2 - Covarde?

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Ora, ora que bela covarde você foi Eloise.

A rua estava totalmente deserta, continuei a minha caminhada sem olhar para trás. Os únicos sons que eu escutava eram os dos farfalhar das árvores e os dos meus saltos contra a calçada.

As rodinhas da mala não estavam me ajudando muito, meu braço estava cansado. E pra piorar o vento jogava meu cabelo contra a minha face o trajeto inteiro piorando a minha situação.

Eu precisava urgentemente encontrar um meio de voltar para a capital. A ideia de ficar naquele lugar por mais um mísero segundo, massacrava o meu peito um pouco mais.

Quem eu estava tentando enganar?

Nicole não me perdoaria. Mesmo sabendo que a prisão do seu pai, o que resultou na sua saída de casa, não era culpa totalmente minha. Ela me cobrava uma posição.

Eu me sentia fraca, exposta e esgotada. Tinha sentimentos que eu não devia ter, e fingir que eles não existiam não estava me ajudadando em nada. Pelo contrário, me machucavam profundamente.

Eu não sabia fazer escândalo, comigo tudo era meio silencioso. O pior é que eu nem sabia se isso era bom ou ruim, eu queria que as pessoas escutassem coisas que eu nunca disse, e encontrassem pistas que eu nunca deixei.

Ainda na calçada, parei em frente à areia da praia. Retirei meus saltos, limpando qualquer vestígios de terra ou poeira e coloquei-os na bolsa. Peguei o aparelho de celular e mandei uma mensagem pelo App para me enviarem um Uber.

Senti a areia da praia sob os meus pés e tentei arrastar a mala até metade da praia e desisti. Não tinha mais forças. Não havia ninguém na praia mesmo, assim como nas ruas, então deixei ela para trás. Na metade da praia.

As lágrimas que eu tanto lutei e prometi engolir, estavam transbordando pelos meus olhos. Abracei-me apertando o casaco em volta de mim.

A noite estava igual à todas as outras noites de lembranças boas que tinha daquele lugar. Mas, nem a combinação perfeita da lua iluminando o mar negro agitado, desviavam meus pensamentos que me torturavam.

Me dei conta de que eu era tão quebrável quanto às ondas do mar. Desmoronei junto com o meu mundo, e ninguém que estava por perto ouviu o estrondo que a minha queda causou.

A dor que eu estava sentindo era praticamente insuportável. O som do meu choro estava perceptível aos meus ouvidos. O soluço estava alto, e as lágrimas caíam sem eu sequer pudesse as controlar. Há muito tempo eu não escutava esse som sair de mim. Há muito tempo eu não chorava.

O vento soprava tão forte, sibilando em meus ouvidos uma canção que era quase um bálsamo para o meu coração.

- Eu imaginei que você viesse se refugiar aqui.

Engasguei ao me dar conta da voz atrás de mim. Arrancando-me dos meus pensamentos.

Limpei meus olhos às pressas, para Erick não notar que eu estava chorando.

- Você está está bem? Parecia estar chorando? - perguntou ele, aparentemente preocupado.

Inspiro profundamente e penso na sua pergunta.

- Estou bem - eu disse, me mantendo de costas pra ele, tentando me recompor.

- Você sabe que comigo você não precisa de disfarces, né Eloise?

Meu batimento cardíaco começou a aumentar, com a sua pergunta. Soltei um sorriso fraco, embargado com as minhas lágrimas, que teimavam em continuar a cair. Era horrível que no fim, ele ainda me conhecesse.

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⏰ Last updated: Feb 22, 2020 ⏰

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