Capítulo 4 - O Gerente

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- Ma – ma – mas isso não é possível! Uma coisa dessas não acontece! O quê os médicos disseram?

- Os exames que já temos os resultados dizem que está tudo bem, que não houve nada de anormal comigo. Nenhuma alteração nos batimentos cardíacos, o eletrocardiograma diz que está tudo bem com o coração, a pressão está 12 por 8, o encéfalo também não apontou nenhuma anormalidade. Os resultados de outros exames só saem amanhã. Até lá os médicos vão continuar achando que o meu problema é de nascença.

Mauro estava confuso. Precisava falar com o médico pessoalmente para entender o que estava acontecendo. Procurou o Dr° Fernando Meireles, que o recebeu com o cansaço estampado no rosto. "Mais um maluco... Hoje, definitivamente, não é o meu dia..." – Pensou Fernando, lamentando-se de ter aceitado cuidar deste caso. Se isso era para ser uma brincadeira, ele não estava vendo graça alguma nela. Já havia esfolado o máximo possível, em exames, o bolso dessas pessoas, mas elas continuavam com sua farsa. Não sabia mais o que fazer, em todos os seus anos de experiência nunca passou por tal situação.

- Doutor, gostaria muito que o senhor me esclarecesse algumas coisas sobre o paciente tal. – Disse Mauro ao estender a mão em comprimento ao médico. Neste gesto, posicionou sua mão sobre a mão do médico e a apertou com força, também, a sua postura era a de um presidente de uma empresa ao lidar com um funcionário do chão da fábrica. O seu objetivo era se impor perante o médico, para forçá-lo a dizer-lhe toda a verdade.

- Você é parente do paciente? – Perguntou o médico, disposto a se conter em suas palavras dependendo da resposta.

- Não. Sou gerente executivo de vendas da empresa tal... - Mauro sabia que o nome da empresa era por si mesmo um carimbo de seriedade. - Ele é o meu melhor vendedor. Eu preciso saber o que aconteceu com ele, como é possível estar bem num dia, e no outro estar sem uma perna... – Ao se identificar como gerente Mauro deu seu cartão ao médico.

Fernando olhou o cartão rapidamente, leu 'Mauro Coelho, Gerente Executivo' e o nome da empresa. Ao olhar nos olhos de Mauro, que continuava a falar, esfregou o cartão entre os dedos e sentiu a textura do papel do cartão. Havia detalhes em alto-relevo. - "O milheiro desse modelo de cartão é caro." - Pensou.

- Agora o senhor me desconcertou, senhor Mauro Coelho. – Ao falar fingiu ler apenas naquele instante as palavras do cartão, que levantou até quase a altura do nariz.

- Como assim?

- Até agora pouco, antes de sua chegada, eu julgava que tudo não passava de um mal entendido, uma brincadeira de mau gosto. Porém, o senhor deixa as coisas muito mais confusas para mim. Eu julgo que o paciente sempre foi um deficiente físico, o que os exames parecem confirmar, mas ele próprio e, também a sua família, insistem em dizer que ele era um jovem normal, que foi dormir bem, acordando assim pela manhã. O que o senhor me diz agora corrobora as declarações deles... Sr. Coelho, prefiro chamá-lo assim, o senhor está junto com esta família nesta brincadeira?

- Isto é um absurdo! Como o senhor pode me insultar desta forma? – Mauro irritou-se com o que ouviu do médico. – Eu procurei o senhor atrás de respostas não de uma ofensa como esta.

- Minha intenção nunca foi ofendê-lo senhor, porém não posso deixar que venham brincar de tal forma comigo. Eu estou pensando se isso não está relacionado com alguma fraude do plano de saúde, ou do INSS.

- Eu não sou obrigado a ouvir isso. Saiba que procurarei agora a ouvidoria deste hospital e farei uma reclamação formal contra o senhor. – Mauro saiu da sala do Dr° Meireles e bateu com força a porta atrás de si.

Enquanto aguardava ser atendido na ouvidoria, Mauro não imaginava que Fernando estava explicando sua versão de todos os acontecimentos do dia para a assessora do diretor do hospital. Alguns minutos após, quando finalmente foi chamado á presença da assessora do diretor e de uma psicóloga, que era responsável pelo setor da ouvidoria, pensou que facilmente resolveria este mal entendido.

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⏰ Last updated: Jul 11, 2017 ⏰

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O Homem Que Não ExistiaWhere stories live. Discover now