29. Meus Demônios

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Inebriante, acho que essa é a palavra-chave para o que eu estava sentindo, como estava me sentindo. Entorpecido, adormecido, assim eu estava, sentia a água salgada envolver meu corpo como um abraço caloroso de um velho amigo, embora a água não estivesse exatamente quente.

As ondas acima de mim me moviam levemente para frente e para trás, eu sentia as profundezas do mar da Costa Oeste da Flórida me puxar, a pressão começando a exercer efeito sobre mim.

Eu estava a quantos metros de profundidade? Sete metros? Dez? Eu não sabia dizer, não tinha controle sobre meus sentidos, eu olhava para cima e via chamas dançarem através das ondas do mar. O cais estava completamente destruído, estava em chamas, e o material químico inflamável estava derramando na água, junto com o fogo. A praia estava, literalmente, sendo incendiada.

Tudo o que eu via eram borrões, pois estava me distanciando cada vez mais da superfície, estava sendo engolido pela escuridão. Meu peito ardia em angústia, também por estar enchendo meus pulmões de água salgada, mas, principalmente, a dor de ter fracassado mais uma vez com as pessoas que eu amava me consumia. Meus amigos estavam mortos, minha melhor amiga e minha namorada estavam desaparecidas, meu pai... Eu não sabia o que tinha acontecido com meu pai, e, àquela altura, não importava mais, eu estava exausto. Eu estava cansado. Apenas decidi abraçar a escuridão do fundo do oceano e deixar-me afogar naquela escuridão que tanto parecia me consolar.

"Não desista, Jason. Não desista."

Uma voz falou, baixa, quase inaudível, mas era uma voz calma, serena, ela era aconchegante, ela me envolvia como se tivesse braços e dançava ao redor do meu corpo, envolvendo-me em um calor que não havia sentido nunca antes, dissipando a fria escuridão, a bela dama de cabelos negros que tentava me puxar para baixo agora se afastava, triste.

Uma tempestade começou a se formar acima de mim, eu não conseguia enxergar muito bem, eu já estava perdendo a consciência, mas fui puxado para cima. Sim, puxado, definitivamente puxado. Um tornado se formou na água e me puxou para cima, quase como uma mão gigante, eu senti como uma ventania forte envolvendo meu corpo completamente, entrando pela minha boca e pelo meu nariz. Eu tossi, vomitei água do mar pura, eu estava despertando aos poucos, ainda com minha visão turva, mas conseguia ver o que estava acontecendo. Eu estava suspenso no meio do ar.

Exatamente. Eu estava flutuando acima da água do mar, ventos se formavam ao meu redor e secava rapidamente minhas roupas, eu fui lançado em uma corrente de ar na direção da areia e caí sentado, ao lado de Mel, que estava... controlando o vento. Sim, Melina havia descoberto seu poder e estava usando-o para me salvar e secar minhas roupas, além de criar ondas na direção do cais em chamas, para que a água do mar apagasse o fogo que consumia o cais.

Eu tossi mais ainda, com o gosto da água salgada em minha boca, o sabor era horrível, depois de parar de tossir, vi o cais que quase não estava mais em chamas e me lembrei do meu pai. Me levantei, tonto, e corri o mais rápido que pude, mas, a cada passo, eu parecia me distanciar mais do meu destino, eu rezei e roguei aos Céus para que não houvesse acontecido o pior.

Meu peito ardia em brasas, eu nem percebi que Mel corria logo atrás de mim, mas ela estava lá, ela tentava gritar alguma coisa que eu não conseguia compreender, nem queria, estava desesperado, apenas queria encontrar meu pai e abraçá-lo. Meu coração disparava e comecei a imaginar cenas horríveis de morte onde meu pai estava carbonizado ou desmembrado, cenas onde ele estava morto, com um olhar vazio, ou com os olhos fechados. Fechei os olhos e tentei espantar aquelas imagens da minha mente.

Mas e se ele estiver morto?

Eu não me permitia fazer aquela pergunta, não naquela hora, não naquele momento, o momento mais tenso de toda aquela guerra, para mim.

O Caçador - Crônicas dos Metamorfos (Vol. 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora