Capítulo Um - Desavenças

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CAPÍTULO UM — DESAVENÇAS

Estava deitada em meu quarto apreciando os últimos momentos da noite de um domingo tedioso, quando minha mãe bateu a porta, abrindo-a em seguida.

— Vê se não se atrase para a aula de amanhã, Carolina! Já estou farta de ouvir reclamações sobre você, provindas de outros professores! – exclamou com o semblante carregado de reprovação.

— Por isso mesmo que estou indo dormir cedo, dona Cláudia. – disse revirando os olhos.

— Ótimo! – exclamou. – E, por favor, não se esqueça de que a substituta do professor Afonso estará em sua sala amanhã. Não me decepcione, Carolina.

Após suas últimas palavras, minha mãe se retirou, deixando-me sozinha em meu quarto.

Meu relacionamento materno havia se tornado turbulento desde quando meus pais se divorciaram, durante a minha infância. Como eu não possuía irmãos e não queria deixar minha mãe sozinha, por mais que discutíssemos, decidi continuar morando com ela e visitando meu pai esporadicamente.

Como a maioria dos relacionamentos entre mãe e filha, o meu piorou quando atingi a adolescência. Rebelava-me contra suas ordens e vontades, como se ela quisesse assumir o controle sobre minha vida.

Minha mãe assumia o cargo de coordenadora do curso de Engenharia Civil de uma renomada universidade de Belo Horizonte e, portanto, em meio aos tramites, havia conseguido uma vaga para que eu cursasse engenharia e seguir os passos das carreiras tão promissoras de meus pais.

Quando soube que minha mãe havia me matriculado, fiquei muito irritada, afinal eu não possuía a mínima vontade de seguir seus passos, não possuía amor pela profissão, mas apesar das discussões, eu acabei seguindo em frente com ideia, já que não possuía outra saída. E lá estava eu, com meus vinte e três anos de idade, iniciando o segundo semestre do curso. Eu não me importava com nada em minha vida.

Como eu não gostava do curso, não fazia questão alguma de chegar corretamente nos horários das aulas. Sempre deixava o desânimo me envolver pela manhã e me embalando nos pequenos minutos a mais do despertador, sempre acabava chegando ao final do segundo horário, o que acabava por gerar incômodos nos professores e consequentemente, reclamações das minhas inconveniências e indiscrições na sala de minha mãe.

Apesar do alerta e das repreensões que minha mãe havia dito na noite anterior, eu deixei me envolver pela preguiça matinal e acabei chegando a metade do primeiro horário de aula daquela manhã.

Enquanto caminhava pelos corredores parcialmente desertos da faculdade, comecei a imaginar que provavelmente minha mãe já havia comparecido a minha sala para apresentar a nova professora, passeado com seus olhos castanhos discretamente pela sala a minha procura e franzido o cenho ao perceber minha ausência.

Um sorriso desenhou-se em meu rosto. Eu adorava desafiar minha mãe e vê-la irritada com minhas rebeldias. Parei em frente à porta de minha sala que estava fechada e respirei profundamente antes de girar a maçaneta, tentando encontrar o ânimo e paciência que me abandonaram naquela manhã fatídica de segunda-feira.

Quando abri a porta o silêncio se fez e percebi que estava sendo seguida pelos olhares de alguns colegas, porém ignorei e continuei caminhando por entre as cadeiras até o fundo da sala, local que eu estava habituada a me sentar, atirando a mochila pesada sobre a mesa e sentando-me em seguida.

Um suspiro, mais semelhante a uma bufada ecoou pela sala e fez com que eu erguesse os olhos por alguns instantes da mochila aberta, onde eu procurava meu caderno, mirando na nova professora.

Amizade Perigosa (COMPLETO)Where stories live. Discover now