Montanha-russa de Emoções - Remille

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"Quero te encontrar no Champ de Mars após você ser liberado hoje.

Ass: E"

Meu nome é Remille, e a Elizabeth é minha colega de quarto. Moramos nos alojamentos do 14° Batalhão do Exército de Paris, e vivemos brigando. Ela nunca arruma a droga da cama dela, e sempre deixa calcinhas espalhadas pelo quarto, toda desleixada. Eu sempre cato tudo e jogo no deposito de roupa suja da nossa ala do alojamento.

Essa manhã irá acontecer a cerimônia de entrega de missões. É um evento importante de cada batalhão, pois os líderes de importantes missões do planeta são escolhidos aqui. Cada batalhão ao redor do globo faz sua própria cerimônia, exceto os cinco primeiros de Paris, que têm seu evento realizado no Teatro do Louvre, na presença do próprio Napoleão. Ainda bem que não faço parte dos cinco primeiros, eu ficaria muito nervoso.
De qualquer forma, eu estava me preparando para ir ver a seleção dos postos, quando eu vi uma carta passar por debaixo da porta. Peguei a carta e abri a porta, e quando olhei pro lado direito, vi cabelos loiros sumindo ao final do corredor e dobrando, indo em direção à saída de incendio. Coisa estranha, porém, curiosa. Voltei ao quarto e fui ler a carta. Ela continha os seguintes dizeres:

"Quero te encontrar no Champ de Mars após você ser liberado hoje.

Ass: E"

Um tal de E me chamando pra um encontro? Liza não vai gostar disso. Que seja, vou terminar de me arrumar e ir para a cerimônia.

Chegando lá, foi difícil achar um lugar legal pra mim e pra Liza, mas acabamos achando um na quinta fileira. Ela estava mais ansiosa que o Hortelino quando a temporada de caça abre. Ela tava tão ansiosa que tava mastigando o próprio cabelo. Nojento. Enfim, nós não sabíamos se nossos nomes seriam ditos, e estávamos esperando com uma tensão enorme, até que o general disse meu nome.

-Remille Mirabeau de Augustine, suba aqui.
-Estou indo! - Eu disse enquanto ia no palco receber meu posto
-Você e um time de mais 9 pessoas a sua escolha participarão de uma missão para fora do sistema solar. Pegue o memorando e sua insígnia de líder.

Nesse momento, o burburinho dos outros magos e soldados de todas as patentes ali presentes parou, e todos começaram a olhar para mim com uma certa inveja. Eu parei de respirar. Eu não conseguia acreditar! Eu ia para fora do sistema solar! Logo eu, um mago qualquer. Eu comecei a tremer e a suar frio, subitamente tinha batido um nervosismo tremendo. Eu sentia todos os olhares invejosos da plateia me fuzilando, e eu estava lá, com cara de tacho, tentando estender a mão.

-Tenente? - Disse o general, me chamando de volta à realidade
-Oi!... Oi...
-'Oi' o quê? - Disse ele, com o tom enérgico típico de um general esperando o "senhor"
-Oi, senhor.
-Então. Você foi o escolhido pelo seu desempenho excepcional todos os dias em tudo que lhe mandam fazer, e ser um dos poucos magos aqui que conseguiu colocar um barco para voar. Antes de descer, você tem que selecionar ao menos 3 pessoas para integrar o seu time. Quem você escolherá, soldado?
-Elizabeth, Phillip e um amigo meu chamado Jean.
-Como meus superiores deram a liberdade a você de fazer seu time, enviarei seu time provisório a eles. Os detalhes da missão estão no seu memorando, e seu barco estará a disposição nas próximas semanas. Você será notificado quando ele estiver pronto. Dispensado, tenente.
-Senhor, sim, senhor! - Disse eu, voltando ao meu lugar.

Philip era um colega meu do alojamento, ele ficava num quarto localizado no bloco ao lado do meu. Ele estava presente na cerimônia, e quando eu desci, ele sorriu pra mim, como se me agradecesse por tê-lo escolhido. A gente se batia as vezes no alojamento e ele era um tanto arrogante, mas uma pessoa muito bacana.

Voltei então ao meu lugar, e fiquei pensando comigo mesmo. Eu ainda não tinha digerido o fato de que eu ia pro espaço. Melhor ainda, que eu ia numa missão para fora do sistema solar, a primeira da história do planeta! Que empolgação.
O resto da cerimônia foi chato. Sorte que fiquei conversando com a Liza, já que ela não consegue ficar quieta por muito tempo.

Após a cerimônia acabar, pareciam que tinham passado dias. Voltei para o quarto com a Liza, e ela estava muito animada com a missão. Ela não parava de falar em como ia ser legal e tudo mais. Enquanto ela tagarelava, a carta de "E" não saía da minha cabeça. Esse tal de E queria que eu o encontrasse no Champ de Mars, e agora eu já estava liberado. Então eu fiz uma besteira.

-Liza, quer sair comigo? - Disse eu, cortando o que ela estava dizendo
-... É s-sério? - Ela estava gaguejando. Nunca a vi tão nervosa antes
-Sim. Quer ou não?
-N-não, espera aí! Assim do n-nada? - Disse ela, desconcertada. Ela tinha sido pega de surpresa, e tinha começado a suar.
-O que foi, não quer?
-... Q-quero. Idiota. - Disse ela baixinho, super vermelha. Nunca a vi agindo daquela forma.
-Ótimo. Vamos no Champ de Mars. Passear, relaxar, talvez comer algo. Sei lá. Acho que é uma coisa legal que podemos fazer juntos.
-E-entendo. Hm... Vamos nos arrumar? - Disse ela, vermelha igual um tomate, sorrindo.
-Vamos. - Disse eu, a seguindo.

Fomos para o nosso quarto, ela saltitando igual um conto de fada de uma forma divertida. Trocamos de roupa, então fomos em direção ao trem subterrâneo. Esse trem era a mais nova criação dos tecnomagos imperiais, que estavam levando a tecnologia a vapor a um nivel impressionante. Ele era todo equipado com assentos aquecidos, era bastante rápido, mas em horários de pico lotava que era uma beleza. Tivemos sorte de pegá-lo relativamente vazio.
No caminho, Liza veio conversando comigo sobre onde o que a gente ia fazer. Aparentemente, ela estava mais animada e um pouco menos nervosa, mas isso me dava um sentimento ruim na garganta, de estar mentindo pra ela. Não sei. Só sei que eu sou um idiota.

Quando chegamos na estação Bir-Hakeim, ela saiu eufórica do trem me puxando pela mão. Nunca a vi tão animada na vida, parecia que tinha ganhado na loteria. Saímos da estação e fomos em direção ao Champ de Mars para encontrar o tal de E. Não havia local especificado no bilhete, mas o Champ de Mars estava deserto. A gente tava lá em plena quarta feira, os poucos que eu conseguia ver eram turistas. Eu e a Liza fomos andando pelo Champ de Mars, calmamente e apreciando o parque. Ela estava agarrada ao meu braço, com a cabeça apoiada no meu ombro, e eu conseguia sentir o calor dela por cima de meu casaco. Aquilo me constrangeu um pouco.

Mas eu não conseguia tirar da cabeça o real motivo de eu ter vindo ao Champ de Mars, que era encontrar o tal do E.
Então eu a vi. Uma garota loira, de boina marrom, olhando o horizonte, pensativa, sentada num banco. O jeito dela, fazia transparecer que ela estava esperando alguém, visto que estava olhando a hora naquele momento. Liza, que tinha estranhado eu ter parado de andar, percebeu que eu estava olhando para a moça, e ficou visivelmente chateada.

-Ei, vacilão, ta fazendo o que? Essa é a nossa tarde, para de olhar pra qualquer dondoca que aparece pela rua.
-Calma, Liza. Eu explico mais tarde.
-É o quê...?! - E então, me desvencilhando dela, acabei a deixando no vácuo. Me aproximei da loira, que me olhou, curiosa, no que parecia estar me avaliando.
-Você é Remille Mirabeau? - Disse ela.
-Sim, sou eu.
-Eu sou Eloise. Eu gostaria de conversar com você. Mas se não se importa, meu jovem, gostaria que fosse em particular. - Disse ela, no que Liza fez cara feia.
-Elo... Você é o E? - Perguntei perplexo.
-Sim, sou eu. Se puder me acompanhar... E com licença, senhorita. - Disse Eloise, me arrastando para um pouco mais longe. Liza ficou ali, na frente do banco, me olhando. Quando eu olhei para trás, eu vi uma expressão de incredulidade misturada com decepção. Nesse momento eu me toquei de uma coisa: eu tinha feito algo terrível.

O Viajante Estelar e o Colapso GalácticoOnde histórias criam vida. Descubra agora