria buscou buscou a garganta de Hanshirô com a ponta da espada.
Não houve morte.
Hanshirô acompanhou a velocidade da serpente de aço. Escapou da derrota com um ágil salto para a direita. Se afastou para trás em seguida.
Não quebraram o contato visual.
Rokurota ajeitou sua posição, dando pequenos passos para o lado até ficar de frente para o adversário. Quanto a Hanshirô, a primeira coisa que fez foi mudar de postura.
Ele abaixou os pulsos e relaxou os braços, sua espada já não apontava para o queixo do inimigo, mas em um ângulo obtuso, direcionava a ponta para o tornozelo do outro. Gedan-no-kamae. Uma posição defensiva, de quem pretende defletir golpes e abrir a guarda do oponente.
A mudança de postura acabou por revelar um corte à altura do peito no hitatare do traidor. Sangue escorria de um ferimento superficial.
Rokurota respondeu à visão e a postura do inimigo se colocando em uma posição de ataque. Estendeu os braços para cima e manteve a katana que causara o primeiro ferimento acima da própria cabeça numa perfeita jodan no kamae.
Não piscaram.
De respiração controlada, se avaliaram com ainda mais intensidade. Tentavam enxergar para além do visível. Sentir com a alma as possibilidades e entender qual seria o próximo movimento do inimigo. Não podiam parar, agora, já estavam em combate. Apenas quando a morte encontrasse um dos dois isso deixaria de ser verdade.
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Questões de Honra e Lealdade
Historical FictionDois amigos de infância, samurais experientes na arte da espada, se encontram mais uma vez no instante em que seus objetivos se interpõem. Nos últimos instantes que têm direito, conversam sobre o passado, sobre as tragédias recentes e suas pretensõ...