Nada está tão ruim que não possa piorar

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—A Eve veio me fazer uma incrível visita. Não é mesmo, queridinha?

A garota era bizarra. Mais bizarra do que eu ainda me lembrava. Eve era a sobrinha de Claire, filha do seu irmão George. Uma vez por mês ia para sua casa e ficava o fim de semana. Ela deveria ter uns seis anos, mas fazia os dias da tia uma aventura. Se é que você me entende.

—Quando você vai para Princeton? -perguntei ansiosa.

—As aulas só começam daqui a duas semanas, mas preciso organizar as minhas coisas dois dias antes para a Lambda Chi Alpha.

—Não tinha um nome mais fácil pra essa coisa?

Minha amiga era uma daquelas criaturas fascinadas por fraternidades universitárias. Ela sonhava em ser de uma fraternidade já que a sua mãe também foi.

Uma fresca.

Pra mim essa frescura de fraternidade era só para mostrar o fracasso que aquelas patricinhas eram. Oras, quem não sabe que nestas casas moram meninas loiras, burras e idiotas?

Mesmo que Claire seja inteligente nada muda a minha concepção de fraternidades.

—Qual é Cami, você sempre soube que o meu sonho é estar em Princeton na mesma fraternidade que minha mãe, então guarda esses comentários azedos pra você.

—Ai, esquentadinha. Está bem. Não vou me pronunciar.

Ela bufou e expulsou a Eve do quarto.

—Mudando de assunto, eu preciso te confessar uma coisinha: eu vou matar a Eve.

—O que? Nossa. Como você é malvada Claire Santiago.

Suspirando do outro lado minha amiga começou a gesticular.

—Se você estivesse no meu lugar, já teria fugido daqui. Ah amiga, eu vou sentir tanta saudade.

—Eu também Claire. Eu também.

—Espero que venha me visitar nas férias.

Sorri. Era claro que iriamos nos ver nas férias. Claire e Camila não podem ficar muito tempo separadas.

—Na verdade poderíamos viajar! Sei lá. Pretendo fica alguns dias com a minha mãe, mas eu acho que já está na hora de conhecer lugares novos.

—Diz a garota que vai sair do Arizona pela primeira vez e morar na Califórnia.

—Na verdade eu quero sair. Conhecer o mundo. Começar por lugares mais perto como Nova Iorque ou até mesmo ir ai em Nova Jérsei –falei.

Ela pigarreou.

—Não minha querida. Eu quero sair de Nova Jérsei e ir para a Califórnia. Você vai ter que me aguentar ai, por que pretendo conhecer as praias do lugar onde você vai morar.

Argh. Será que minha amiga poderia ser menos irritante?

—Você sabe que odeio praia.

—Então ta bom. A gente vai pra Nova Iorque.

—Espero conseguir juntar um bom dinheiro até lá.

E esperava mesmo. Pretendia me matricular para realizar algum trabalho em Stanford. Não conseguiria juntar dinheiro com a mesada que minha mãe me dá. Até porque minha bolsa na universidade só cobre as despesas básicas como: refeições, alojamento e auxílio material.

E por falar em alojamento... Eles estão demorando a me informar se consegui um alojamento nos arredores da faculdade ou mais longe. Por que lá você tem duas opções: ou você é muito sortudo e vai para um alojamento dentro de Stanford ou consegue algum apartamento pequeno na cidade e por ser bolsista tem as suas despesas pagas.

Era óbvio que eu preferia morar no alojamento, já que ele fica dentro do campus e tornará a minha vida muito mais fácil.

—E a terra chama Camila Cooper –percebi meu nome e olhei para a tela do notebook.

—Hã?

—Olha amiga vou confessar que as vezes que morro de medo dessas tuas divagações.

—Cala a boca.

A garota riu do outro lado.

—E desse jeito você só vai assustar as pessoas lá na Califórnia. Cami, você não pode ser normal.

Argh. Por que minha melhor amiga tinha que fazer observações totalmente desnecessárias?

—Queridinha, sinto muito te informar, mas essa tua cara de Anabelle é mais assustadora que o meu silencio.

—Ouch, pegou pesado agora.

"Claaaaaaire. Eu já disse pra deixar a Eve brincar com as suas barbies". –Tia Lillian (sua mãe) gritou e não parecia estar muito feliz.

—Aquela merdinha me paga –reclamou minha amiga.

"E não chama a sua sobrinha disso".

—Acredita que a Eve se faz de vítima pra minha mãe? Argh.

—Aham. Posso acredita, até porque alguma coisa ela puxou da tia.

—Tchau Camila. E não, eu não me faço de vítima. Eu sou a vítima.

Viu! É exatamente a isto que me refiro.

—Está bem Anabelle. Te vejo antes de viajar.

—Tchau amiga.

Desligamos a web juntas.

Ah vida... O que eu vou fazer sem a Claire por perto? Provavelmente ler e assistir filmes, porque é essa garota que deixa a minha rotina mais agitada.

Passei as últimas duas horas assistindo Pretty Little Liars (PLL para os mais íntimos), fui até a cozinha comer mais Ruffles com barbecue (porque né...), voltei, escovei os dentes e dei uma última olhada nas minhas atualizações na internet.

Havia um e-mail com o título "Hospedagem em Stanford". Ansiosa, cliquei e depois de ler pensei...

What fuck?

A seguinte mensagem me deixou sem chão, com as bochechas vermelhas e respirando enraivecida como Darth Vader.

"Prezada Srtª Cooper, venho por este e-mail informar-lhe que você foi aprovada no sorteio de ingresso na fraternidade Zeta Beta Zeta.

O ano letivo começará no dia 01/03, portanto pedimos que esteja pelo menos uma semana antes no campus para que possa organizar-se da melhor maneira possível.

Lhe aguardamos, atenciosamente Aurélia Slin."

As luzes do meu abajur já não faziam sentido iluminando o quarto. Eu queria pular na tela do computador e arrancar aquele e-mail da minha caixa de mensagens, mas minha única reação foi gritar.

—NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!

Sonho InversoWhere stories live. Discover now