19 - O homem louco

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"Vamos acorde!"

O soldado chacoalhou mais uma vez o homem deitado de bruços, que não esboçou reação.

"Ele não reage! Melhor falarmos com o capitão."

Os dois saíram e pouco tempo depois Deiron retornava com eles.

"Coloquem-no de pé!" - mandou ele.

O homem que os soldados levantaram estava sujo e maltrapilho, com os olhos fundos, provavelmente por falta de alimentação. O capitão da guarda notou que suas roupas eram parecidas com a dos homens que viajavam pelo deserto, mas não se vestia de forma totalmente comum. Tentou também inutilmente acordá-lo.

"Peçam que um curador o examine e depois chamem Ranfug. Quero que ele descubra quem é esse homem. Como ele foi encontrado?"

"Chegou há duas noites no portão e não falava coisa com coisa."

"O que foi que entenderam que saiu de sua boca?"

"Falava sobre monstros ao sul. Tiveram que contê-lo, parecia desesperado."

Deiron meditou sobre o fato e saiu.

Ranfug procurou o capitão da guarda dois dias depois.

"Trata-se de Ruajin. Não precisei investigar muito, pois já fiz negócios com ele antes. Costumava fazer pequenas explorações particulares e vender tudo que encontrava por bons preços. Faz mais de meio ano que não o vejo."

"Você sabe qual é a informação principal que preciso saber, não?"

"Apesar de ter cometido pequenos saques algumas vezes, é um homem em que se pode confiar. É melhor que ele esteja recuperado para termos certeza do que aconteceu para deixá-lo neste estado. Pode ter sido o forte sol do deserto. Mas ouvi rumores sobre uma criatura estranha próxima à Cabidan..."

"Então vou reunir alguns homens e você os conduzirá ao sul e fará uma investigação completa. Não podemos correr riscos com a segurança do castelo."

"Estou às suas ordens, podendo partir a qualquer momento."

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Na mente de Ruajin as garras do monstro continuavam a cortá-lo em vários pedaços e ele fechava os olhos e se encolhia. Só começou a se acalmar uma semana depois de chegar ao castelo, após consumir muitas doses de uma poção relaxante.

Percebeu enfim que as vozes que o cercavam eram humanas e que poderiam ser amistosas. A primeira coisa que viu foi que estava numa cela, preso com uma corrente aos pés de uma cama de ferro. Não tinha a mínima ideia de como chegara até ali, somente se lembrava de quando fugiu da aldeia e se aventurou no deserto sem ao menos um saco de comida ou um cantil de água. Mas apesar disto, não estava com fome ou sede, certamente cuidaram dele.

Tentou gritar para chamar alguém, mas sua voz não saiu, apenas um chiado ele escutou. Havia uma caneca metálica ao lado da cama. Começou a batê-la na corrente e após algum tempo um soldado apareceu do lado de fora da cela.

"Parece que nosso estranho convidado acordou" - disse ele – "Está mais calmo agora?"

Ruajin concordou com a cabeça, tentando esboçar um sorriso.

Ao ver que o prisioneiro podia compreender, o soldado saiu e retornou mais tarde com Deiron, que desejou interrogar Ruajin sozinho.

O capitão da guarda examinou-o bem antes de falar.

"Acreditei que o senhor não retornaria à normalidade tão cedo."

Ruajin tentou responder, mas somente uma voz rouca e muito fraca escapou de sua boca.

"Não precisa dizer nada!" - disse Deiron com um gesto de calma – "Não tenha pressa, sua voz voltará naturalmente."

"Em todo caso saiba que está entre amigos, no castelo de Hati. Seu amigo Ranfug, o explorador, já me adiantou informações sobre o senhor. Ele foi fazer uma verificação com alguns soldados nas regiões ao sul do castelo, procurando pelas pessoas que o atacaram."

Ruajin ficou novamente desesperado e fez questão de passar essa emoção para o capitão da guarda, acenando que não, não deveriam fazer isso.

"Fique tranquilo. Não vão atacar ninguém. É um grupo muito astuto, irão somente investigar da maneira mais cuidadosa que puderem. Em poucos dias retornarão, pode ter certeza."

Deiron viu a melancolia no semblante do explorador, mas não poderia mantê-lo preso sem um motivo e chamou o soldado, que retirou as correntes que o prendiam, trazendo consigo água e pão.

Ruajin agradeceu com um gesto e se fartou. Após ambos saírem e deixarem a porta da cela aberta, ele já estava planejando uma maneira de sair dali o mais rápido possível.

A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora