As últimas duas horas de Drico foram regadas a abraços, fotos ao lado dos seus fãs, autógrafos e diversão. Embora Nando não pudesse acompanhá-lo naquela tarde de autógrafos, Connie não o deixou só nenhum minuto ao longo de todo o evento.

Agora, o casal de amigos saía da cafeteria, onde fizeram uma pausa rápida e seguiam pela calçada na direção do carro da agente, que se incumbira de deixar o escritor em seu apartamento, para só depois seguir para sua casa.

— Você foi mesmo maravilhoso, Drico! — dizia Connie animada e de braços dados com o escritor que sorria satisfeito. — Acho linda a forma como trata seus leitores, é gratificante trabalhar para alguém como você! — concluiu com sinceridade.

— Obrigado, Connie! É que eles são os responsáveis por eu ser o que sou hoje, sou muito grato, sabe!?

— Eu sei, você está certo, precisa valorizar cada um deles e... — falava enquanto abria a porta do seu carro, sem perceber que Drico não a ouvia.

O escritor olhava fixo para o outro lado da rua, onde um homem vestido com um sobretudo bege o encarava, enquanto segurava com uma das mãos os seus óculos escuros.

Drico já o vira antes, embora não se lembrasse de onde, tinha a impressão de ter cruzado com aquele olhar em outras ocasiões, como se aquele homem o estivesse seguindo. Enquanto o escritor retribuía o olhar, sem saber se acenava ou mesmo se ignorava, um arrepio percorreu rapidamente por seu corpo, como um mau agouro.

O escritor estava acostumado a ser encarado na rua, afinal, era conhecido, não como uma celebridade da TV, mas muitas pessoas o reconheciam por seu trabalho. Por um momento imaginou se tratar de um fã, mas o olhar daquele homem não parecia ser de admiração ou nada do tipo, embora parecesse um tanto quanto interessado nele.

Talvez aquele homem do outro lado da rua não fosse seu fã, mas o conhecesse. Talvez apenas não gostasse dos seus textos, afinal, nem todos curtiam histórias com canibais, pedófilos e dezenas de outros psicóticos. Não era incomum alguém lhe perguntar de onde vinha aquele tipo de inspiração.

A verdade é que sua vida despertava curiosidade, já que chegara a depor várias vezes em suas entrevistas que aquilo que escrevia era de cunho pessoal para ele, dando margem a diversas interpretações.

Ao longo da sua vida, Drico conhecera o que se podia chamar de seres humanos de merda, que tudo que fazem se resumem a... merdas! Pessoas que, conforme suas próprias palavras, pareciam vírus que se alastravam em meio aos homens de bem e em pouco tempo as danificava ou destruíam. E naquele momento, o homem que o encarava do outro lado parecia ser um desses vírus.

Drico chacoalhou a cabeça, como que para dispersar os maus pensamentos. Concluiu que estava sendo preconceituoso ao julgar aquele homem sem conhecê-lo, e o escritor sabia que isso não era bom. Por vezes, ele mesmo fora julgado por ser quem ele era, então se recusava a fazer o mesmo nessa etapa da sua vida.

— Drico! — Connie chamou já segurando o volante, ao que ele a encarou. — Vamos!

— Claro! — disse, ao mesmo tempo em que se virou para o outro lado da rua, a tempo de ver o homem misterioso colocar os óculos escuros nos olhos e lhe dar as costas.

— Algum problema? — Connie perguntou assim que o escritor sentou no banco do carona.

— Não, é só que tinha um cara e... deixa pra lá! — falou, ao que a amiga deu de ombros.

Drico se calou, não viu necessidade de assustá-la, já que Connie era bastante impressionável. A amiga deu partida e saiu, notou o silêncio do escritor, mas como não quis parecer intrometida, também ficou calada.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now