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Denunciando a injustiça e as perseguições do mundo à sua volta, Amélia sentia-se cada vez mais desentendida pela sua família, amigos e por quem mais confiou este tempo todo. A vida de Amélia era um teatro dramático e sem fim. Ela era o futuro, as pessoas eram o passado e a sua vida era o presente. Queria ser como os pássaros, autónomos e com destino definido. Nada fazia sentido e olhando para o futuro que não ia existir, fazia com que se sentia perdida é só. Resolver todos estes problemas era um problema para Amélia que não se conseguia controlar nos seus sentimentos, estava fechada num mundo onde os sonhos não existem e  onde o tempo era indiferente. Já não sabia o que gostar ou odiar, era difícil amar quando não somos amados. Sentia-se indesejada por todos e ainda tolerante por alguns.  Neste momento, os seus melhores amigos eram os livros, silenciosos e confiantes, o que é uma das suas grandes vantagens! Mas nem eles eram bem vistos por quem mais sabe ou por quem mais deveria saber...
Depois da Universidade, a sua vida iam ser muitas páginas em branco para escrever e conhecer novos caminhos onde as pessoas viajam com as suas carroças. Nada era o que era e o tempo também não ajudava a resolver os problemas, só os tornava mais dramáticos e frágeis. Amélia estava com um sentimento completamente indiferente com o que acontecia à sua volta, como se deixasse de sentir, cheirar, tocar! Não precisava de companhia e iria escrever a sua vida sozinha sem ninguém a riscar. Agora só tinha de se ver livre do espírito de Henrique com o tal espelho de prata que Alice lhe arranjou e ter alguma paz e descanso naquela casa e assim teria a certeza de que a sua família estaria em segurança. Quanto a Vasco não estava muito preocupada, tinha sido só uma paixoneta que se acaba por esquecer e acabariam por ser apenas amigos. O mais difícil era tentar-lhe explicar isto pois uma pessoa apaixonada era sega é incompreensível. E quanto a seus pais não haveria nada a fazer e talvez apreendessem com o tempo.
Estes tempos não são fáceis para ninguém e levá-la avante era o melhor a fazer, ignorar qualquer infâmia, não levar a vida tão a sério e falar a verdade a mentir. Amélia não tinha a certeza se iria conseguir cumprir os seus objetivos mas se conseguir resolver os seus problemas, serão as suas últimas preocupações.
Vasco ainda estava no seu quarto depois da conversa e Amélia ainda não tinha coragem de voltar a entrar, mas era o seu quarto e tinha todo o direito de lá entrar. Amélia espreita pela porta e vê-lo sentado no chão muito triste a olhar para uma foto. Ela entra devagarinho, senta-se ao lado dele e diz-lhe:

- Desculpa por ter de ser assim. Eu também gosto muito de ti mas, vamos ser só amigos... O que é que me dizes? - Diz Amélia sorrindo.

- Explicas-me esta foto? - Pergunta Vasco mostrando-lhe a foto.

Aquela foto era aquela de Henrique que Amélia tinha guardado muito bem na sua secretária para que ninguém a descobrisse. Não era fácil tentar explicar a Vasco o porquê de a ter, pois de certeza que não iria acreditar. Amélia desvia a cara, fecha os olhos e diz-lhe:

- Eu podia tentar explicar-te mas tu não irias acreditar.

- Tu gostavas dele, era isso?

- Não, é pior do que possas pensar.

- Então é porquê?

- Eu sei que isto parece uma loucura mas ele anda a perseguir-me!

- Como se o Henrique está morto?!

- Tu não percebes, a alma dele quer matar-me.

- Tem a certeza disso?

- Sim tenho. E ele aparece nos meus sonhos e eu tenho medo que se possam realizar.

- Isso é muito estranho... Mas porque é que ele te quer fazer mal?

- Ainda não descobri mas também não me interessa, só me quero ver livre daquela alma!

Vasco pousou a foto onde estava e deu um abraço a Amélia. Ela sentia-se feliz por não ter reagido mal e mostrar-lhe que não se importava com os seus problemas. Depois, Vasco diz-lhe ao ouvido:

- Eu ajudo-te a ver livre dessa alma.

Nisto, Alice aparece à porta com a bandeja do chá. Ela não diz nada e fica a ver aquele momento muito querido entre ele e Amélia. Quando os dois acabam de se abraçar, Amélia olha para a porta e vê a empregada a muito emocionado a olhar para eles. Amélia pergunta a Alice:

- Precisa de alguma coisa Alice?

- Não menina, era só para perguntar se queria um chá... E o menino também quer?

- Não eu já estava de saída muito obrigado. Vemo-nos mais logo? - Pergunta Vasco a olhando para Amélia.

- Claro, vêmo-nos amanhã?

- Combinado.

Depois de Vasco ir-se embora, Alice bate palmas e diz para Amélia:

- Aí menina gostei tanto de vos ver abraçados! E olhe que o rapaz é bem giro.

- Não comece já a imaginar Alice, nós somos apenas amigos.

- Está bem, amigos... - Diz Alice com cara de gozo.

Amélia riu-se e sentou-se para Alice lhe servir o chá. Enquanto a empregada lhe servia o chá, dizia para Amélia:

- Tenho uma coisa muito importante para lhe dar.

- O que é? - Perguntava Amélia curiosa.

- Lembra-se da conversa que tivemos na sala?

- Sim...

- Eu arranjei o espelho de prata!

- A sério? Onde é que o arranjou?

- Isso agora não interessa. Tome o espelho e esconda-o num lugar onde ninguém o possa encontrar.

- Está bem e obrigada Alice, foi uma grande ajuda.

- De nada menina, eu vou estar sempre aqui para si.

Amélia bebe o chá enquanto olhava para aquele lindo espelho de prata, pensando que o dia em que iria banir a alma de Henrique estivesse perto de acontecer e a sua família ia estar finalmente a salvo de espiritualismos.

A Minha Motivação |livro 1|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora