Visitados por algo poderoso

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A mais ou menos 5 anos, nos interessamos pelo oculto, sabe como é, algumas garotinhas de 12 anos entediadas e sem nada para fazer.
Começamos com coisas bobas, brincadeira do copo, brincadeiras com espelhos e velas em quartos escuros, ficar no escuro absoluto e falar algumas coisas, enfim, coisas bem leves.
Era o nosso mundinho secreto. Ninguém de fora da nossa pequena roda sabia o que fazíamos e assim nos sentíamos especiais.
O tempo foi passando e fomos nos aprofundando no oculto, mas sem centralizar em algo, vendo um pouco de tudo.
Víamos coisas de *Wicca, satanismo, espiritismo, o que tivesse algo de sombrio e oculto, interessava a gente.
A Internet sempre ajudou muito, trazendo muita coisa que não achávamos em lugares de fácil acesso (você não encontra literatura de como invocar espíritos ou fazer poções na Saraiva).
Nunca nos focalizamos em algo específico, o oculto era a nossa crença, tudo o que fazia parte dele.

*[Wicca é uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como a magia) e os princípios físicos e espirituais masculinos e femininos que interagem com a natureza, e que celebra os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano].

Até hoje lembro do nosso primeiro "ritual sério" que fizemos.
Trajes apropriados, adagas, pequenos cortes nas mãos, sangue, fogo, palavras estranhas a serem ditas, poções a serem bebidas.
Foi tudo muito mágico, especial.
Não aconteceu nada do que esperávamos que aconteceria, para falar a verdade não aconteceu nada de nada mesmo.
Foi algo mais psicológico, do que real.
A gente sabia que não tinha acontecido nada, mas a gente sentia que depois daquilo tudo a gente já não era mais três menininhas brincando de bruxaria. Foi uma espécie de uma festa de debutante, simplesmente não éramos mais as mesmas. 
Depois daquele ritual, começamos a fazer outros.
Seguíamos datas específicas e certas fases da Lua ou posição do Sol para alguns, outros fazíamos quando tínhamos vontade, alguns até inventamos, apenas seguindo o que parecia ser o certo a fazer. O importante mesmo era que fizéssemos tudo juntas.

Com o tempo os rituais se tornaram normais em nossas vidas, e acabamos criando a nossa própria religião, que era como uma colcha de retalhos de várias religiões, abrangendo tudo o que fizesse parte do oculto, e o que parecesse certo para nós. 
Certa noite eu tive um sonho. Eu sonhava que estava em uma floresta densa, cheia de árvores.
Era noite e eu estava perdida nela.
Depois de vagar por algum tempo na escuridão eu consegui ver uma clareira com uma fogueira, e fui naquela direção.
Quando cheguei lá, tinha o que parecia ser um homem, embaixo de um tipo de cobertor.
Ele estava sentado de costas para mim, de frente para o fogo.
Apesar do barulho da floresta, eu conseguia ouvir a respiração pesada dele.
Eu tentei me aproximar dele, mas não conseguia me mexer.
Então ele se levantou, ainda coberto pela manta.
Ele era enorme, tinha fácil mais de dois metros.
Então, do nada, o fogo apagou.

A floresta tinha mergulhado no breu de novo.
Então a respiração daquele ser começou a ficar mais forte.
Pelo barulho deu para perceber que ele estava se aproximando.
Eu não conseguia me mexer. Estava assustada, mas não sentia que corria perigo.
Quando ele estava ao que parecia ser três passos de mim, ele começou andar para o meu lado, me contornando.
Ele parou quando ficou atrás de mim, a uns dois passos.
A única coisa que eu ouvia era aquela respiração forte agora.
Parecia quase um cavalo respirando depois de uma corrida.
Então ele foi se aproximando, e chegou tão perto que eu podia sentir a respiração dele na minha nuca. Depois disso eu acordei. 
Aquele sonho ficou na minha cabeça, eu não conseguia parar de pensar nele.
Será que tinha sido alguma entidade que me visitou durante o sono? parecia tão real!

Aquela noite tinha sido numa quarta-feira.
Na sexta-feira a Juliana perguntou se queríamos ir para o sítio que a família dela tem no interior de São Paulo.
Por falta de algo melhor para fazer acabamos indo para lá mesmo.
Não ia mais ninguém além da gente e do irmão mais velho da Ju (que por acaso é quem levaria a gente para lá).
Então preparamos as nossas malas, não esquecendo as nossas velas, cristais, adagas e coisas do gênero, e fomos para lá. 
Chegamos lá na Sexta a noite. Nós quatro ficamos lá conversando e jogando conversa fora numa boa.
Depois de um bom tempo fomos dormir.
O dia seguinte foi uma beleza, sol o dia todo, piscina, um macarrão vegetariano bem levinho no almoço, um pouco de bronzeamento a tarde, uma maravilha só. Mas quando o Sol começou a se por, um monte de nuvens começou a juntar. 
Fomos tomar banho e preparar algo para jantar.
Quando eu sai do banho a Juliana falou que seria só nós três durante a noite, pois o irmão dela tinha saído para a cidade para curtir o final de semana do jeito dele.
Era justamente o que queríamos. Um tempo só para nós, garotas, para falarmos e fazer o que quiséssemos.

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