A queridinha

One

Cansada.

Estava cansada de me mudar. Era a terceira vez em um ano e as palavras de meu pai estão decoradas em minha cabeça:

— Vai ser diferente agora, Blake. Essa vai a maior filial e eu vou precisar de todo seu apoio para as câmeras – ele dizia, mas no fundo nós dois sabíamos que não ia ser diferente.

Meu pai é Daniel Müller, CEO e Designer chefe da Müller's uma das melhores e mais caras lojas de todo o mundo. Seu nome é visto em todos os lugares e é claro que o meu também, e por isso odeio a minha vida. Pressão é tudo que recebo, segundo ele, minha única obrigação é seguir seus passos e tomar conta da empresa, claro que pra isso tenho que me formar em moda e fazer uma especialização em administração.

Por ser filha dele, sou posta a falsidade todos os dias e em todos os horários, o que se torna insuportável por eu querer ter amigos verdadeiros. O dinheiro é o motivo de nos mudarmos e o motivo de brigarmos também. Minha mãe morreu quando tinha seis anos, ela sofreu uma parada cardíaca e estava sozinha em casa, ninguém a socorreu e ela morreu sozinha. Meu pai passou dias trancado no quarto e eu passava o maior tempo com babás ou com Amanda, minha governanta. Resumindo, não tive um pai presente e por isso nossa relação é péssima, quase não nos falamos.

Acabamos de pousar em LA e entramos rapidamente no carro que nos esperava, foi uma viagem cansativa e eu só quero poder descansar. A casa na Califórnia era a maior que eu já pisei. Localizada em Bel Air, a mansão tinha doze quartos, vinte um banheiros, três cozinhas gourmet, cinco bares, e uma garagem para doze automóveis, dez motos, com um heliponto, cinema, boliche, spa, piscina e outros cômodos que eu ainda não decorei. O lugar é extremamente enorme só para quatro pessoas morarem, ou seja, eu, meu pai, Amanda e uma namorada que meu pai pega às vezes. O motivo da compra era festas. A nova loja ia ser um sucesso, o que significa que eu teria que por em pratica minhas aulas de teatro por longos meses.

O motorista vira em uma rua e entra num portão prateado. Logo vejo a piscina "infinita" com uma visão espetacular para Los Angeles, atrás sofás brancos com almofadas azuis enfeitam o local, o gramado bem cuidado era de um verde esplêndido que me lembrava a infância, quando podia brincar com minha mãe. Olho ao redor e perco o fôlego ao ver a mansão de quatro andares à minha frente. Meu pai sorri orgulhoso e diz:

— Meu bebê — reviro os olhos e entro deparando com a sala de visitas, uma espécie de área particular com várias poltronas na cores preto e dourado separados dão ao lugar um ar elegante. Ignoro a felicidade do meu pai e subo as enormes escadas e quando estava no último degrau lembrei que não sabia qual era meu quarto.

— QUAL É O MEU QUARTO? — gritei.

— ESCOLHE QUAL VOCÊ QUISER — gritou de volta. Sorri, abri todos os quartos e escolhi o de maior closet, as paredes eram neutras e uma enorme cama king size estava no meio do quarto, ao lado, havia uma escrivaninha com um abajur cheio de cristais e aceso com algumas gavetas e em uma delas coloquei minha carteira. O tapete sobre meus pés ainda calçados era branco igual as portas do local, a primeira era meu banheiro que tinha um espelho gigante na parede com uma banheira que eu juro que ouvi me chamando para um banho. Voltei para o quarto e deixei para olhar a segunda porta depois, mas eu sabia que o que tinha ali era um closet grande e vazio. Tirei minhas roupas e coloquei no cesto e voltei ao banheiro onde passei vários minutos relaxada.

Amanhã minhas aulas começariam e um nervosismo apossou meu corpo. A universidade onde estudaria não era longe e dormiria cedo para não atrasar no primeiro dia de aula, afinal, não iria querer decepcionar meu pai não é mesmo?
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