Ela viu que eu entendi o que quis dizer e sorriu, de novo.

— Viu? Não está tão sozinha quanto pensa. Mas não pretendo ameaçar ninguém, ainda. Vai me escutar sem ficar gritando e me interrompendo, agora?

Seu olhar, antes intenso agora tinha um ar de superioridade irritante. Fiquei imóvel no mesmo lugar, cerrando os punhos com força e ignorando o nó na garganta seca que já começava a arder.

— O que eu tenho que fazer?

Diana me conseguiu em suas mãos exatamente como queria, e sorriu ainda mais com isso.

— Estive falando com Prophecy, e ela previu duas possibilidades de futuro. Um, pacífico e agradável, onde humanos e dragões podem voltar a conviver em harmonia. O outro, é o oposto, as duas espécies vão continuar a lutar até que se destruam por completo. No entanto, o primeiro só será possível com uma condição, e mesmo assim, não é certo, sabe como é, a Deusa da Profecia não pode prever uma certeza.

— E que condição é essa?

Diana me ignorou.

— Para proteger a existência de vocês, nossos servos, Daiva e eu elaboramos um plano. E você faz parte dele.

— O quê? Por que eu?

— Como disse, você tem um raro dom. Outros como você vieram ao mundo, pessoas destinadas a algo maior. Infelizmente, nem todas sobreviveram e é por isso que tivemos de fazer vários testes, ao longo de sua vida, até o último, duas noites atrás. Você passou em todos. De onde você acha que veio o seu desejo de aprender e praticar magia? Fui eu que coloquei isso em você ao encontrar aquele livro. Vai precisar de magia, aqueles que não a tiveram, não viveram por muito tempo. Talvez você não se lembre, pois os humanos baniram a prática de feitiços há séculos, mas eu também sou a deusa que representa a magia.

Senti os pelos dos braços e da nuca ficarem arrepiados. Como ela podia falar esse tipo de coisa de forma tão natural?

— E o que eu preciso fazer? Diga logo.

— Quero que encontre Crysanthia.

Tentei conter, mas não consegui resistir à vontade de rir, mas foi uma risada cética, sem graça ou alegria.

— Você está brincando comigo, não está? Ninguém sabe onde a Pedra de Chronos foi parar. Dragões e Deuses já procuraram por ela, por que pensa que eu a encontraria?

— Como disse, você tem um dom, e vai usá-lo para tal. Além disso, ela precisa ser achada por um humano, ninguém mais poderia, aprendemos isso. Desde seu sumiço, ela está nas mãos de um de vocês, e deve ser reavida por um semelhante.

— Crysanthia sumiu séculos atrás, por que ainda estaria nas mãos de alguém? Não tem como. Ela já deve ter se perdido.

— É claro que sim, ela possui poderes do próprio Deus do Tempo. Essa é a sua missão. E enquanto isso, pode ir diminuindo a aversão entre humanos e dragões.

Muito simples! Acabar com uma rivalidade que dura séculos, acumulando desejo de vingança e ódio há gerações. Isso é ridículo. Certamente a parte fácil será encontrar a porcaria da pedra.

Um feixe de luz cortou o céu por um segundo, seguido por um estrondo que reverberou a terra. Diana olhou para cima com olhar entediado.

— Haja paciência, aqueles dois estão brigando de novo...

Ela se referia aos deuses gêmeos Lyor e Tyra, representando o raio e o trovão, sempre que começava a trovejar era porquê estavam discutindo. Começou a ficar mais frio, estava quase certa de que choveria. Puxei a capa para me proteger, mas não fez muita diferença.

— Preciso ir, agora. Em breve irá amanhecer. Estarei de olho, e tentarei ajudar, se for possível, mas é melhor tomar cuidado e usar toda a ajuda que puder, ou acabará com o mesmo destino dos que falharam.

— E se eu não quiser? Ou se eu não conseguir encontrar?

— Além de não ter utilidade para mim, sua família e todos em sua vila terão morrido em vão. E você também terá de conviver com o fardo de dispensar a possibilidade de acabar com a guerra entre duas espécies e salvá-las da mútua destruição. A escolha é sua.

O sorriso arrogante dela cresceu e ela sumiu ao estalar os dedos.

As densas nuvens cobriram o céu, em pouco tempo, gotas de chuva começaram a cair sobre mim.

Cambaleei até a árvore mais próxima, meus membros tremiam e eu já não tinha forças para mais nada. Caí sentada, apoiando as costas no tronco. Puxei os joelhos contra o peito e me abracei. A chuva fina foi se intensificando, mas não me importei em ficar encharcada, não consegui fazer nada além de chorar, meus soluços foram tão altos que abafaram os sons dos trovões, logo comecei a ficar tonta e com dor de cabeça.

Eu estava quente e vazia ao mesmo tempo, me sentia tão pequena e insignificante. Não queria seguir nessa missão idiota e complicada. Não queria sequer me mexer. Eu só queria sumir, desaparecer... Eu estava sozinha agora. A verdade doía muito, doía tanto... Eu não queria mais seguir adiante.

Foi a primeira vez que chorei a ponto de perder a consciência.

Selene e o Dragão {Degustação}Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz