Ora, ora que bela covarde você foi Eloise.
A rua estava totalmente deserta, continuei a minha caminhada sem olhar para trás. Os únicos sons que eu escutava eram os dos farfalhar das árvores e os dos meus saltos contra a calçada.
As rodinhas da mala não estavam me ajudando muito, meu braço estava cansado. E pra piorar o vento jogava meu cabelo contra a minha face o trajeto inteiro piorando a minha situação.
Eu precisava urgentemente encontrar um meio de voltar para a capital. A ideia de ficar naquele lugar por mais um mísero segundo, massacrava o meu peito um pouco mais.
Quem eu estava tentando enganar?
Nicole não me perdoaria. Mesmo sabendo que a prisão do seu pai, o que resultou na sua saída de casa, não era culpa totalmente minha. Ela me cobrava uma posição.
Eu me sentia fraca, exposta e esgotada. Tinha sentimentos que eu não devia ter, e fingir que eles não existiam não estava me ajudadando em nada. Pelo contrário, me machucavam profundamente.
Eu não sabia fazer escândalo, comigo tudo era meio silencioso. O pior é que eu nem sabia se isso era bom ou ruim, eu queria que as pessoas escutassem coisas que eu nunca disse, e encontrassem pistas que eu nunca deixei.
Ainda na calçada, parei em frente à areia da praia. Retirei meus saltos, limpando qualquer vestígios de terra ou poeira e coloquei-os na bolsa. Peguei o aparelho de celular e mandei uma mensagem pelo App para me enviarem um Uber.
Senti a areia da praia sob os meus pés e tentei arrastar a mala até metade da praia e desisti. Não tinha mais forças. Não havia ninguém na praia mesmo, assim como nas ruas, então deixei ela para trás. Na metade da praia.
As lágrimas que eu tanto lutei e prometi engolir, estavam transbordando pelos meus olhos. Abracei-me apertando o casaco em volta de mim.
A noite estava igual à todas as outras noites de lembranças boas que tinha daquele lugar. Mas, nem a combinação perfeita da lua iluminando o mar negro agitado, desviavam meus pensamentos que me torturavam.
Me dei conta de que eu era tão quebrável quanto às ondas do mar. Desmoronei junto com o meu mundo, e ninguém que estava por perto ouviu o estrondo que a minha queda causou.
A dor que eu estava sentindo era praticamente insuportável. O som do meu choro estava perceptível aos meus ouvidos. O soluço estava alto, e as lágrimas caíam sem eu sequer pudesse as controlar. Há muito tempo eu não escutava esse som sair de mim. Há muito tempo eu não chorava.
O vento soprava tão forte, sibilando em meus ouvidos uma canção que era quase um bálsamo para o meu coração.
- Eu imaginei que você viesse se refugiar aqui.
Engasguei ao me dar conta da voz atrás de mim. Arrancando-me dos meus pensamentos.
Limpei meus olhos às pressas, para Erick não notar que eu estava chorando.
- Você está está bem? Parecia estar chorando? - perguntou ele, aparentemente preocupado.
Inspiro profundamente e penso na sua pergunta.
- Estou bem - eu disse, me mantendo de costas pra ele, tentando me recompor.
- Você sabe que comigo você não precisa de disfarces, né Eloise?
Meu batimento cardíaco começou a aumentar, com a sua pergunta. Soltei um sorriso fraco, embargado com as minhas lágrimas, que teimavam em continuar a cair. Era horrível que no fim, ele ainda me conhecesse.
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Simplesmente Eloise
RomanceEloise Albuquerque uma simples garota de 18 anos, que vivia em uma pacata cidade no interior do Rio de Janeiro. Foi pega desprevenida em uma manhã qualquer de segunda-feira, quando saía do banho. Seu padastro que há muito tempo lhe olhava de maneira...