Capítulo 2

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Bianca

Com os anos desenvolvi um certo fascínio pela região Sul do país, por supor que aqui nevava o ano inteiro, de janeiro a janeiro, entretanto com apenas algumas semanas morando em Porto Alegre percebi que a realidade da região é bem diferente do que imaginava, contudo ainda prefiro as temperaturas agradáveis daqui do que as infernais do Rio de Janeiro.

Durante o caminho para a Bittencourt vejo algumas pessoas correndo pelas calçadas, enquanto outras admiram tranquilamente as vitrines das grandes lojas, até então nada fugia do habitual, a não ser a sensação de estar em casa, isso era algo até então desconhecido, pois nos anos em que residi no Rio de Janeiro não conheci essa noção de pertencimento.

Não demorou muito para que eu cruzasse as grandes portas de vidro da Bittencourt e digamos que esse foi o maior arrependimento da minha vida, daria nota zero no quesito organização. Ainda não entendo como as pessoas conseguem trabalhar em meio a tanta desordem. Infelizmente não posso interferir muito por questões de bom senso, mas é como diz aquele famoso ditado "cada um no seu quadrado".

Aturo o caos enquanto posso, mas na primeira oportunidade fujo sem nenhum peso na consciência e entro na primeira porta que vejo aberta e por sorte se trata de uma cafeteria bem simples, porém aconchegante, tudo que eu preciso neste momento. Peço a maior xícara de café, em seguida sento em um lugar isolado e fico o restante da tarde respondendo meus e-mails, que por sinal estavam acumulados.

– Aceita alguma coisa criança? - Minutos depois a voz doce e gentil do senhor que me atendeu mais cedo atravessa meus pensamentos, fazendo com que eu desviasse minha atenção da tela.

- Uma xícara de café e uma fatia de bolo de cenoura, por favor – Ao desviar o olhar noto que o movimento na rua tinha diminuído consideravelmente – Senhor?

- Pode me chamar de Inácio – Oferece um grande sorriso.

- A cafeteria fica aberta até que horas?

- Fechamos às 16h.

Olho para o relógio e me sinto culpada por prendê-lo no local até depois do expediente.

- Me desculpe Sr Inácio, acabei me concentrado no trabalho e perdi a noção do tempo, deixe o café para amanhã.

- Tudo bem menina, não nos importamos com esses detalhes, fique à vontade.

- Obrigada pela gentileza, mas não quero atrapalhá-los.

Sigo até o caixa acompanhada pelo senhor, acerto a conta, agradeço o atendimento e ao sair do local uma voz familiar chama minha atenção.

- Vai para onde, guria?

- Para casa.

- Posso roubar uns minutinhos do seu tempo?

- Claro que pode, Luana. Qual o destino?

- Quando chegar saberá, até lá sem perguntas.

Caminhamos uma do lado da outra em silêncio, às vezes a pequena ruiva empurrava meu corpo de forma brincalhona.

- É logo ali

- Um lago? – Digo meio desanimada.

- Não é apenas um lago, vem, apenas confia em mim.

Sentamos as margens do lago e mesmo observando cada detalhe daquele lugar, ainda não entendia o que Luana queria que eu visse. Olho disfarçadamente para ela e notei seus olhos brilhando como se tivesse ganhado uma barra de chocolate, acompanho seu olhar e finalmente entendo o que estava acontecendo, a visão é surreal e uma emoção diferente percorre meu corpo.

- Eu nunca tinha visto um pôr do sol tão lindo.

- Sabia que você iria gostar – A ruiva fala com convencimento.

- Na verdade, não me lembro a última vez que vi um pôr do sol, sempre estou no escritório ou em alguma reunião.

- Isso deveria ser pecado.

- O que? Ser bem-sucedida? – Passo o braço sobre seus ombros e começo a sorrir.

- Não, ficar tanto tempo fechada em um escritório perdendo as coisas belas e simples da vida – Diz como se fosse óbvio.

- Ossos do ofício, meu anjo.

- Vem vou te pagar uma cerveja.

- Eu tenho compromisso, desculpe.

- Só uma.

- Está bem, só uma – Acabo cedendo.

Encontramos com alguns amigos de Luana e fomos para um barzinho.

- Você conhece os melhores lugares – Falo encantada com o local.

- Acho que não, tem um lugar que ainda não conheço, mas quero.

- Sério? Qual?

- Seu corpo, cada curva dele – Me fita com desejo.

- Assim você me deixa sem graça.

- Até parece Bianca.

O toque repentino do meu celular me livra da situação constrangedora.

- Desculpe preciso atender – Vou para fora do bar e vejo o número de Mayara no visor, atendo meio desnorteada.

- Alo.

- Ei você.

- Ei, tudo bem?

- Mais ou menos.

- O que houve?

- Estou te esperando.

- Já iria te ligar. Estamos em um barzinho incrível, você vai amar, é sua cara.

- Sério?

- Sim. É calmo e tem música ambiente.

- Como chama?

- Só um minuto... – Olho para a fachada discreta e logo vejo o nome – Chama Capone Drinkeria, Mah.

- Estou a caminho, até daqui a pouco. Só lembrando que é tudo por sua conta.

- Em qual cláusula do contrato estava isso?

- Não estava, mas como você me deixou esperando é o mínimo.

- Engraçadinha. Não vai se acostumando, dona Mayara.

DESAFIOS DO AMOR - AMOSTRAWhere stories live. Discover now