29 - De volta ao lar

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Abro delicadamente o livro vermelho. Nele havia nomes, procedimentos, registros dos mais diversos e várias anotações. A página em questão havia uma série de palavras russas sob o título "Inicialização".

Espalmei a mão sobre as folhas, aquecendo até que elas pegassem fogo. As chamas me feriram depois de eu voltar ao normal, mas ainda assim não soltei. Queria ver de perto tudo aquilo ir embora, aquele conjunto de palavras deixando de existir para sempre. Minha pele feriu tanto que senti os músculos enrijecidos, meu sangue manchou as folhas queimadas, e eu só soltei o livro no lixeiro quando até as pontas gastas da capa dura já haviam sido envoltas em chamas. Os sprinklers do quarto começaram a espirrar água em nós, mas nenhum dos dois se importou. Ele voltou a me abraçar enquanto os restos do nosso pesadelo queimavam até o final.


Três meses depois


Steve já estava novo em folha. Eu não sabia o que tinha naquele soro de super soldado, mas realmente era impressionante. A recuperação dele foi perfeita, e assim que pode sair do hospital, eu e Bucky nos preparamos completamente para vir pra Califórnia. Quando chegamos na rua onde cresci não soube dizer qual de nós estava mais deslocado.

A última vez que estive naquela rua, tinha acabado de ser a cobaia de Aldrich Lillian, modificada geneticamente para que meu filho se tornasse uma arma. No fim das contas, eu fui arrancada dele e de um relacionamento bagunçado e à distância com Steve, e quem se tornou a arma fui eu. Isso já tinha mais de sete anos, e muita coisa mudou nesse meio tempo.

Bucky se colocou na minha frente.

-Parece com medo.

-Um pouco nostálgica, talvez. Me sinto uma estranha voltando pra cá, mas é como se esse lugar fizesse parte de mim. Estranho, não é? – suspiro. O jardim dos Woolford à nossa direita voltara a ser bem cuidado – Vamos, eles estão nos esperando.

-Não consigo me imaginar em uma situação mais incomum – ele comenta, perto da escada de entrada da casa – Parece que estou indo conhecer os seus pais, mas sabemos que seu pai me conhece.

-Eles são como pais pra mim sim, mas não se preocupe. São mais inofensivos do que Tony. Exceto Sierra, talvez – pondero, tocando a campainha da casa. Bucky enfia as mãos nos bolsos e encolhe os ombros, com um nervosismo aparente. Eu seria uma pessoa ruim se achasse isso engraçado?

A porta se abre e um Scott sorridente aparece.

-A filha pródiga à casa torna – diz, me puxando para um abraço – Quanto tempo, Katherine! Temos muita coisa pra conversar.

-É, temos sim – puxo Bucky mais pra perto da porta pelo ombro – Este aqui é Bucky Barnes.

Os dois apertam as mãos e Scott nos incentiva a entrar. Encontramos Sierra na sala de estar, e ela também nos saúda de forma amistosa. Tudo lindo e perfeito, até nos sentarmos para explicar o que tinha acontecido desde a última vez que eu estive ali. Jason parecia ter deixado todas as partes interessantes de fora da versão resumida. Observei o rosto dos Woolford se alterar completamente, de curiosidade para surpresa e depois pânico, que foi melhor disfarçado por Scott do que por Sierra.

"Hey, somos super assassinos com lavagens cerebrais. Seremos vizinhos". Não devia ter sido fácil de se escutar, mesmo com todo o eufemismo e adoçante da explicação.

-Katherine, querida – Sierra diz com uma voz trêmula – Podemos conversar com você por um momento?

Scott me dirige um olhar sério e incisivo.

-Eu volto logo – digo à Bucky, seguido de um beijo, e acompanhei o casal até o escritório.

Sierra agarrou meus ombros com os dedos finos e os olhos arregalados me encarando fixamente.

Pequena Stark IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora