— E quando será isso? — perguntou ela tentando soar indiferente.

— Logo...

— Me disse a mesma coisa há dez meses, Jean! — lembrou sem conter a irritação. — Qual é o problema? É só ficarmos noivos, não precisamos marcar já a data do casamento, Jean! É só darmos mais um passo e...

— Está bem, princesa! Vamos falar disso quando eu voltar, pode ser? — perguntou puxando a garota ainda nua para um abraço, deixando escorregar uma das suas mãos para as nádegas de Dora. — Hein? — insistiu, e sem lhe dar tempo para qualquer resposta, a beijou às pressas, empurrando-a para cama enquanto abria o zíper da calça.

Dora sabia o que o namorado estava fazendo, mais uma vez calava suas objeções com sexo. Era sempre assim, desde o início do relacionamento, de certa forma, Dora se acostumara, pois toda vez que ela o lembrava das suas expectativas para o noivado, ele a levava para cama. Suas amigas a confortavam dizendo que o rapaz devia ter medo de dar tamanho passo, como tantos outros homens que fugiam do casamento, e era nisso que ela também acreditava.

Noivar, casar e ter filhos com Dora, era certamente o maior sonho de Jean, mas correr o risco de ser descoberto pelos pais da namorada, a influente família Parkson, estava fora de cogitação.

Jean mal completara seus vinte e quatro anos, e todos acreditavam, inclusive Dora, que ele administrava sozinho o patrimônio que o pai irlandês lhe deixara, o que justificava tantas viagens para Irlanda, além do conforto ostentado pelo rapaz.

Há muito tempo, o dinheiro deixara de ser um problema para o rapaz, mas expor suas fontes não era uma boa opção.

A verdade é que Jean Barrys, aos seus quinze anos, fugiu da casa de seus pais adotivos, e conheceu, num café em que começou a trabalhar, um velho irlandês que viera à cidade à negócios. O homem, chamado Escobar Golasks, com mais de cinquenta anos na ocasião, se encantou com a beleza do rapaz e logo se declarou apaixonado, assim, ofereceu-lhe o mundo caso se relacionasse com ele.

Embora receoso, Jean foi seduzido pelos presentes caros e pela vida farta que aquele homem poderia lhe proporcionar. Jean partiu para a Irlanda, onde a relação durou quase seis anos, e só acabou porque o irlandês adoeceu gravemente e faleceu, mas não sem antes passar para seu jovem amante tudo aquilo que julgou ser de direito e por merecimento pelos anos felizes proporcionados por Jean.

Foi após a morte de Escobar que Jean retornou aos Estados Unidos e passou a se referir a ele como pai, justificando assim tudo o que o amante lhe havia deixado, adotando a partir daí o seu sobrenome: Jean Golasks.

No entanto, Jean não possuía qualquer dom para os negócios, assim como não via outras opções para ganhar mais dinheiro, a não ser por meio de novos amantes. Foi assim que o rapaz se tornou, como seus clientes gostam de chamar, um acompanhante de luxo.

Jean atendia tanto homens quanto mulheres, fossem eles jovens ou mais velhos, assim como solteiros e casados. Desde que lhe pagassem o preço requerido, não recusava ninguém, se colocando à disposição para viagens breves e até mesmo de grandes temporadas.

O rapaz sabia que nem Dora, nem sua família, aceitariam sua forma de ganhar a vida, por isso, há meses buscava uma forma de construir algo mais sólido, um negócio qualquer, mas que justificasse seus ganhos. No entanto, Jean não possuía nenhuma formação, nem interesse ou vocação para mais nada que não fosse a vida que levava. Tudo que contara para a família Parkson era uma mentira, assim como tudo que lhes mostrara era falso. E Jean precisava torná-los reais antes de oficializar seu noivado, para evitar que, após o evento, viessem a especular a sua vida ou mesmo que suspeitassem de algo.

Quando os Pássaros Pousam e Outros Contos PsicopáticosWhere stories live. Discover now