Simplesmente Eloise

1.2 | R e e n c o n t r o s

Jardim das Rosas - Rio de Janeiro
2013.

A noite estava fria naquele dia, exatamente do jeito que eu gostava. Eu sabia que deveria vestir uma blusa com mangas e mais compridas, uma calça jeans ao invés de um short e uma blusinha regata. Mas, eu sempre amei a combinação do frio com as ondas do mar e a noite.

Sentei na areia úmida da praia e encostei os meus pés na água gélida, enquanto contemplava a imagem da lua refletir nas águas escuras do mar. Já beirava às oito e Erick ainda não havia chegado.

Ele estava atrasado.

Sempre fomos melhores amigos, desde à infância. Sempre contei tudo à ele. Quer dizer, quase tudo. Minha cabeça já estava dando vários nós, de tanto divagar entre contar ou não contar sobre umas coisas extremamentes estranhas que estavam acontecendo em casa.

Não sei bem dizer, se senti vergonha de contar a Erick sobre as minhas desconfianças sobre meu padastro em relação à mim ou medo da sua reação de eu estar pensando em largar meus sonhos para casar com Thiago.

Erick nunca gostou do meu namoro, assim como os meus familiares. Mas, diferente dos outros sempre se manteve neutro, nunca reclamava ou comentava nada de maldoso.

As águas e o vento estavam agitados quando senti alguns passos se aproximarem atrás de mim. Respirei bem fundo, quanto logo em seguida ouvi o som de um violão ecoando pela praia.

Eu praticamente gelei. Senti a minha boca secar e automaticamente passei a língua sobre ela.

Quando os primeiros acordes de "Meu eu em você" sairam, senti meu coração se comprimir e um frio se alojar no meu estômago.

Em um salto fiquei de pé e o encarei paralizada. Tentando entender o que significava aquilo.

Seu cabelo castanho esvoaçava nos ventos da noite, o que me deixou com muita vontade de tocá-los, seus olhos azuis brilhavam com a luz da lua de um jeito até mágico.

Um dos sonhos de Erick era ter o seu próprio violão. E o que ele tinha em mãos, não era o mesmo violão surrado da escola de música. Que o mesmo dava aulas de piano e violão.

- Eu sou o brilho dos teus olhos ao me olhar - sua voz ecoou pela praia, em uma sincronização perfeita com o vento e as ondas se quebrando no mar, fazendo os meus pêlos eriçarem. - Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu. Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar, quando em meus braços você se acolheu.

Ele caminhava em passos curtos até mim, me encarando de uma forma completamente diferente. Fiquei vermelha com a intensidade de nossos olhares, mas não ousei desviar, porque ao mesmo tempo que a sensação me apavorava, ela também me deixava  ansiosa por mais.

- Eu sou o teu segredo mais oculto - sua voz saiu um pouco falhada. - Teu desejo mais profundo, teu querer.
Tua fome de prazer, sem disfarçar.
Sou a fonte de alegria, sou o teu sonhar.

Eu continuei parada no mesmo lugar, sentindo um turbilhão de emoções. Era a minha música preferida, e Erick sabia disso.

Sorri largamente, sentindo meus olhos se encherem d'água.

- Eu sou a tua sombra, eu sou teu guia. Sou o teu luar em plena luz do dia. Sou tua pele, proteção, sou teu calor. Eu sou teu cheiro a perfumar o nosso amor.

Ele não só sorria pelos lábios, como  também pelos olhos.

- Eu sou tua saudade reprimida.
Sou teu sangrar ao ver minha partida. - Ele fechou os olhos por um instante e respirou profundamente. - Sou teu peito a apelar gritar de dor. - E os reabriu marejados assim como o meu estava. - Ao se ver ainda mais distante do meu amor. Sou teu ego, tua alma.
Sou teu céu, o teu inferno, a tua calma. - Erick abriu um sorriso largo. - Eu sou teu tudo, sou teu nada. Minha pequena és minha amada. Eu sou teu mundo, sou teu poder. Sou tua vida sou meu eu em... - Ele estava perto o suficiente para nossos olhos fixarem um dentro do outro. - Você.