18 - O castelo de Clad

4 2 2
                                    

Ao sair do Castelo de Hati – prosseguiu o Sr. Ninguém – minha intenção era mesmo ir visitar minha família. Havia dois anos que eu tinha partido e apesar de não sentir saudade, como creio ser igual por parte deles, queria mostrar-me agora melhor vestido e armado, uma pessoa um pouco mais importante.

Mas após a primeira noite passada no deserto, a euforia que eu sentira na véspera continuava pegando fogo por dentro. Precisava urgentemente de um pouco mais de emoção e o marasmo de Satíria não ajudaria em nada neste momento.

Decidi então me aventurar pelos limites das terras de Hati e acabei chegando num posto de guarda. Usava agora roupas novas de aprendiz, com um símbolo do castelo no ombro direito. Ao chegar ao posto fui reconhecido de imediato pelos soldados. Foi fácil enganá-los para transpor a fronteira. Estava, dizia eu, numa nova missão mais perigosa e de grande urgência e precisava de suprimentos para poder realizá-la. Eles me ajudaram em tudo que foi possível e então parti, rumo a um mundo desconhecido.

Não sentia medo algum enquanto galopava. O deserto ficara para trás e uma terra árida se estendia a minha frente. Foram dias viajando a toda velocidade até avistar um sinal de vida. Poucos inimigos chegaram até as proximidades do castelo de Clad e continuaram vivos para descrevê-lo. Eu pude!

Era também majestoso da sua forma, visto de longe parecia um grande cone que se erguia numa construção muito antiga, sustentado por grandes paredes de pedras escurecidas que o tornavam, de certa forma, sombrio. A diferença principal entre ele e o castelo de Hati era que este não possuía uma aldeia que antecedia ao castelo principal. Após atravessar o portão central você já se encontrava dentro da base do castelo, onde viviam principalmente os soldados.

Na época em que lá entrei a aparência interna era totalmente diferente da externa. As paredes eram repletas de figuras em relevo nelas esculpidas e com fundo branco, como que escovadas diariamente. Havia escadas em túneis nas paredes que levavam tanto ao subsolo quanto aos setores mais elevados. A parte mais interessante que observei eram as plataformas construídas em alturas alternadas e em todos os lados nas paredes inclinadas, junto a grandes janelas, onde soldados ficavam na espreita.

Como o castelo não foi erguido junto a uma floresta ou montanha, e nem um fosso foi construído em sua volta, aparentemente um ataque poderia vir de qualquer direção, dando a impressão de uma fragilidade enorme na segurança, mas o seu ponto forte estava na guarda reforçada, em qualquer momento do dia ou da noite, sendo impossível você adentrar ao castelo sem levantar suspeitas se você não fizesse parte do exército vermelho, pois o reino era estritamente militar.

Mas todos estes detalhes eu só pude observar dois dias depois de acampar a uma boa distância do local. Não tinha ideia ainda de como poderia entrar, mas sabia que o faria, de uma forma ou de outra, e também tinha certeza do que do tesouro que ia ter em meu poder quando dali partisse.

A oportunidade chegou no início da segunda noite, após avistar um soldado saindo do castelo e que seguiu em minha direção. Apesar de não ter nenhuma fogueira acesa, achei que ele estava vindo me abordar. Estava enganado!

O local que eu escolhera para ficar estava ao lado de algumas árvores e de uma grande pedra tombada. Percebi, ao observar o soldado, que ele estava tomando outro caminho e que era provável que outra oportunidade poderia demorar muito, então montei no corcel e saí no seu encalço. Derrubei-o sem que tivesse tempo de reagir.

Depois de amarrá-lo ao cavalo, retornei para o meu abrigo improvisado e esperei amanhecer. Precisava iniciar um interrogatório ao meu prisioneiro e é claro que eu já sabia que ele não colaboraria facilmente, com certeza havia sido treinado para essas situações, mas eu tinha pressa e necessitava ser o mais persuasivo possível, então o deixei nu e o amarrei de cabeça para baixo numa das árvores, permanecendo em silêncio ao afiar a minha espada calmamente. Essa era uma das coisas que tinha aprendido com o capitão Deiron: nada retira toda a sensação de segurança mais rapidamente de alguém do que despi-lo de todas as suas proteções imaginárias, como se um mero uniforme ou armadura nos tornasse invencíveis.

A Saga de Kedl - No Caminho Escuro (Em Andamento)Where stories live. Discover now