garganta farpada

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Talvez eu tenha perdido a cabeça, deixando de lado as milhões de paixões gostosas que poderia ter tido em um lugar caro, cheiro de luxúrias.

O V que você escolheu pra mim é o de Vadia.

Não o aceito. Mas é que discutir com você só faria suas orelhas jorrarem sangue sujo. E eu não iria limpar. De jeito nenhum.

Se eu permitisse um amor verdadeiro sob a pele, doeria quando um beijo exuberasse da sua amargura; se fosse verdadeiro, um sorriso me chutaria o coração, as palavras saindo da minha boca naturalmente, dizendo que você é o ser humano mais singular e reluzente capaz de roubar minha obsessão no astro grande no céu.

Mas, enquanto dedilho o nosso amor, fio por fio, não vejo falhas costumeiras e despropositadas, não vejo vergões ou sequer um fiapo. Porque a sua bagunça cresceu na fertilidade da perversidade e amargura embolada. Há um nó no final dessa história. Um nó mal formado, que não desataria por nada. Nem pelos seus dentes puxando minha pele de leve. Um amor primordialmente visto como perfeito. E, no fim, a idealização morosa de uma picada de cobra no coração.

Ele bate enquanto seu veneno circula nas intravenosas, inocentes e seduzidas. O corpo, grande traidor.

As ramificações das artérias terminam da mesma forma que o seu suspiro irritado e cansado do amor que idealizamos: feio de ver, quem dirá enxergar onde vai.

Não temos um fim, nem um começo. Estamos fadadas a dor constante. Um nó farpado na garganta de quem jamais respirou para ter a capacidade de dizer que usufruiu do melhor desse mundo.

Sempre respirei você, Yewon. Sempre. E isso me mata todos os dias.

Enquanto assisto seu corpo perder a pulsação diante de meus olhos, sua boca cuspindo um alfabeto inteiro de xingamentos e lamentos, sinto minhas intravenosas ganharem movimentos pra lá de voluntários, enrolando internamente meus próprios órgãos, apertando-o com a força e vontade que você sempre quis desde que me voluntariou seu suporte infernal predileto. Eles explodem em milhares de direções, e sei que, a seus ouvidos, é como escutar fogos de artifício remendado à novas esperanças. Porque você ainda acredita na própria maldade. Sabe que um toque apenas é suficiente para que meus pedaços errados derretam enquanto meu cérebro perde essência, sem eco, sem função alguma a não ser o seu parazita. Você batuca como se estivesse fazendo música desgostosa.

Estou morrendo. Embora só sinta agora, você sabia há muito tempo.

Estou morrendo para mim. Estou renascendo para você.

Não é o veneno do seu falso e embolado amor; muito menos aquele que coloca em meu vinho agora, ao pé da cama, nuas, sem vestígios de nada que nós mesmas; ㅡ porque você me vê; e eu te vejo ㅡ não é aquele líquido dolorido teu que corrói meu coração em uma solução supersaturada de insanidade, abuso, obsessão, luxúria ou avareza.

O que sinto agora, Yewon, são gotas pungentes do meu próprio paladar que perdera muito tempo si própria diante situações. Não me acho, mas também não procuro; não me perco, mas nunca me encontrei em você.

Cedi minhas próprias fraquezas venenosas e, com isso, portas foram abertas para que seu chá queimasse minha alma vívida que agora descansa em um lugar incapaz de alcançar.

Beba-me. Beba-me com tudo o que tem. Não temos nada a perder nesse mundo, invejado de nós. Estamos fadadas a esse veneno circulante e excitante.

Pego suas mãos sujas e artificiais. Tocá-la é como pegar em plástico formatado. O seu coração está em minhas mãos, derramado em um vermelho profundo. Tão profundo, que os significados se tornaram apenas dejetos jogados de qualquer jeito, mais sujos do que comida de rato; mais sujo do que maldade alheia; é podridão na certa.

Beba-me como bebo-te. Destrua-me como destruo-te.

Que nossa sentença mortal seja selada no nó mais proibido do mundo.

[...]

que lixo

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que lixo

ㅡ poison. pristin | seunghanaWhere stories live. Discover now