Capítulo Um - Construindo um castelo

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Meados de 74

Nasci em uma família não muito privilegiada, então tudo o que conquistei foi com muita luta. Não pude fazer uma faculdade, pois não tinha dinheiro para isso, apenas comecei a trabalhar muito cedo para ajudar meus pais em casa.

Já aos quinze anos meus dias se baseavam em estudar de manhã e à tarde trabalhar em um mercadinho de bairro de um amigo da minha família. Tudo era muito corrido, pois apesar de trabalhar bastante, meu pai era muito rígido com minhas notas, não me deixava tirar abaixo de 8,5, então a cada minuto de descanso, eu pegava meu caderno para estudar.

Um dia quando estava organizando alguns produtos em uma prateleira, fui abordada por um rapaz:

- Boa tarde, será que você pode me ajudar?

Quando olho para ele perco a fala, pois o rapaz é dono de um incrível par de olhos azuis e um sorriso de desconcertar qualquer pessoa. Seus cabelos são lisos e escuros que formam lindas ondas. O que mais fascina nele são suas covinhas, não consigo parar de olhá-las.

- Está me ouvindo? – ele tenta chamar minha atenção.

- Oh desculpe-me. Me distrai por um instante. – falo tentando disfarçar.

- Tudo bem... é que minha mãe está fazendo uma encomenda de bolo e pediu que eu comprasse confeitos, não tenho ideia do que é isso.

- Venha comigo que te mostro. Não temos muita coisa, mas deve ser o que ela precisa.

O levo para o corredor de doces, pego um saquinho de chocolate granulado para poder entregar em suas mãos.

- Está aqui.

- Ah, então é isso? Por que ela não me disse logo que era isso?

- No mínimo ela queria judiar de você. – comento rindo.

- Seu sorriso é lindo. – queria falar que o dele também, mas não podia fazer isso no meu local de trabalho, então só respondo um "obrigada" bem baixinho. – Bom, preciso ir que ela está me esperando. Você pode cobrar para mim.

- É, é claro... – o jeito com que ele me olha me deixa muito sem jeito...

- Obrigado linda.

Então ele se vai. A partir desse dia, o rapaz que eu nunca tinha visto, passou a frequentar muito o mercadinho. Teve algumas vezes que ele não tinha nada para comprar, então passava lá apenas para perguntar alguma coisa, como se lá tinha farinha de trigo, manteiga, ou fermento, oras, como não ter se ali era um mercadinho?

Tinha certeza que ele fazia isso apenas para me ver, mas eu preferia fingir que não estava entendendo o que estava acontecendo.

Depois de um mês de visitas quase que diárias, um dia ele se aproxima e me pergunta.

- Nunca perguntei seu nome.

- É Lourdes e o seu?

- André.

- É um prazer André.

- O prazer é todo meu. Lourdes, quer sair comigo?

- Como? – me assustei com a pergunta, não esperava isso dele.

- Gostaria de saber se você não estaria interessada em ir ao cinema comigo.

- Bom... É... bom...

- Desculpa, não queria te deixar sem jeito... Deixa para lá. – ele fala e se vira para sair.

- Não, por favor não se vá. É que meu pai é muito bravo. Não sei se ele permitiria.

Castelo de Areia | CONTOΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα