Capítulo 51

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– Eu estou bem! – forcei a minha voz a sair alta, mas o som pareceu esquisito com uma ponta de rouquidão. – É só uma gripe. – insisti, me encolhendo no sofá, cobrindo melhor o meu corpo com meu cobertor.

– Já faz dias que essa gripe só piora, Katniss. Você precisa de um médico. – disse Madge, em tom preocupado.

– Enquanto eu estiver conseguindo me manter em pé para dar aula, não preciso de um médico. – retruquei. – Só estou deitada agora, porque estou aproveitando da minha semana de folga para me acomodar em meu precioso sofá.

– Não me venha com essa. Desde o dia seguinte a chuva que você tomou, quando não estava na escola, estava deitada em qualquer canto do apartamento. – disse ela, claramente nervosa com minha resistência. – Me diz o que você está sentindo, pelo menos.

– Dor de cabeça, por você falar demais. – retruquei de mau humor, sentando-me com certa dificuldade. – Se eu sentir que estou à beira da morte, eu te aviso, e você me leva ao hospital. – dei um sorriso sarcástico.

– Que horror. – Madge fez uma careta, mas não pareceu se importar com a minha má educação. – Comeu alguma coisa hoje? – indagou, sentando-se ao meu lado.

Quando pensei em responder, meu celular apitou sobre a mesa de centro, fazendo meu estômago dar uma cambalhota completa, deixando-me enjoada.

– O que foi? – ela perguntou, talvez notando meu olhar congelado no aparelho.

Respirei fundo, e soltei todo o ar pela boca, antes de pegar o celular, certificando-me que eu estava mais do que certa sobre quem era o dono da mensagem.

– É o Peeta? – Madge perguntou, enquanto eu encarava a tela, que começava a escurecer pela minha demora para desbloqueá-la.

Afirmei silenciosamente com a cabeça, colocando as pernas sobre o sofá, e as dobrei, deixando os joelhos na altura do peito. Soltei o celular sobre meu colo, deixando-o ser amparado por meu cobertor, que ainda cobria minhas pernas.

– Quando você brigou com a Annie, você mantinha o celular desligado... – ela comentou duvidosa.

Suspirei, e fitei a televisão, que passava Tom e Jerry.

– Um dia depois que terminamos, ele pediu para conversarmos. Ele quis saber como eu estava... Nisso ele notou o início da minha gripe. – comecei a explicar, ainda com os olhos parados no desenho animado. – Como eu pedi para que ele me deixasse em paz, e ele prometeu que o faria, me surpreendi com um mensagem dele no dia seguinte, perguntando se eu estava melhor. Eu demorei um tempo encarando o celular, e quando pensei em voltar a desliga-lo, foi como se ele lesse meus pensamentos, mesmo estando longe. Ele me mandou outra mensagem dizendo que se eu não o respondesse, ele bateria em minha porta, até que eu me cansasse da insistência dele, e acabasse abrindo. Então eu disse que estava bem, mas minha mentira não durou muito. Ele não me parava pelos corredores da escola, mas sempre passava por mim, me estudando como se conseguisse ler cada pedacinho de mim. Então ele continuou a me mandar mensagens só perguntando se eu estava melhor da gripe... E eu continuei a mentir, dizendo que estava bem. Com certeza ele sabe que não estou sendo sincera, mas acho que ele encara como um sinal de "ela ao menos está viva", então não insiste em prosseguir com uma conversa, talvez imaginando que eu não o responderia mais.

Madge permaneceu calada depois do meu relato, e eu não fiz questão de olha-la.

Ele não estava facilitando em nada minha decisão de nos mantermos longe, demonstrando tanta preocupação, mas eu preferia responde-lo por mensagem, do que ter que encarar aqueles olhos azuis tão de perto.

O Sol em meio à tempestadeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora