— Vocês são os melhores e piores irmãos do mundo.

— Sabemos disso. Vamos para os jardins? Preciso lhe mostrar uma coisa que mandei fazer por lá.

— Não me falou...

— Uma surpresa. Ficou pronto semana passada.

— Estou curiosa.

— Sempre está. — Dimitri revirou os olhos e ofereceu seu braço para ela.

— Antes, eu quero conhecer Vladimir e Alexandra.

Os olhos de Dimitri ganharam um brilho diferente e um sorriso brotou em seus lábios rapidamente. Em todas as cartas que recebia do irmão, ele relatava o crescimento dos filhos e o quão eles o fazia extremamente feliz. Vladimir estava quase completando cinco anos e Alexandra iria completar ainda um ano.

— Esse horário eles estão dormindo. Veremos eles mais tarde, terá todo o tempo do mundo para ficar com eles.

— Pretendo ficar aqui por um longo tempo.

— Sabe que não pode. — os guardas abriram as portas. — Não acho que seja recomendado ser tão rebelde assim com o rei da Inglaterra.

— Desde quando é alguém sensato?

— Desde quando me tornei czar.

— Mentiroso, continua sendo insensato.

— Como descobriu meu segredo sua inglesa falsificada? — perguntou com um tom ofendido na voz.

— Eu sei tudo sobre você, seu sensato falsificado.

Começaram a andar pelos longos corredores do palácio. Anastásia olhava cada detalhe com atenção, tentando matar a saudade de casa. Quando descia as escadas, reconhecia alguns empregados, outros pareciam ser novos. A felicidade das pessoas era visível, a primavera sempre causava esse efeito nos russos.

Avistou Irina conversando com uma empregada. Desde do fatídico dia em que Ivan apareceu no palácio e a deixou amarrada desacordada em seu quarto, fechou-se mais ainda para as pessoas. Ficou ainda mais severa, fora os comentários de suas grosserias repentinas e o quão havia se tornando rabugenta. Anastásia compreendia suas razões, mas não achava certo ela agir daquela forma com outras pessoas, pois elas não tinham culpa de nada do que havia acontecido.

— Vossa Majestade, Vossa Alteza. — fez uma reverência.

— Irina, quanto tempo. — Anastásia sorriu para ela. — Como estão as coisas?

— Tudo em ordem, Alteza. Com sua licença, preciso terminar de organizar o quadro dos empregados.

— Oh, pode ir.

Irina saiu apressada, sumindo de vista rapidamente.

— Ela está estranha.

— Ontem chegou em minhas mãos um pedido bastante inusitado. A grã-duquesa Tchaikovsky soube da existência do filho de Ivan com Irina. Ela quer reconhecer o neto como Tchaikovsky, torná-lo proprietário do título de grão-duque quando for de maior, entre outras coisas. Chamei Irina para conversamos em meu gabinete, precisava da opinião sobre isso tudo. Eu poderia tomar a decisão que eu quisesse, mas não acharia justo com ela.

— O que ela disse?

— Está com medo do que pode acontecer.

— Ela quer que o filho seja reconhecido?

— O problema para ela é a sociedade saber que Ivan tem um filho e querer matá-lo.

— Isso é algo bem possível de acontecer.

— Eu sei disso. Essa é minha maior preocupação. Creio que ele sendo reconhecido, teria uma educação e vida melhor, porém, as consequências disso poderia ser pior. Ele é apenas uma criança, Annie.

— Mesmo você mostrando que não é contra ele, as pessoas iriam querer agir de forma ruim com ele? Porque eu penso que se nós, os mais afetados, estamos dando uma chance para essa criança, por que as outras pessoas não poderiam dar? É injusto o filho pagar pelos erros do pai.

— Sim, eu sei. Mas diga isso para todos os ministros e a população russa. — disse com ironia.

— Realmente, complicado.

Os guardas abriram as portas que davam para os imensos jardins. Um raio de sol atingiu o rosto de Anastásia, fazendo-a sorrir. Os pássaros cantavam, as flores estavam maravilhosas em suas belas cores. A imensa fonte jorrava sua água, assim como o vento bagunçava seu penteado.

Dimitri começou a levá-la por uma direção que ela não estava reconhecendo. O caminho estava completamente florido com rosas bravas e arcos de mármore. Ela sabia que aquilo não existia antigamente; estava curiosa para saber o que Dimitri iria mostrar para ela.

Dimitri parou abruptamente.

— Feche os olhos.

— Não acredito que vai fazer isso.

— Controle sua curiosidade.

— Certo.

Anastásia fechou olhos, contudo, Dimitri colocou suas mãos sobre os olhos dela.

— Não confia em mim? — perguntou indignada.

— Confio em você, mas não em sua curiosidade.

— Engraçadinho.

— Eu sei.

Eles andaram mais um pouco, até Dimitri tirar a mão dos seus olhos.

— Pode abrir.

Diante dela estava um monumento enorme com seus pais e todos os seus irmãos, até mesmo Darya. Seu pai estava em pé, os irmãos sentados, e sua mãe estava em pé na outra ponta. Todos estavam sérios, mas aquela era a imagem perfeita da felicidade. Aproximou-se mais, tocando em cada figura esculpida naquele monumento, como se estivessem vivos.

Logo, seus olhos se encheram de lágrimas. Sua família toda reunida mais uma vez.

— Isso foi um ato tão lindo, Dima.

— Foi a melhor coisa que eu poderia ter mandado construir.

— É tão lindo. Não consigo expressar em palavras o quão me sinto feliz e honrada em tê-los como minha família. — abraçou Dimitri com todo amor e força que tinha. — Eu amo você, Dima.

— Eu também amo você, Annie.

— É por isso que eu resolvi ter o meu filho na Rússia.

— O que está querendo dizer com isso? — afastou-se um pouco de Anastásia.

— Estou grávida, Dima.

— Meu senhor Deus! Seu marido...

— Ele sabe. Concordou em me deixar ter nosso filho aqui. Ele virá quando for o momento certo.

Dimitri a abraçou novamente.

— Como é bom tê-la aqui, minha irmã.

Anastásia abraçou ainda mais o irmão e sorriu.

— Como é bom estar em casa novamente.

A grã-duquesa perdidaWhere stories live. Discover now