DOIS

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Atualmente – agosto de 2015

Era de manhã quando Caroline acordou ofegante. Ela não se lembrava da última vez que havia acordado tão cedo, mas ser despertada por um pesadelo já não era novidade. Quase um ano vivendo assim a fez se acostumar e até mesmo esperar pelos pesadelos. No entanto, isso não significava que gostasse deles.

Antes, ela adorava observar os últimos vestígios do crepúsculo desaparecerem com o nascer do sol, mas não era esse o caso hoje. Ao tentar se endireitar, sentiu algumas dores nas costas e no pescoço, o que a fez levar a mão à nuca como se pudesse aliviá-las. Ainda um pouco desorientada pelo sono mal-dormido, ergueu os olhos para ver onde estava.

"Árvores correndo" se misturavam com as cores do amanhecer, foi o que ela viu imediatamente. Concentrando-se na paisagem, ela percebeu o que realmente estava acontecendo. As árvores não estavam correndo naquela velocidade; era apenas ela mesma dentro do carro. Agora se lembrava de que a viagem não foi um sonho, ou melhor dizendo, mais um dos seus pesadelos.

À sua esquerda, Caroline virou-se para a mulher ao volante, que esteve presente em sua vida em absolutamente todos os seus dias. Os cabelos loiros bagunçados e presos com uma liga preta deixavam as laterais do rosto da motorista à mostra. O semblante cansado e triste trazia à memória toda a sua vida que tanto queria esquecer. E aquelas feições não eram as únicas coisas que a faziam recordar o passado. Até mesmo seus próprios sonhos a traíam descaradamente. Mais uma vez, Caroline tentou dormir, mas não conseguiu; as lembranças do passado a atormentaram.

— Você está bem? — perguntou sua mãe, depois de perceber o leve solavanco que Caroline deu ao acordar.

Caroline continuou olhando para ela, desta vez com ainda mais tristeza.

Não estou bem..., quis responder em voz alta, mas infelizmente sua resposta precisou permanecer em seus pensamentos, para o bem de ambas as partes. Antes que pudesse pensar em algo para dizer, as imagens do pesadelo voltaram à sua mente como clarões de flashs impossíveis de ignorar...

— Caroline! — sua mãe a chamou com voz alta, enquanto a seguia para fora da casa em Atlanta. Ela se lembrava bem daquele céu escuro sobre suas cabeças. — Volte aqui!

— Para quê? — Caroline retrucou e se virou, encarando-a severamente.

— É seu aniversário! Os convidados estão aqui, na nossa casa! Seus amigos estão aqui, você não pode simplesmente sair e deixá-los!

— Peça para todos irem embora. É fácil. — Caroline deu as costas, incapaz de conter a raiva.

— Escute aqui, garota! — A mãe a puxou pelo braço. — Eu sei como você está se sentindo, mas não pode culpar todos por isso. Acredite, seu pai queria estar aqui mais do que qualquer um, mas ele está longe agora por causa do trabalho. Não pode culpá-lo.

— "Queria" — repetiu, segurando as lágrimas, e riu tristemente e com incredulidade. — A quem queremos enganar, mãe? A quem você quer enganar?! Faz três anos desde que ele partiu. Ele prometeu que estaria no meu aniversário de 16 anos, e olhe só... Ele está aqui por acaso? Não.

— Caroline, você precisa entender que às vezes as coisas não acontecem como queremos. Imprevistos podem acontecer-

— PARA! — retrucou aos berros, interrompendo-a, e a raiva destacando seus gestos. — Pare de defendê-lo, porque ele não merece! Ele não só me deixou, como também deixou meus irmãos e até você! Não percebe isso?! É abandono!

— Não é abandono. Ele não nos abandonou, meu amor... — A mãe ergueu a mão para acariciar seu rosto, mas Caroline recuou.

— Claro que é! — reafirmou furiosa. Ela não conseguia entender por que a mãe defendia o homem que, supostamente, abandonou a família por um emprego. Era um absurdo. Era irracional e cruel. — Mãe... — suavizou a voz e segurou as mãos dela com firmeza. — É abandono. Você simplesmente ainda não percebeu isso.

IMORTAIS: Mundo Sombrio - Livro 1حيث تعيش القصص. اكتشف الآن