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Passados dois dias após a morte de Henrique, Amélia iria estar presente no funeral. Ela não gostara nada de funerais, era uma despedida tão triste... Preferia recordar as pessoas em vida do que mortas. O funeral duraria a manhã inteira onde familiares e amigos de Henrique se iriam despedir de Henrique que partiu cedo de mais.

Amélia levantou-se bem cedo, vestiu um vestido preto, um chapéu pequeno preto, sapatos pretos... Enfim tudo preto como é costume vestir-se desta cor para os funerais, o que os tornava mais tristes ainda.

Amélia não dizia nada. Os seus olhos brilhantes diziam tudo e às vezes caiam lentamente umas lágrimas, seus pais estavam preocupados com o estado dela, estava tão desanimada... Ela ficara traumatizada com a morte de Henrique. Hoje ela não dormira, ficando toda a noite a pensar na tragédia. Para o funeral, Amélia levara as flores que Henrique tinha-lhe oferecido, não conseguia ficar com as flores pois sempre que olhava para elas sentia-se cada vez mais culpada.

Na cerimónia, muita gente chorava a sua morte, outros que mantinham a postura como Amélia. Ao entrar, vê Henrique no caixão completamente pálido e com os olhos fechados. Ela pousa as flores que ele lhe tinha oferecido ao pé de muitas outras flores. Depois senta-se ao pé de outros familiares de Henrique. Amélia, que não mostrava o seu sofrimento perguntou a um deles:

- Peço desculpa por estar a perguntar isto porque não é a melhor altura, mas sabe por acaso como é que ele morreu?

- Posso saber quem é a menina? - Perguntou-lhe um familiar de Henrique.

- Sou Amélia de Carvalho, colega de faculdade de Henrique.

- Ah já sei quem é. O meu filho costumava falar muito sobre si. Sou o pai.

- Os meus pêsames... - Disse ela tocando no ombro do homem.

- Nem imagina como é que fiquei quando recebi a notícia. Vim o mais depressa que pode para Coimbra.

- Mas ninguém sabe como é que aconteceu esta tragédia?

- Pelo que sei, ele suicidou-se no seu quarto com um tiro na cabeça... Foi a avó que o encontrou já sem vida. - Ao acabar de dizer isto, o senhor Dias põe as mãos na cabeça e começa a chorar.

- Que horror. - Diz Amélia tentando acalmar o homem.

Amélia nunca tinha ido a um funeral, esta tinha sido a sua primeira vez e espera que fosse a última. Nunca gostara de funerais, achava que era a pior maneira de se despedir de alguém. E, agora sabendo de como Henrique se tinha matado, sentia-se ainda pior. Era estranho ver uma pessoa que conhecemos naquele estado...

Ao sair da igreja, foram para o cemitério onde Henrique seria enterrado. O cemitério era um lugar aterrorizante, frio e triste. As pessoas merecem mesmo uma despedida assim tão triste? Devemos recordar as pessoas em vida, não na sua morte. - Pensava Amélia.

As roupas pretas lembravam-lhe os trajes que utilizava na Universidade, são tão pobres...

Naquele dia estava sol, algo muito raro no mês de fevereiro. Os homens que estavam a escavar a terra estavam todos soados, cansados mas também já estavam abituados. Quando o caixão foi posto e tapado, as pessoas bateram palmas, abanavam no ar os lenços brancos e atiravam o chapéu. Depois de os familiares e amigos de Henrique irem-se embora, Amélia permaneceu lá, à frente do túmulo. Ela pôs -se de joelhos, olhou para o céu e disse baixinho:

- Porque é que tinhas de fazer isto por mim?

Depois olhou para o túmulo, beijou a mão e posa sobre a lápide e diz:

- Adeus Henrique...

Nisto, olha para trás e vê sua mãe com os braços cruzados e diz-lhe:

- Sinto muito a tua perda.

- E o que me custa mais nisto tudo, é que não me despedi dele.

- Soube por ventura que ele te amava.

- Como soube?

- Vi a carta que estava em cima da tua secretária.

- A mãe tem de parar de mexer no que é meu!

- Desculpa filha, foi sem querer. Eu estava a limpar o teu quarto já que ainda não arranjámos outra empregada...

- Sim mas como é que a encontrou se estava dentro do meu diário?

- A carta simplesmente caiu.

- E como a mãe é tão cusca, leu-a.

- Pois mas já devias saber como é o meu feitio. Gosto de saber sempre tudo o que se passa à minha volta.

Diana, ao acabar de dizer isto, mãe e filha foram para casa. Ao lá chegar, Diana abre a porta de casa e não vê ninguém. Amélia sentia a falta de Alice, ela era a mulher da casa pois era ela que abria a porta de entrada, preparava as refeições, atorava os problemas da família Miranda de Carvalho e limpava, mas o mais importante, é que cuidava da casa como se fosse sua.

Amélia foi para a biblioteca de sua casa, onde iria estudar para as avaliações da Universidade. Aquela biblioteca era muito especial, pois era onde se sentia confortável e alegre. Também só era usada pela estudante da casa. Passado um bocado chega sua mãe com cara de poucos amigos por ver a sua filha agarrada aos livros. Ela senta-se ao lado da filha e diz-lhe:

- Tens visitas.

- De quem?

- Da Alice.

- A Alice? Depois de a despedir ela ainda tem o descaramento de aparecer? Desculpe mãe mas nestas alturas não consigo falar com ela.

- Olhe que é importante. Vá lá.

- Pronto eu vou... - Disse Amélia aborrecida.

Alice encontrava-se na entrada da casa. Amélia ao vê-la achou estranho. Mas o que é que esta bandida da pior espécie quererá? - Pensava ela.

- Menina... - Disse Alice ao vê-la.

- O que é que veio aqui fazer?

- Precisava de a ver e vim pedi-lhe uma coisa.

- Diga lá.

- Oh minha formosa Amélia, eu gostava muito de voltar a trabalhar nesta casa...

- Para quê? Roubar-nos ainda mais?

- Não, porque eu preciso mesmo deste emprego. Por favor menina. - Disse Alice ajoelhando-se perante Amélia.

- Vou ser sincera consigo. Ainda não arranjámos nenhuma empregada desde que se foi embora, minha mãe é que tem feito tudo e sinto a sua falta. Mas o que fez é imperdoável.

- Menina eu prometo que nunca mais o farei, juro pela rainha Santa Isabel. Eu preciso deste emprego para o meu próprio sustento.

- Eu não a vou perdoar por ter roubado mas poderá voltar a trabalhar nesta casa.

- A sério?! Ai que bom estou tão feliz! Obrigada. - Disse Alice beijando a mão de Amélia.

A empregada vai então começar as suas tarefas, vendo o que poderá fazer. Amélia olha para trás e sorri para Alice.

Ao anoitecer, Amélia depois de jantar vai dormir. Como foi duro hoje! - Pensava ela ao mesmo tempo que bocejava. Antes de adormecer, olha para a porta e vê Henrique. Ao vê-lo assusta-se, esfregando os olhos para verificar se era mesmo ele. Amélia ouve-o falar com ela mas ao mesmo tempo não ouvia o que o espírito de Henrique dizia. Amélia ficara imóvel na cama, assustada com o espírito que, apesar de não ter cabeça, sabia que era Henrique. De repente, o espírito de Henrique desaparece junto da porta ficando Amélia com os olhos em bico. Durante o resto da noite Amélia não dormiu, receando que o espírito aparecesse novamente.

A Minha Motivação |livro 1|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora