Capítulo 4 - O Gerente

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- Ele não está bem Mauro. Não dá para falar, você não acreditaria. – Disse o pai.

"Como assim, 'eu não acreditaria'? Se eu estou num hospital algo grave aconteceu. Eu não sou um familiar, não sei por qual motivo ficar com tanto cuidado em me comunicar o pior. Sim, pois certamente deve ter acontecido um acidente ou devem ter recebido o diagnóstico de uma doença terrível, um câncer talvez. É uma pena, claro, se ele não mais poder trabalhar. Mas, não é o fim do mundo. Pelo menos não para mim ou para a empresa. Sempre podemos encontrar outros funcionários. Uns piores, outros iguais e ainda outros melhores. Ninguém é insubstituível. Nem o presidente, nem o rei, nem o Papa. E, ele é só um vendedor. O melhor que eu tenho, mas, ainda assim, apenas um vendedor."

- E onde ele está?

- Fazendo os últimos exames. – Antecipou-se Márcia, mais uma vez, à frente de qualquer resposta que pudesse balbuciar seu esposo.

- Mas, confesso que não estou entendendo. O quê aconteceu com ele?

Nem o marido, e dessa vez, nem a sua esposa conseguiram explicar de forma convincente o motivo de estarem ali com o filho. Na verdade, há uma certa impossibilidade de se explicar algo que não entendemos. Eles estavam num ponto tão escuro de suas existências quanto Mauro. Não entendiam nada de tudo o que estava acontecendo. Ao verem uma enfermeira passando pelo 'hall', chamaram-na e perguntaram sobre o seu filho.

- Eu vou procurá-lo, e caso seja possível farei com que venha até aqui, ou se for melhor, os levo até ele.

- Foi algum acidente? – Perguntou Mauro, segurando levemente o braço da enfermeira para que ela não saia sem dar-lhe alguma explicação.

A mulher, não mais de trinta anos e no mais pleno auge da beleza, contorceu um pouco o rosto numa expressão de incerteza. Olhou para Mauro num primeiro instante, e depois dirigiu um rápido olhar na direção do Sr. Milton. Ela sabia que não devia contrariar os pais do paciente, posto que foi um grande problema, mais cedo, quando o médico disse que tudo indicava um problema de nascença.

- Não sabemos... – Na sua voz a incerteza se tornava ainda mais perceptível. – Eu acho que não... - Mauro permitiu que a mulher se afastasse, após ficar ainda mais confuso quanto ao que deveria pensar.

Mauro folheava uma revista médica, absorto nos seus pensamentos enquanto olha fotos de escaras de um anúncio de pomada. Tudo o que podia fazer era esperar. Porém, não tinha todo o tempo do mundo a sua disposição. Tamborilava nas páginas da revista e sentia sua paciência esvaindo-se. Não percebeu a aproximação de seu funcionário.

- Oi Mauro, que bom que você veio me ver. – Disse o homem de vinte e poucos anos deixando claro no tom da voz e na postura que se sentia bastante envergonhado com a situação.

Por um minuto inteiro, que pareceu durar muito mais que isso, Mauro ficou em silêncio, olhando para o homem de muletas à sua frente. Não havia palavras para traduzirem os seus sentimentos naquele instante. Na última vez que Mauro esteve com seu funcionário, alguns dias antes, nada poderia sequer indicar que teria tamanha surpresa ao vê-lo novamente. "Como isso foi acontecer?", pensou Mauro deixando sua mente vaguear produzindo inúmeras explicações para este fato. A explicação mais recorrente era a de que ele havia sofrido algum acidente. "Mas, como pode ser se não fomos avisados de nada nem por ele nem pela família? Isso não pode ser, pois sempre souberam que podiam contar conosco!"

- Fulano, o que houve?

- Eu sei que pode parecer estranho para você, mas saiba que é muito mais para mim! Até ontem à noite estava tudo muito normal. Não houve acidente algum, e no entanto, eu estou assim... – Enquanto o homem falava, Mauro ouvia com uma expressão de incredulidade. Achava difícil acreditar no que seus olhos estavam vendo.

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⏰ Last updated: Jul 11, 2017 ⏰

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O Homem Que Não ExistiaWhere stories live. Discover now